Foi menos uma cerimônia e "mais uma festa", como tentou justificar o comentarista Marcos Uchôa, já com poucos minutos de transmissão.
Os quadros tomaram menos tempo e foram mais bagunçados do que na cerimônia de abertura, assim como a entrada dos atletas. Foi até um alívio sair do estilo Cirque du Soleil daquele primeiro dia, mas o contraste com os poucos minutos de Tóquio 2020 resultou impiedoso.
Desta vez o narrador Galvão Bueno evitou registrar, mas o presidente interino do Brasil não estava lá quando o primeiro-ministro do Japão se transformou em Super Mario e deixou as plateias do estádio e da TV estupefatas.
O impacto tecnológico e pop, depois de um bocado de folclore, fez o londrino "Guardian" prever para daqui a quatro anos, com certa crueldade, "o fim da era da Olimpíada com dinheiro contado". Outros ecoaram a evidência, na cerimônia, das restrições orçamentárias.
Sobrou constrangimento, das cadeiras vazias por aparente desorganização às ideias óbvias, como Carmen Miranda —ou o brócolis perto do final, salvo só pela apoteose que assumiu de vez a bagunça e o Carnaval.
Um ou outro quadro apresentou mais do que entusiasmo e samba no pé, como as crianças cantando o Hino Nacional e, principalmente, a combinação precisa de canto, dança e projeção com "Mulher Rendeira", interpretada pelas Ganhadeiras de Itapuã, de Salvador.
Luis Acosta/AFP | ||
Rendeiras se apresentam na cerimônia de encerramento dos Jogos |
Mas é preciso mais do que boa vontade com as manifestações de cultura regional para programar um evento com transmissão global, ainda mais tendo que abrir espaço, volta e meia, para discurso e propaganda institucional.
O pouco de crítica social que a cerimônia de abertura havia se permitido desapareceu por completo, no encerramento. Não havia roteiro claro, mas um amontoar de shows de músicos e bandas de diferentes Estados, aliás, com aparente predominância de Pernambuco.
A cerimônia anticlimática atrapalhou o que a Globo havia preparado como mensagem editorial. Galvão ameaçou chorar mais uma vez, sem maior sucesso, assim como tropeçou ao tentar convencer sobre a recuperação
de autoestima do país.
No texto final, lido, esteve longe da antiga persuasão: "O esporte é a ferramenta que faz Rafaela Silva, nascida na pobreza da Cidade de Deus, e Bernardinho, filho da classe média carioca, dividirem o mesmo sonho. Que a Olimpíada na nossa casa seja um marco de transformação para a sociedade brasileira".
Jim Watson/AFP | ||
Bandeiras hasteadas durante a cerimônia de encerramento dos Jogos |