Enquanto 90% dos atletas brasileiros na Rio-2016 têm patrocínio de empresas públicas ou de projetos governamentais de incentivo ao esporte, metade deles tem o apoio de empresas privadas.
Dos 349 atletas consultados pela Folha, 174 (49,8%) declaram contar com apoio privado. O Time Brasil nos Jogos terá 465 competidores.
Sozinho, o Bolsa Atleta –maior programa de incentivo ao esporte do governo federal– beneficia 358 competidores, 77% da delegação. Parte dos atletas tem ainda patrocínio de empresas estatais como Petrobras, Furnas e Correios.
"O empresário busca esporte que dê retorno e, no Brasil, esse dinheiro vai para o futebol", diz o professor de pós-graduação em administração do Mackenzie e especialista em marketing, Carlos Silva.
Segundo ele, nunca se investiu tanto no esporte nacional como agora, pelo fato de o Brasil sediar a Olimpíada. O cenário, porém, deve retroceder com o fim dos Jogos e a crise política e econômica.
Um fator importante para que os investimentos continuem será o desempenho dos brasileiros. Ainda assim, Silva crê que o crescimento do investimento privado depende mais de políticas de longo prazo do que de grandes eventos.
"Na Europa, você vê a todo o momento –seja em parques que têm pistas de atletismo–, uma estrutura pública para o cidadão fazer uma atividade esportiva", diz Silva. "Se um menino é estimulado a praticar o esporte que ele goste, não tenho dúvida de que ele vai colher os frutos e não vão faltar empresas para patrociná-lo".
TRANSPARÊNCIA
A falta de transparência das federações também é citada como motivo da falta de interesse das empresas.
"Não está claro o que as federações fazem com o dinheiro. A iniciativa privada está cansada de pôr dinheiro sem saber onde vai parar", diz Kátia Rúbio, docente da Escola de Educação Física e Esporte da USP.
Para ela, investimentos públicos deveriam se concentrar em outra área. "A política nacional de esporte prevê investimento maciço na formação, não no alto rendimento. Por conta dos Jogos, gastou-se muito dinheiro com a ponta."