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Camarão foi comida mais disputada por atletas olímpicos, diz chef

Nem salada fit, nem churrasco à brasileira. A comida mais disputada pelos atletas olímpicos foi o camarão. Quem conta é a chef Ana Zambelli, que comandou, durante os 17 dias de Jogos, os fogões onde foi preparada a comida de todos as estrelas do esporte que se hospedaram na Vila Olímpica.

À frente de uma equipe de 600 cozinheiros, 100 subchefs e 32 chefs no restaurante 24 horas da vila, Zambelli chegou a cozinhar 65 mil refeições em um dia.

E não estamos falando de arroz, feijão, bife, batata frita e salada: para agradar o paladar de 17.950 atletas e integrantes de equipe técnicas de 207 delegações, a equipe executava, diariamente, cerca de 400 receitas que vão desde a comida halal (consumida por muçulmanos) até sopa de arroz e churros.

Mas era o camarão que provocava filas no bufê. Quando entrava no menu do restaurante, os chefs chegavam a grelhar 400 quilos por dia do crustáceo.

"Era um negócio de maluco, parecia que não tinha comida nenhuma na Vila. Aonde a gente colocava o camarão, tinha fila. A gente só servia por duas horas e meia e depois parava, porque se não parasse de cozinhar, era grelhar camarão até cair o braço", disse a chef.

Arquivo pessoal
Chef Ana Zambelli, responsável pelo restaurante da Vila dos Atletas
A chef Ana Zambelli, responsável pelo restaurante da Vila Olímpica

Por dia, a cozinha de Zambelli recebeu quantidades impressionantes de ingredientes para preparar todas as receitas.

Só de carne vermelha e branca eram duas toneladas; de arroz, uma tonelada e meia. Três mil pizzas, 100 mil pães, 150 mil litros de leite. Ao todo, os cozinheiros usaram 1,9 mil toneladas de insumos.

Durante toda a Olimpíada, foram consumidas 62 toneladas de carne bovina, 80 toneladas de aves, 54 toneladas de peixes e 40 toneladas de pães.

Engana-se quem acha que os atletas ficaram só na comida leve. Os chefs serviram 6 toneladas de bacon fatiado, 200 mil muffins, 130 mil tortinhas e 1,3 milhão de fatias de pizza, segundo o último balanço da Sapore, empresa que venceu a licitação com o Comitê Rio 2016 para administrar o espaço.

"Lá nada é pouquinho. Teve um dia de madrugada que fui ajudar a cortar fruta, eu e mais três pessoas. Sem brincadeira: uma tonelada e meia de fruta. Eu bati meu próprio recorde, só de abacaxi foram 500 quilos", diz Zambelli.

Nem sempre o cardápio era seguido à risca. Durante os Jogos, os chefs receberam dez pedidos de bolo de aniversário para atletas cantarem parabéns. O sabor mais pedido, como é de se imaginar, era o de brigadeiro, acompanhado de 30 unidades do doce.

Arquivo pessoal
Chef Ana Zambelli, responsável pelo restaurante da Vila dos Atletas, e o atleta Diego Hipólito
O ginasta Diego Hypólito (à esq.) e a chef Ana Zambelli

Vez ou outra, pequenas surpresas eram preparadas. Em uma segunda-feira, os cozinheiros resolveram servir 2,8 mil churros, obrigando atletas a tapearem suas rígidas dietas.

"Nesse dia, eles [atletas] perderam a linha mesmo. Eles enchiam uns bowls [tigelas] até a boca com todos os sabores: nutella, brigadeiro, doce de leite, leite condensado", afirma.

Os funcionários tiveram que administrar também as exigências. Os indianos não passavam uma refeição sem lentilha. Os chineses faziam questão do congee, uma sopa de arroz consumida no café da manhã. Para os brasileiros não podia faltar arroz, feijão, bife e farofa.

"A gente cozinhava entre 350 a 400 quilos de lentilha por dia para os indianos. Se faltasse, isso gerava até reclamação formal. Os orientais comiam uma sopa de arroz chamada congee no café da manhã. Vou te falar que é bem ruim, mas eles comiam todo dia", diz.

Apesar da intensa jornada de trabalho, a chef considera que a experiência valeu a pena.

"É gostoso. A gente vê o atleta chegando, às vezes triste, cansado, e pode ajudar a consolar através da comida, é emocionante", disse a chef, que agora descansa antes de encarar a Paraolimpíada.

BRIGA COM SUDBRACK

A intensa jornada de trabalho e o pouco reconhecimento acabaram influenciando uma troca de farpas entre Zambelli e a chef Roberta Sudbrack nas redes sociais.

O problema começou com a aparição de Sudbrack no programa "Encontro com Fátima Bernardes", da TV Globo, quando a jornalista a apresentou como responsável pelas refeições dos atletas na Vila Olímpica.

Sudbrack, que na verdade cuida da alimentação do Time Brasil nos Centros de Treinamento (e não na Vila Olímpica), não corrigiu a apresentadora.

"A gente se mata por dias, noites sem dormir e a TV mentirosa faz isso... mente! Ir para a TV dar entrevista todo mundo quer, ralar bucho no fogão é para poucos", escreveu Zambelli em rede social.

"Ela usou o meu trabalho para se beneficiar. Fiquei chateada com ela falando que acompanhou a emoção dos atletas, mas ela nunca entrou ali. Eu achei que ela roubou minha cena. O que ela está falando na televisão é o que eu estou vivendo", afirmou à Folha.

A assessoria de imprensa de Sudbrack disse que a chef não conhece o trabalho de Zambelli e que ficou surpresa com a abordagem "agressiva e sensacionalista". Ela não irá se pronunciar sobre o caso.

"Vale ressaltar que a Roberta obviamente não tem o menor interesse que o trabalho dela se confunda com o de alguém que ela não conhece a qualidade", respondeu sua assessoria por e-mail.

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