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Fico feliz em provar que o Brasil pode fazer uma Olimpíada, afirma Nuzman

No comando do COB (Comitê Olímpico do Brasil) há 21 anos, Carlos Arthur Nuzman, 74, atribui o êxito da Olimpíada no Rio ao longo período em que permaneceu no poder no esporte brasileiro.

Nuzman, que no momento se movimenta para continuar no cargo por mais quatro anos —assunto sobre o qual não faz comentários—, desdenha da nova lei que proíbe a permanência de dirigentes no posto por mais de oito anos.

"Depois de entregar os Jogos Olímpicos que entreguei, me dizer que sou longevo... Sorry. Não dá nem para responder. Viu a Olimpíada que entreguei? Se eu estivesse só há oito anos no esporte, eu entregaria uma Olimpíada?", disse à Folha o dirigente, que também preside o comitê organizador da Olimpíada.

Nuzman afirmou estar orgulhoso da preparação para os Jogos, disse que a cerimônia de abertura "foi a melhor da história", e que contratempos como os problemas da Vila Olímpica se deveram à complexidade do evento.

Na semana passada, o governo federal anunciou que dividirá com a prefeitura do Rio uma conta de R$ 250 milhões para a Paraolimpíada, que não estava prevista. A organização do evento resistia a aceitar a ajuda para não ter que se submeter aos órgãos de fiscalização e controle.

Nuzman rejeita a ideia de que o comitê dependerá de dinheiro público para fechar as contas do evento e diz que a entidade tem o direito de buscar patrocínio de empresas estatais se for necessário.

O dirigente não quis fazer comentários sobre o desempenho da delegação do Brasil enquanto os Jogos não estivessem encerrados. No momento da entrevista à Folha, já se sabia que o país não alcançaria a meta de ficar entre os dez maiores medalhistas.

*

Folha - Qual foi a melhor e a pior coisa da Olimpíada?

Carlos Arthur Nuzman - Os Jogos foram espetaculares, superaram todas as expectativas. A grande maioria não acreditava, mas muita gente vai sair daqui dizendo que foram os melhores Jogos da história. Que a cerimônia de abertura foi a melhor da história, eu não tenho dúvida.

Os atletas não tiveram atrasos, competiram em instalações icônicas. Chegamos ao final com um resultado que eu sei que é surpreendente para muita gente. Fico feliz em poder provar que o Brasil pôde fazer uma Olimpíada.

E a pior?
Eu não trabalho com o que está pior. Eu trabalho com o que precisa melhorar.

O presidente do COI [Thomas Bach] disse que não queria ter vivido esse nível de estresse. Foi estressante?
Quem organiza uma Olimpíada tem de saber que é muito complexo. É a palavra que eu gosto de usar. Os Jogos foram complexos. Você há de convir que, pela situação política e econômica do país... Vocês todos estão aqui vendo isso. A gente conviveu com três presidentes da República, três governadores, um prefeito. São números que poucos convivem, com muito antagonismo político.

Como isso afetou os Jogos?
Nada afetou.

Desde o começo, o comitê disse que não usaria verbas públicas. Agora estão correndo atrás de patrocínio estatal. Faltou planejamento?
Não. Vamos colocar as coisas como elas devem ser colocadas. A gente diz que está trabalhando com o orçamento equilibrado, e patrocínio nós vamos querer até o último dia dos Jogos Paraolímpicos. Qualquer patrocínio.

Mas o presidente da República está sendo mobilizado.
O governo quer nos ajudar com patrocínio. Não tem nada mais do que isso.

Mas o que deu errado para fechar as contas?
Nada deu errado.

Então, qual o motivo dessa mobilização que estão fazendo?
Sempre dissemos que queríamos patrocínio até o último dia. Vocês estão centrados em uma questão de governo. A gente está centrado em patrocinadores, públicos ou privados. Você deveria colocar de uma forma diferente. Do interesse do presidente de saber como os Jogos estão e como vão terminar. Nenhuma Olimpíada foi feita sem a participação dos governos.

O comitê se dizia orgulhoso de não usar recursos públicos. O que mudou?
Estamos orgulhosos de não usarmos recursos públicos.

Mas o governo anunciou ajuda de R$ 250 milhões.
Não. Isso é a sua avaliação. Se assino um contrato de patrocínio, você não vai poder escrever no seu jornal que não é patrocínio.

Essa engenharia foi vista como uma forma de driblar a fiscalização do TCU (Tribunal de Contas da União).
Não vou falar sobre hipóteses. Felizmente estamos trabalhando com dinheiro privado. A Folha é um dos jornais que mais fala que temos que trabalhar com recursos privados. Quando estamos, você me faz uma pergunta dessa? A gente está falando de um orçamento de US$ 2,8 bilhões, R$ 9 bilhões. O que está entrando de patrocínio [estatal] não dá nem 1%.

Mas há mobilização de empresas em crise, como a Petrobras. Como explica?
Aí você pergunta para a Petrobras se eles não fazem outros patrocínios.

Ela está cortando patrocínios de atletas.
Aí é uma questão de estratégia da empresa.

O que aconteceu com a Vila Olímpica, onde apartamentos inacabados chegaram a ser entregues? O comitê errou?
Não tem erro, tem ajustes. Você pega 20 mil pessoas para colocar em 31 edifícios e acha que não vai ter problema? Você deveria saber o que a imprensa escreveu de Sydney-2000, onde [cinco delegações] devolveram as chaves e o COI teve que intervir. O Rio tem de ser altamente elogiado por tudo que fez.

Sidney Levy [diretor-geral do Comitê Rio-2016] disse que o momento mais tenso para ele foi quando entrou no Maracanã para a abertura, o estádio estava vazio e depois foi enchendo. Qual foi o momento mais crítico para o sr.?
É porque ele nunca entrou numa cerimônia de abertura antes. Eu tinha certeza que estaria lotado. Para mim, será quando terminar os Jogos. Estou aliviado.

O que o sr. achou do caso do nadador americano Ryan Lochte, que mentiu ao dizer ter sofrido um assalto no Rio?
Lamentável. Um campeão olímpico tem que ter postura, respeito e dignidade. Temos exemplos de atletas que são lendas, que se tornarão heróis. Ele não [vai se tornar].

Qual será o seu futuro? COB, Odepa [Organização Desportiva Pan-Americana]...
Não disse se sou candidato a nada. Tenho que entregar o relatório e a prestação de contas. O que será da minha vida futura, estou pensando.

Há uma crítica na sociedade a dirigentes esportivos longevos. Qual a sua opinião?
Depois de entregar os Jogos Olímpicos que eu entreguei, me dizer que sou longevo... Sorry. Não dá nem para responder. Se eu estivesse só há oito anos no esporte, eu entregaria uma Olimpíada?

Há uma lei que proíbe a eternização dos dirigentes nos cargos. É uma lei equivocada?
Não vou comentar pelo seguinte: fiz o vôlei sair do nada e ser campeão mundial. O Brasil não ser nada e fazer um Pan-Americano e uma Olimpíada... Não foi em oito anos.

Por que o seu salário não é divulgado?
Eu não recebo salário. Sei que vocês não se conformam, mas eu não recebo.

Quais são as suas fontes de renda?
Eu tenho as minhas.

RAIO-X

Nascimento: 17.mar.1942 (74 anos), no Rio. É advogado

No esporte:Ex-jogador de vôlei, disputou os Jogos de Tóquio, em 1964

Na política esportiva: Preside o Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos do Rio-2016, o Comitê Olímpico Brasileiro e a Organização Desportiva Sul-Americana.

Foi presidente da Confederação Brasileira de Vôlei e do Comitê Organizador do Pan-2007

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