Era impossível para Michael Phelps esconder o desapontamento. Assim que bateu o olho no placar, jogou a touca longe, cumprimentou o rival e saiu da piscina em Londres com cara de poucos amigos.
O único homem a ganhar oito medalhas de ouro em uma edição de Jogos Olímpicos sofria sua primeira derrota nos 200 m borboleta em torneios de primeira linha desde que fez sua estreia internacional, em Sydney-2000.
É exatamente essa prova que abre o campeonato de Phelps na Rio-2016 na disputa individual, nesta segunda (8), às 13h44. Uma coincidência que pode carregar com mais emoção o tom de redenção que ganhou a sua despedida dos Jogos Olímpicos.
No domingo, ele iniciou a caminhada com ouro. Sua 23ª medalha em Olimpíadas.
Antes de entrar na piscina, ele já foi ovacionado quando sua imagem na área de espera apareceu no telão. Depois, a equipe toda dos EUA foi bastante aplaudida na arena.
Phelps foi o segundo a cair na água no revezamento 4 x 100 m livre dos EUA. Pegou a prova em segundo lugar e entregou em primeiro, posto do qual o time não saiu mais.
"Estou me divertindo de novo, gostando do que faço. Acho que, independentemente do que aconteça, serei capaz de terminar [minha carreira] do jeito que eu queria."
Phelps já havia se aposentado em Londres. A preparação para aqueles Jogos acontecera na "ressaca" do feito obtido em Pequim, em 2008.
Ele não gostava mais de nadar como antes e estava mais preocupado com os compromissos fora dos treinos, festas e bebidas. Diminuiu sua frequência em treinos e torneios.
Em vários momentos, flertou com a depressão.
Nesse período, foi flagrado fumando maconha, pegou suspensão de três meses e perdeu o principal patrocinador.
Mas tinha de seguir até 2012 em razão de contratos. Mesmo assim, ganhou seis medalhas na Inglaterra, quatro ouros.
Um ano após a aposentadoria, Phelps decidiu voltar.
No fim de 2014, porém, recebeu um novo baque.
O nadador foi flagrado dirigindo embriagado e levou uma pena de seis meses da federação de natação dos EUA.
Decidiu ir para uma clínica e mexer nos fantasmas que carregava, como a relação mal resolvida com o pai, Fred.
Phelps disse que chega ao Rio diferente. O processo pelo qual passou e a paternidade recente —é pai de Boomer, três meses, de relacionamento com a modelo Nicole Johnson— o fizeram voltar a se divertir quando está na piscina.
"Minhas emoções estarão dez vezes mais afloradas."
Os rivais, no entanto, não devem se comover.
"Os recordes mundiais de Phelps [100 m e 200 m borboleta] são meus alvos desde que ganhei o ouro em Londres", disse o sul-africano Chad Le Clos, o algoz de quatro anos atrás.
O americano tem só o sexto melhor tempo desta temporada, com 1min54s84.