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'O esporte é feito para unir', diz campeã que teve feminilidade questionada

Aconteceu como estava previsto. Caster Semenya, 25, passeou na final dos 800 m e conquistou sua primeira medalha de ouro olímpica. E, novamente, o assunto após a prova foi sua condição física, questionamentos sobre sua feminilidade.

"Não quero comentar esse assunto", disse a bielorussa Marina Arzamasova, sétima colocada. E acabou aí a entrevista, todos só queriam falar disso.

"Temos que correr de acordo com os regras. Eu foquei na minha prova e fico feliz em saber que estou correndo limpa", afirmou a norte-americana Kate Grace, oitava.

Caster é alvo dessa controvérsia desde que venceu os 800 m no Mundial de Berlim-2009 com a maior vantagem da história. O mundo passou a questionar se era mesmo mulher.

A sul-africana é intersexual, tem características biológicas que não se enquadram nas definições tradicionais de masculino e feminino. Seu corpo produz mais testosterona do que a maioria das mulheres e se discute se isso lhe daria vantagem desleal sobre as rivais.

Neste sábado, ela aproveitou sua vitória para passar um recado.

"Temos que falar performance e não sobre especulação. O esporte não é sobre discriminação, sobre como as pessoas parecem, como falam, se são masculinas ou não. Temos de chegar a um lugar em que falemos só de performance, não sobre como o atleta parece", afirmou a corredora, que evitou entrevistas durante a semana toda.

CASTER E O TEMPOMarcas da atleta desde seu primeiro grande feito
CASTER E O TEMPOMarcas da atleta desde seu primeiro grande feito

Ela disse que tem conseguido manter o foco em sua corrida e bloquear as polêmicas e acredita que sua participação no atletismo pode ajudar a mudar a percepção das pessoas sobre questões como a sua.

"O esporte é feito para unir as pessoas. Acho que ajudo nessa união. E por isso continuo correndo. É fantástico, acho que faço diferença. Faço isso muito pelo meu povo, eles estão orgulhoso de mim, faço pelas pessoas que me apoiam."

Além de sua aparência forte e masculinizada, seus tempos também chamam atenção. Desde que seu caso veio à tona, ela passou a correr mais devagar. Mulheres com as características de Caster eram proibidas de competir até apresentarem durante um ano inteiro resultados de testes com níveis de testosterona de até 10nmol/l. O padrão foi definido pela Iaaf (federação de atletismo) como limite para que essas atletas não tivessem vantagem.

A indicação é de cirurgia -para retirada de testículos internos, por exemplo- ou tratamento hormonal. Não se sabe ao certo se Caster foi submetida a algum tratamento.

A regra da testosterona caiu no ano passado, e a sul-africana voltou a ser veloz. Na final de sábado fez 1min55s28 e bateu o recorde de seu país. A prata ficou com Francine Nuyonsaba, 23, do Burundi, com 1min56s48, e o bronze, com Margaret Nyairera Wambui, 20, do Quênia, com 1min56s89.

"A prova estava muito forte. Foi uma corrida fantástica com atletas incríveis. Queria correr bem e ganhar o campeonato. Não pensava no tempo."

Um pódio que gera rumores. As duas outras atletas se encontram em situação semelhante à de Caster em 2009. Fortes, com aparência mais masculinizadas, enfrentam olhares tortos e dúvidas sobre suas condições. Na área de entrevistas, aquelas que ficaram sem medalhas eram questionadas se elas aceitavam o pódio com aquelas três atletas. No entanto, não há nada na regras que as impeça de correr.

"Eu ganhei a primeira medalha de prata do Burundi. Estou muito feliz", disse Margaret. "Não tenho muita experiência, é minha primeira Olimpíada, na próxima posso tentar buscar o ouro", afirmou Francine.

Que esporte é esse? - Olimpíada - Folha de S.Paulo

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