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Caçado como Pokémon, iraquiano é atração no empate contra Dinamarca

Com uma bata nas cores do São Paulo e turbante colorido, Mahadi Al Kabi se posiciona de costas para o gramado do estádio Mané Garrincha, em Brasília, e começa a gritar em árabe um coro de incentivo a jogadores de futebol da seleção iraquiana.

Os brasileiros que chegaram mais cedo para ver Iraque e Dinamarca, a preliminar do jogo de estreia da seleção brasileira de futebol masculino na Rio-2016, acompanham o iraquiano tentando repetir o som de seu canto que começa com "Uê, Uê".

Os rápidos e baixinhos iraquianos se insinuam com dribles e toques de efeito para tentar passar pela defesa dos gigantes dinamarqueses, o que faz o torcedor em trajes típicos ficar ainda mais animado, ganhando o coro de cada vez mais brasileiros presentes.

O incentivo da torcida nacional, contudo, não foi suficiente para tirar do empate sem gols a partida dos próximos adversários do Brasil no Grupo A do torneio. Mas fez de Al Kabi um sucesso.

Caçado no intervalo como um Pokémon, o torcedor posou para selfies, abraçou brasileiros e até tentou uma conversa que os torcedores retribuíram com aplausos quando, no meio de uma frase ele pronunciou o som Zico, provavelmente se referindo ao ex-jogador do Flamengo que dirigiu a seleção iraquiana de futebol anos atrás.

"Ele é um torcedor profissional. Vejo ele nos estádios acompanhando o time do Iraque desde que sou criança", comenta Ali Ismahel, iraquiano que mora em São Paulo e veio para Brasília acompanhar o selecionado do seu país.

Dimmi Amora/Folhapress
CAÇADO COMO POKEMON, TORCEDOR IRAQUIANO É ATRAÇÃO NO EMPATE DE IRAQUE E DINAMARCA. Com uma bata nas cores do São Paulo e turbante colorido, Mahadi Al Kabi se posiciona de costas para o gramado do estádio Mané Garrincha, em Brasília, e começa a gritar em árabe um coro de incentivo a jogadores de futebol da seleção iraquiana.
Torcedor iraquiano Mahadi Al Kabi é atração no empate contra Dinamarca

VIRA

Mesmo sendo o próximo adversário do Brasil no domingo (7), os brasileiros que conseguiram entrar no estádio mais cedo após a rigorosa revista dos fiscais contratados pelo Comitê Olímpico –que impediam a entrada de qualquer um com bolsa que não fosse transparente–, tentavam dar dicas aos pouco organizado time iraquiano.

"Vira", gritava Leonardo da Silva, 32 anos, sempre que o camisa 16, Saad Luaibi, jogador do Al Qadisia, do Casaquistão, pegava na bola.

Apesar da boa visão de jogo do meio campista, cérebro da equipe, o resto do time tinha dificuldade para avançar sobre os dinamarqueses, cujo mais baixo do time mede 1,80 m e o melhor, o zagueiro Gomes (camisa 4, jogador do Henan Jiancye, da China), tem 1,92 m.

As dificuldades dos jogadores em campo não arrefeceram os gritos do torcedor símbolo Al Kabi que se manteve puxando o coro da torcida. Falah Mahde, 50 anos, que foi professor de árabe em Bagdá até 2010 e fugiu da guerra para o Brasil, diz que o grito de Al Kabi significa algo como "Vamos, Vamos, faz um gol".

Casado e com dois filhos brasileiros, Mahde agora trabalha no comércio em São Paulo e diz que sua vida ficou muito melhor aqui. A empatia dos brasileiros pelos iraquianos, para ele, vem do "coração bom" do nosso povo, adorado no Iraque.

"Minha vida agora aqui está muito melhor. O povo é bom e ajuda. O problema é que não dá valor ao país que é o melhor do mundo", opina o professor de árabe sobre a nação que o acolheu.

Durante as fotos no intervalo, Al Kabi Pega uma o saco de pipoca de uma das vendedoras e levanta para anunciar o produto. A jovem de pouco mais de 20 anos havia chegado ao estádio por volta das 8h da manhã e estava mesmo precisando de uma publicidade: havia vendido apenas um pacote até 14h.

Cadastrada previamente pelo Comitê para trabalhar no estádio, ela diz não havia comido nada até aquele horário. Sem carteira assinada, ela diz que ficará até o fim do jogo Brasil, por volta das 18h, vendendo por R$ 12 cada saco de pipoca (pouco menor que das pipocas de microondas). Por cada saco, ela ganhará R$ 1. E mais nada.

"Pra comer um saco de pipoca eu tenho que vender 12", diz a jovem que pede para não ser identificada por medo de represálias.

Entre uma selfie e outra, Al Kabi volta ao seu ponto de torcedor, bem atrás do técnico iraquiano Abdulghani Alghazali, como faziam os geraldinos do antigo Maracanã. Após o quarto dos dez chutes a gol dos iraquianos no jogo (contra três dos dinamarqueses), Al Kabi puxa mais um coro de incentivo.

Os brasileiros já não querem ficar apenas no "Uê, Uê" e reproduzem o restante da frase traduzindo-a com os sons mais próximos que eles conseguem. E o coro vira de incentivo se transforma em "Uê, Uê, açaí de graça". Al Kabi agradece abrindo os braços.

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