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Atletas se esbaldam com McDonald's grátis dentro da Vila Olímpica

Um movimento frenético toma conta do McDonald's da zona internacional da Vila Olímpica, na Barra da Tijuca. A zona é o espaço de convivência do atletas, onde há cerimônias de boas vindas e o lugar em que os jornalistas têm acesso aos competidores.

O único local que serve uma refeição quente é justamente a famosa lanchonete. E não pense que os atletas comem a contragosto.

Eles aproveitam que o lanche é grátis e muitas vezes exageram. Não raro ver um competidor equilibrando duas casquinhas de sorvete nas mãos. Outros se esbaldam em hambúrgueres e nuggets de frango. O único que não é unanimidade é o refrigerante. A maioria prefere suco de laranja.

Ao longo da manhã desta terça-feira (2) e até a hora do almoço, grandes filas se formavam na entrada da lanchonete. Atletas do levantamento de peso, que saem na frente no quesito gulodice por não terem preocupação com uma alimentação mais restrita, são os campeões da comilança.

A dupla levantadora de peso Yoichi Itokazu, 25, e Hiroaki Takao, 24, come todos os dias no local. Têm uma desculpa: o restaurante destinado aos atletas dentro da Vila não tem opção japonesa. Eles não reclamam porque gostam.

Lucas Vettorazzo/Folhapress
Atletas fazem fila em frente ao McDonald's da Vila Olímpica
Atletas e outros integrantes das delegações fazem fila em frente ao McDonald's da Vila

"Aqui o sabor é igual em todo lugar", explicava Itokazu, com a boca cheia de batata frita, causando certo embaraço ao colega pela falta de modos, algo incomum aos orientais.

"Eu como, termino e depois faço uma sauna", diverte-se ele. Sua refeição foi dois sanduíches, batata e refrigerante. Uma colega de delegação passou com dois cones de sorvete. Ele se despediu da entrevista para filar o gelado.

Todo dia pela manhã, os atletas do levantamento de peso da Armênia cumprem um ritual gastronômico. Dois guardam a mesa enquanto uma entra na loja para voltar abarrotado de sacolas. Ao final da refeição, uma pequena torre de caixinhas de papelão jaz sobre o mesa de madeira.

Há quem, seguindo a dieta atlética, saia da loja apenas com café nas mãos– caso de uma equipe holandesa que não quis conversar com a reportagem. Mas esses são minoria.

Ninguém parece estar culpado em ingerir calorias em demasia. Integrante da comissão técnica da delegação de handebol de Montenegro, Snezana Damjanac, dispara. "Eu posso porque não vou competir, mas meus atletas, não", brinca ela, que integrou a equipe medalhista de prata em Londres-12.

"Todo mundo ama", completa, num jargão que é quase uma propaganda espontânea. Ela comia um x-burguer simples com suco.

O competidor de atletismo Miguel Francis, 21, da ilha caribenha de Antiqua e Barbuda, se defende. "Se você não comer as fritas, que são muito oleosas, é como se fosse um sanduíche comum, de carne ou frango. Não é 'junk food'", diz.

Ele, que competirá nos 200 metros rasos, terá de bater Usain Bolt se quiser ser o homem mais rápido do mundo. No mundial de atletismo em Pequim, China, em 2015, seu tempo foi de 20,14 segundos. O jamaicano fez 19,55.

"Gastamos muitas calorias nos treinos. Não tem muito problema. O movimento é porque é de graça e também um jeito de lembrar um pouco de casa", disse ele, que comeu dois sanduíches, um de carne e outro de frango.

No início da manhã, uma grande fila se formou na porta do local porque houve uma falha nos computadores. Já a tarde, a fila era por conta do movimento mesmo.

Lucas Vettorazzo/Folhapress
Atletas e outros participantes dos Jogos frequentam o McDonald's da Vila Olímpica
Atletas e outros participantes dos Jogos frequentam o McDonald's da Vila Olímpica

Um trio da Ucrânia desistiu de entrar na fila. Cubanos e chineses– esses últimos são fãs das casquinhas– almoçavam sem constrangimento. A reportagem não encontrou nenhum atleta da Coreia do Norte.

Um funcionário dos Correios tentava um jeito de comer um sanduíche sem precisar desembolsar a salgada quantia– jornalistas, voluntários e funcionários não têm direito aos lanches de maneira gratuita.

Ele abordou um atleta da Turquia e fez o gesto clássico de "comer" com as mãos. "Big Mac. Big Mac", dizia ele, sem emitir o som da voz, como quem faz uma confissão. Meio assustado e sem conseguir se comunicar, o turco ignorou o pedido. Ninguém mais se dispôs a ajudá-lo. Desistiu pouco depois.

Segundo o funcionário, que pediu para não ter seu nome publicado– "senão eu perco meu emprego"– disse que a comida da força de trabalho servida dentro da Vila é ruim. "Um hambúrguer quebraria um galho", disse.

Rapidamente duas latas de lixo ao lado da loja ficaram lotadas até a boca de sacos e pequenas caixas de papelão. Apesar do sol, um vento forte que cortava a zona internacional derrubou guardanapos e caixas de papelão pelo chão. Como ninguém aparecia para recolher, foi comum ver na hora do almoço uma caixa de Big Mac "passeando" pelo local.

Atletas da equipe de tênis de mesa da Inglaterra aproveitaram a folga para comer. Pouco interessados em conversar sobre o assunto, fizeram troça, respondendo os questionamentos sempre com uma outra pergunta.

"Por que os atletas gostam de McDonald's? Por que você gosta?", disse um deles.

Questionado se atrapalhava o rendimento nos Jogos consumir porções altamente calóricas de pão e carne. "Você já viu um jogo de tênis de mesa profissional alguma vez?".

"Que comentário estúpido", disse outro que ficou ofendido com a pergunta.

"O meu amigo se ofende por qualquer coisa. O tênis de mesa exige, sim, muito preparo físico. É o esporte mais rápido do mundo. Às vezes jogamos três partidas em um só dia. Estamos aqui porque estamos no horário de folga. Um lanche não tem grande problema", disse Paul Drinkall, 26.

NUTRIÇÃO

O diretor médico adjunto da Rio-2016, Marcelo Patrício, explica que o consumo de lanches no McDonald's não é totalmente liberado, muito menos indicado.

Segundo ele, é comum que os atletas que vivem sob uma dieta rigorosa tenham em algum momento da semana para comer alimentos mais calóricos.

"Não é liberado. Faz parte da dieta diária deles uma liberação para carboidrato e esse tipo de alimentação mais gordurosa. Existe um momento que ele adota a nutrição que a equipe quer e outra que é liberado. Isso não é para todos. Tem atletas que precisam manter peso, atletas de luta, por exemplo, mas a maioria tem aquele momento da semana mais light que eles podem comer o que quiserem", explicou.

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