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Justiça veta repasse de verba pública para comitê organizador dos Jogos

A Justiça Federal do Rio determinou nesta sexta-feira (12) que os governos federal e municipal se abstenham de repassar qualquer recurso público para o comitê organizador da Olimpíada.

A transferência só poderá ocorrer após a Rio-16 dar total transparência a receitas e despesas, bem como dar justificativa para a necessidade de apoio dos cofres públicos para a realização do evento. A decisão, que atendeu pedido de liminar feita pelo Ministério Público Federal, não deixa claro se a determinação inclui repasse via patrocínio, modelo previsto para o uso de recursos federais.

O comitê vem enfrentando dificuldades financeiras, que exigiram cortes em serviços como energia, alimentação e pessoal. A ausência dos recursos emergenciais pode dificultar ainda mais o fluxo de caixa da entidade, exigindo novo enxugamento.

Alan Marques/ Folhapress
Eliseu Padilha (centro), ministro-chefe da Casa Civil
Eliseu Padilha (centro), ministro-chefe da Casa Civil

O ministro Eliseu Padilha (Casa Civil) afirmou na quinta-feira (4), véspera da cerimônia de abertura, que União e Prefeitura do Rio repassariam R$ 270 milhões no total ao comitê organizador para ajudar na realização das cerimônias da Olimpíada e Paraolimpíada. Ele não deu detalhes sobre de que forma o apoio seria feito.

O processo da Justiça revela dados que, até então, eram omitidos tanto pelas autoridades e comitê organizador.

De acordo com documentos a que a Folha teve acesso, a Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) assinou na mesma quinta (4) contrato de patrocínio com o comitê organizador. A agência se comprometeu a repassar R$ 30 milhões à entidade, dos quais R$ 20 milhões nesta segunda-feira (15).

Apesar de ser considerado um apoiador nível 2 dos Jogos, a Apex não tinha o nome exposto no site da Rio-16 entre as empresas do tipo. A agência, vinculada ao Ministério das Relações Exteriores, também não exibia em seu site qualquer símbolo da Olimpíada a que tinha direito de usar.

O modelo de patrocínio foi usado para que o comitê permaneça fora da alçada de fiscalização do TCU (Tribunal de Contas da União). A Justiça não se pronunciou sobre o repasse por esta via.

"Essa liminar foi publicada ontem, por volta de onze da manhã. A nossa equipe não foi capaz de obter a informação sobre isso ainda. Não é possível dizer ainda o que vamos fazer", afirmou o diretor-executivo de Comunicação do comitê organizador, Mario Andrada, neste sábado (13).

"O que posso dizer é que tudo foi feito com diálogo até agora, então, vamos tomar nota, ver o que podemos fazer e depois voltamos com mais informações mais tarde", completou.

A Folha não conseguiu localizar a assessoria da Apex.

PROIBIÇÃO DE REPASSE

A decisão da Justiça Federal preocupou o governo interino de Michel Temer, que avalia desde a manhã deste sábado (13) se ela impede o repasse de recursos por meio de patrocínio. A expectativa é de que, do montante total, o governo federal arcaria com R$ 100 milhões.

Além dos R$ 30 milhões da Apex, a administração interina tem tentado viabilizar o restante da Embratur, Correios, Caixa e dos ministérios da Cultura e Turismo. Eles, no entanto, têm dado sinais ao governo interino de dificuldades em obter facilmente os recursos demandados.

PARAOLIMPÍADA

Os papéis revelam ainda que uma nova justificativa para o apoio surgiu. A Prefeitura do Rio agora afirma que está em negociação um convênio para financiar a "viabilizar, única e exclusivamente, determinadas atividades necessárias à realização dos Jogos Paraolímpicos".

A justificativa é de que o evento, que ocorre em setembro, não consegue ter financiamento próprio por meio da venda de ingressos e patrocínios, entre outras receitas privadas.

Em razão da iminência do repasse de verba pública, a Justiça federal decidiu vetar o repasse, até que o comitê dê transparência aos seus gastos.

"De tudo, há fundado receio de que os convênios que estão em vias de serem celebrados ou que o foram recentemente, às vésperas da abertura dos Jogos Olímpicos, estejam importando em transversal e indevida assunção,pelas entidades públicas, de obrigação não mais existente, ante a revogação do dispositivo legal que implicava na destinação de recursos públicos para cobrir eventuais déficits operacionais do comitê", escreveu a juíza Márcia Barros na decisão.

O pedido de liminar foi feito no processo em que o Ministério Público Federal pede transparência nos gastos e receitas do comitê organizador. A Justiça determinou na quinta que a entidade repassasse as informações para o MPF e o TCU (Tribunal de Contas da União).

O comitê tem garantia de cobertura de eventual déficit por parte dos governos estadual e municipal.

Havia ainda garantia da União, mas essa previsão foi retirada da lei federal sobre os Jogos. Em razão disso, o TCU interrompeu a análise dos gastos do comitê. Auditores já analisavam contratos e salários da entidade.

O TCE (Tribunal de Contas do Estado) e o TCM (Tribunal de Contas do Município) não têm processos para acompanhar os gastos do comitê, apesar da previsão de apoio do Estado e prefeitura.

Colaboraram GUSTAVO URIBE e CAMILA MATTOSO

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