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Atletas estrangeiros que vão disputar os Jogos veem duas faces do Rio

Um monge budista canoísta, de chinelo e bermuda, surpreende-se com as belezas naturais e as desigualdades da sede da Olimpíada.

Um iatista suíço dorme dentro de um mosquiteiro para fugir do mosquito transmissor do vírus da zika e toma "banho" com loção especial após os treinos na baía de Guanabara, para evitar contaminação.

Eles fazem parte de um grupo de dezenas de atletas estrangeiros que passaram as duas últimas semanas treinando pelo Rio em busca de uma medalha na Olimpíada e que experimentaram problemas e alegrias da cidade.

Ricardo Borges/Folhapress
Rio de Janeiro RJ,BRASIL, 07/07/2016; O monge budista e canoista, Kazuwi Yazawa, 27 participa de sua terceira olimpiadas. Fotos de Atletas estrangeiros de canoagem Slalon que ja estao no Brasil para treinar. (Foto: Ricardo Borges/Folhapress. ) *** EXCLUSIVO FOLHA***
O canoísta Kazuwi Yazawa, 27, participa de sua terceira Olimpíada

Personagem raro no mundo dos Jogos, o monge japonês Kazuwi Yazawa, 27, teve rotina de suburbano carioca, como a maioria dos canoístas que estiveram até sexta (8) nos treinos abertos no circuito olímpico da modalidade.

Eles testaram a corredeira artificial construída em Deodoro, a região mais carente envolvida no evento, e encontraram pouco tempo para curtir os cartões postais.

Hospedado num shopping vizinho do Complexo do Alemão, na zona norte, o monge-canoísta encarou o "imprevisível" trânsito da avenida Brasil no trajeto para treinar, escutou do seu quarto os tiros das favelas dos arredores e atravessou a cidade para relaxar na praia nos raros momentos de folga.

"Ouvimos muito sobre a violência do Rio, mas não testemunhei nada. Ficamos quase o tempo inteiro no hotel e nos sentimos protegidos", disse Yazawa, que disputará sua terceira Olimpíada, a primeira após se tornar monge.

Apesar de elogiar a receptividade carioca, ele não escondia o desconforto com a desigualdade. Da janela de seu quarto, avista as favelas do Alemão. "É difícil falar alguma coisa. Só posso dizer que aquelas pessoas têm que lutar pelos seus direitos".

Mesmo sem saber português, os japoneses se espantam com a violência vista nos noticiários. Depois do almoço de sexta (8), comentavam a execução de um homem no estacionamento de um shopping em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense.

As imagens de dois homens vestidos com camisas falsas da Polícia Civil atirando haviam sido exibidas pelos telejornais no dia anterior. "Aquilo foi impressionante", disse Yaki Yazawa, 24, que é irmã do canoísta e também integra a equipe.

"Às vezes, escutamos barulhos bem alto de madrugada no nosso quarto. Seriam fogos ou tiros?", questionou.

A praça de alimentação de um shopping próximo a Deodoro foi usada pelo grupo nos últimos dias como um centro de treinamento improvisado.

Lá, eles almoçavam, se reuniam com os treinadores para analisar os vídeos das sessões e se recuperavam fisicamente entre os treinos.

A delegação alemã de canoagem ficou ainda mais longe dos cartões postais. Eles se hospedaram em Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense.

"Os brasileiros com que tivemos contato são bons. Mas é triste ver pessoas morando debaixo da ponte, garotos jogando bola na rua sem sapatos. Espero que os Jogos ajudem essas pessoas de alguma forma", disse Jan Benzien, 33, que vai disputar a sua segunda Olimpíada.

"Ninguém foi vítima da violência, mas o nosso treinador presenciou, em maio, um motorista sendo assaltado por um grupo. Isso nos impressiona", acrescentou.

Iatistas estrangeiros também treinam, há duas semanas, as regatas nas raias olímpicas da baía de Guanabara. A poluição não é o único "desafio carioca". Suíços instalaram mosquiteiros nas camas contra a dengue e a zika e passam uma loção especial para "eliminar bactérias e vírus" quando deixam a água.

"Temos que tomar todos os cuidados porque ninguém pode ficar doente na competição. Se ficar fora de uma regata, o atleta pode perder a chance de ganhar medalha", disse o técnico Sebastian Peri Brusa, da delegação suíça.

NOITADA

Apesar da rotina puxada, os atletas aproveitam o Rio. Nas horas de folga, visitaram praias, o Pão de Açúcar e o bairro boêmio da Lapa.

"As montanhas são fascinantes. Cheguei a subir na Pedra Bonita, mas não tive coragem de pular [de asa delta]", disse Benzien. "Gostei também de ver a alegria da Lapa. Cheguei a beber caipirinha, que é uma delícia".

Os iatistas também estão adaptados ao ritmo brasileiro. Treinando em Niterói, vizinha ao Rio, eles vão correndo diariamente para o clube.

"Temos tudo aqui. Além disso, aproveitamos os restaurantes da cidade e a vista que é bem bonita", contou a polonesa Irmina Mrózek.

"Aqui é tranquilo. Mas já ouvi dois tiros quando estava lavando o barco. Não avisei a minha mãe sobre isso", disse a alemã Victoria Jurczok dando uma discreta risada.

Os canoístas japoneses gostaram da praia da Barra da Tijuca. "Não estamos aqui para nos divertir, mas aquela praia é muito boa. Quando temos tempo, gostamos de relaxar lá", disse Haneda.

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