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OPINIÃO

Laerte conduz a tocha em SP e lança luz sobre transgêneros no esporte

Sabrina Sato deve carregar a tocha olímpica no domingo, em São Paulo. Vão aparecer muitas pessoas interessadas em vê-la, que darão cliques nas fotos na internet. E também muitas críticas pela escolha de mais uma celebridade para participar do evento.

Tanto faz de que lado você está ou se nem liga pra isso. Devia prestar mais atenção em quem entregará a tocha para ela no bairro de Sumaré (zona Oeste). Laerte. Cartunista da Folha. Transgênero.

É mais uma imagem forte em um revezamento que foi notícia por convidados discutíveis, tombos, morte de onça, mas também trouxe para o mundo olímpico, para um evento assistido pelo mundo todo, temas importantes.

O roteiro do "esquenta" dos Jogos Olímpicos do Rio escolheu alguns condutores que chamaram atenção para questões que ainda são sensíveis e precisam ser discutidas.

Maria da Penha, a mulher que batiza a lei que visa coibir a violência doméstica, carregou a tocha e recebeu o fogo de uma das mãos de Juliana de Faria, ativista e fundadora da ONG Think Olga. No mesmo momento em que MC Biel foi cortado da festa após ter sido acusado de assédio por uma jornalista.

Junto dela estavam ativistas de organizações que trabalham com direitos das mulheres, dos jovens e das crianças.

Em Salvador, Creuza Maria Oliveira, ativista na luta pelos direitos das trabalhadoras domésticas, entregou a chama para Luislinda de Valois Santos, mulher de infância pobre que se tornou a primeira mulher negra no Brasil nomeada juíza, mais tarde desembargadora.

Ter Laerte como condutora da tocha lança luz sobre outro tema atual, ainda controverso também no esporte. Principalmente em um país em que atletas homossexuais ou "suspeitos" ainda são hostilizados, principalmente no futebol.

Bruno Poletti/Folhapress
A cartunista Laerte, que carregará a tocha olímpica neste domingo (24)
A cartunista Laerte, que carregará a tocha olímpica neste domingo (24)

A escolha reforça uma posição adotada pelo COI (Comitê Olímpico Nacional).

A entidade relaxou as recomendações sobre a participação de atletas transgêneros nos Jogos, tornando a Olimpíada ainda mais inclusiva.

Os médicos da entidade disseram que as medidas foram tomadas para adaptar suas regulamentações às mudanças científicas, sociais e legais relativas ao assunto.

Antes, um transgênero precisava passar por cirurgia e dois anos de terapia hormonal para poder competir em eventos de seu novo gênero.

Agora, mulheres que decidirem viver como homens estão automaticamente aptas a disputar eventos masculinos, sem necessidade de operação ou tratamento.

Já os homens precisam provar que seu nível de testosterona ficou abaixo de um patamar determinado pelo período de um ano. Depois disso, podem competir em provas femininas.

A distinção faz sentido. A testosterona é o principal hormônio masculino. Ele tem uma função anabólica, atuando no crescimento de músculos e ossos e no desenvolvimento de diversos órgãos. Homens têm níveis de testosterona mais altos do que mulheres. Um transgênero, portanto, poderia levar vantagem em uma competição feminina.

A medida foi um avanço tremendo na busca por um esporte menos excludente.

E quando Laerte passar a chama olímpica para Sabrina Sato, isso também será lembrado e ficará registrado.

Editoria de Arte/Folhapress
TOCHA EM SÃO PAULOTrajeto que será percorrido no revezamento
TOCHA EM SÃO PAULOTrajeto que será percorrido no revezamento
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