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Nadadores 'enganam' o corpo com óculos para adaptação em provas noturnas

Com provas marcadas para começaram a partir das 22h na Rio-2016 devido à pressão de redes de TV norte-americanas, os atletas da natação brasileira tem tomado atitudes para adaptar o corpo para o horário incomum. O fisiologista Marco Túlio de Mello, que encabeça projeto conjunto entre o Comitê Olímpico Brasileiro e o Instituto do Sono, tem adotado o uso de equipamentos para "enganar" os corpos dos atletas para diminuir o cansaço dos treinos e, posteriormente, das provas.

Desde quarta-feira (27), eles têm usado óculos de luz no final da tarde e óculos escuros logo depois dos treinos. A ideia da luz é fazer com que o corpo "pense" que ainda é dia e manter a temperatura do corpo elevada, assim afastando o sono. Já os óculos escuros reduzem mais rápido o efeito despertador da luminosidade sobre os olhos.

"A situação é 'sui generis' no Brasil: nunca tivemos uma competição que se iniciasse às 10 da noite e se estendesse até uma da manhã. Fisiologicamente, o corpo está se preparando para dormir no período noturno. Todos os atletas serão prejudicados, não somente os brasileiros. O que estamos fazendo, então, é tentar atrasar o horário biológico dos atletas em três horas, estendendo a curva de temperatura corporal até meia-noite", explica Mello.

"Os óculos dão um banho de luz, basicamente, fazendo com a temperatura do corpo continue alta e o sono atrase. Ontem, alguns nadadores ficaram em uma sala de luz, que tem o mesmo efeito e já é conhecida há tempos. Os óculos trazem praticidade", afirma, acrescentando que a delegação de handebol, que jogará pela manhã, fará trabalho com os mesmos equipamentos, mas com o objetivo de adiantar a atividade do corpo. Cada óculos de luz, importado de Estados Unidos e Austrália, custa cerca de US$ 300 (cerca de R$ 985), e costuma ser utilizado por trabalhadores que lidam com a escuridão, como motoristas noturnos ou mineiros.

Os atletas, que usam os óculos de luz por cerca de trinta minutos a partir das 19h de todos os dias, veem com bom humor as novidades.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

"Eu brinco que estamos vivendo um sonho de criança: estamos acordando 11 da manhã, jantando 11 e meia da noite, dormindo duas da manhã. No meu caso, que vou ser o atleta que mais vai disputar provas da equipe brasileira, é muito importante dormir o mais cedo possível para me recuperar para o evento seguinte", diz Nicolas Oliveira, 28, que disputará sua terceira Olimpíada.

Outro equipamento implantado pela equipe de Mello é a luva de resfriamento, utilizada depois de treinos e provas. Ela diminui rapidamente a temperatura corporal, fazendo com que o corpo chegue ao estado de sono.

"A finalidade da luva é diminuir a latência do sono, ou seja, o tempo até dormir. Fisiologicamente, quando você faz um exercício, sua temperatura central aumenta. Depois de provas, exames antidoping e entrevistas, os atletas devem ir dormir às 4 da manhã. Precisamos que eles durmam o mais rápido possível. Então a luva diminui a temperatura central de maneira otimizada", explica João Paulo Pereira Rosa, membro da equipe de Mello. As equipes de vôlei também utilizarão esse aparelho.

"A luva cria um vácuo que gera vasoconstrição. Além disso, circula um líquido gelado que resfria algumas terminações nervosas específicas, que são vias por onde você perde calor mais facilmente. Não é o mesmo que colocar a mão em um pote de gelo, porque isso só tem efeito periférico", conclui.

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Brasileiros na Rio-2016

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