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Egípcias do vôlei de praia são eliminadas, mas comemoram sucesso

A dupla egípcia do vôlei de praia, formada por Doaa Elghobashy, 19, e Nada Meawad, 18, despediu-se nesta quinta-feira da Rio-2016.

Primeira equipe do Egito a classificar-se para a disputa do vôlei de praia em uma olimpíada, perderam os três jogos que participaram para alemãs, italianas e canadenses, mas conquistaram a torcida do Rio.

Muçulmanas, Elghobashy e Nada jogam com o corpo todo coberto em meio às seminuas atletas do vôlei de praia. Elghobashy optou por jogar também com o hijab, o véu muçulmano, dispensado por sua companheira de quadra.

"Somos famosas agora. Espero que tudo melhore. Agradeço à torcida maravilhosa e fico feliz em poder mostrar um lado positivo da minha religião e do meu povo", disse Elghobashy, ao deixar a quadra dois da arena de Copacabana no fim da tarde.

"Tenho muito orgulho do meu hijab. Já o uso há dez anos. O espírito de união internacional dos jogos me dá o direito de atuar com o hijab. Fico realmente feliz por isso", disse Elghobashy. "O hijab não me afasta das coisas que amo. O vôlei de praia é uma das boas coisas que aconteceram em minha vida", declarou Elghobashy, estudante, nascida em Damanhur, às margens do rio Nilo, mas que hoje vive no Cairo.

O músico Bruno Azevedo, 71, foi um dos torcedores que nesta quinta trocaram a quadra principal da arena de Copacabana —que sediava partida entre as poderosas duplas norte-americanas e russas— para assistir à despedida das egípcias.

"Fiquei curioso para conhecer as novas musas de Copabacana. São as mais bem comportadas que já pisaram nesta areia", afirmou.

A arena 2 só tem capacidade para 120 torcedores, com uma vista excepcional do mar de Copacabana.

A partida de despedida foi a única em que as egípcias não tiveram o apoio maciço da torcida. A maioria dos presentes era de canadenses, apoiando a dupla Broder/Valjas, que venceu por 2 a 0 (21/12; 21/16).

"Se tivéssemos jogado na quadra principal, tenho certeza de que renderíamos mais por causa do apoio que recebemos", delcarou Elghobashy.

A atenção internacional sobre as jogadores egípcias foi despertada na partida de estreia contra a Alemanha no domingo. O favoritismo das alemãs, no topo do ranking do vôlei de praia, era evidente e confirmou-se em pouco mais de meia hora. As egípcias eram simples amadoras.

Coube à fotógrafa Lucy Nicholson, da agência Reuters, divulgar ao mundo uma imagem impactante que passou despercebida pela televisão —voltada para outros jogos mais importantes naquele exato instante.

Na foto, estão, frente a frente, duas atletas subindo à rede do vôlei de praia. Por si, a jogada seria banal. O contraste da foto, no entanto, a fez célebre.

Lucy Nicholson/Reuters
Foto que mostra o contraste nas roupas de egípcia e alemã ficou famosa no mundo
Foto que mostra o contraste nas roupas de egípcia e alemã ficou famosa no mundo

Sob o Sol de 30 graus do inverno carioca, a atleta alemã Kira Walkenhorst, 25 anos, 1,84 m, 75 kg, aparece retilínea em seu biquíni cinza. Tem espelhada Elgobashy, 1,74 m, 80 kg, com o corpo plenamente coberto —a calça preta, a blusa verde, o véu muçulmano.

Confrontada com o espanto mundial perante a foto, Elgobashy foi incisiva: "O esporte une todas as pessoas: muçulmanos, cristãos ou judeus. Esteja de biquíni ou de véu". Ela disse que, mesmo no Egito, era pouco conhecida. "A repercussão foi enorme e fico feliz por isso. Agradeço pelo apoio e compreensão que recebi por minha decisão."

Meawad, sua companheira de quadra, também é muçulmana, mas acredita que não precisa do hijab para exercer sua religiosidade. Nas praias do Egito, usa biquíni, como grande parte do mundo. Jogou com o corpo coberto em respeito à Elgobashy, porque as regras olímpicas exigem que as duas jogadoras se vistam com uniformes iguais. Meawad só dispensou o véu.

A dupla foi beneficiada por que o regulamento sobre o uso de uniformes pela Federação Internacional de Vôlei foi amenizado na exigência dos uniformes. Antes obrigava biquínis para as mulheres e calção e camiseta para os homens. Depois de Londres-12, a federação passou a aceitar peçcas inteiras de roupa e acessórios como o véu.

O porta-voz da FIVB, Richard Baker, disse que o objetivo da entidade foi abrir os jogos culturalmente. "A proposta é permitir que mais pessoas joguem vôlei de praia, da maneira que se sentirem confortáveis."
De acordo com a federa, 169 países disputaram as 48 vagas do vôlei de praia na Rio-2016, sendo 24 duplas masculinas e 24 femininas, na primeira fase.

Yasuyoshi Chiba/AFP
Nada Meawad e Doaa Elghobashy em partida da Olimpíada
Nada Meawad e Doaa Elghobashy em partida da Olimpíada

O frenético sucesso da atleta com hijab no vôlei de praia atiçou repórteres a acompanhar também a competição de esgrima.

Ibtihaj Muhammad, 30 anos, muçulmana, tornou-se a primeira norte-americana a competir com um hijab. Já obteve duas vitórias e no próximo sábado disputa as quartas-de final do esporte. Ela tinha 13 anos quando a mãe a incentivou a experimentar a esgrima, por lhe permitir competir sem ter de abrir mão da roupa que lhe cobria todo o corpo.

"Estou entusiasmada por poder mudar estereótipos e concepções erradas que as pessoas têm acerca de mulheres muçulmanas", afirmou.

Há quatro requerimentos fundamentais para a vestimenta islâmica feminina, na interpretação mais rígida dos textos sagrados muçulmanos. A roupa deve cobrir todo o corpo, exceto rosto e mãos; deve ser larga o suficiente para não demarcar as formas do corpo; deve ser espessa o bastante para não mostrar a cor da pele nem as formas que deveria esconder; não deve chamar a atenção do homem para a beleza da mulher.

A obrigatoriedade do uso do véu na esfera pública é contestada por muitos muçulmanos.

Há os ortdoxos que consideram o uso do hijab um aspecto fundamental da conduta da mulher muçulmana, por simbolizar a dignidade e a modéstia, além de ajudar ambos os sexos a manter a castidade até o casamento. Muitas muçulmanas, no entanto, afirmam que a fé é o sentimento que importa, estando acima do uso ou não do véu.

Muitas delas limitam o uso ao ambiente doméstico, para que não se destaquem nas ruas em sociedades em que são minoritários como o Brasil.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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