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Atletas da vela se dizem decepcionados com saída do esporte de Tóquio-2020

Os atletas que deixavam as águas da Baía de Guanabara, no Rio, neste sábado (17), último dia de regatas da Paraolimpíada, não tinham motivos para comemorar.

Ao que tudo indica, poderão voltar a competir em uma Paraolimpíada somente daqui oito anos, em 2024, já que a vela não está entre os esportes que farão parte dos jogos de Tóquio-2020.

O Comitê Paralímpico Internacional decidiu deixar vela e o futebol de sete de fora dos próximos jogos. A decisão foi tomada no início de 2015 por um conselho com representantes do país sede e das federações internacionais.

A retirada teve como base o regulamento do comitê que exige que para estar em uma Paraolimpíada, o esporte precisa ser "regularmente e amplamente" praticado em 24 países, no caso dos esportes em equipes, ou em 32 países, no caso das modalidades individuais. Vela e futebol de sete darão lugar ao taekwondo e ao badminton.

Sergio Moraes/Reuters
2016 Rio Paralympics - Sailing - 3-Person Keelboat (Sonar) - Rio de Janeiro, Brazil - 17/09/2016. Colin Harrison, Jonathan Harris and Russell Boaden of Australia compete REUTERS/Sergio Moraes NO SALES. FOR EDITORIAL USE ONLY. NOT FOR SALE FOR MARKETING OR ADVERTISING CAMPAIGNS. ORG XMIT: DOM174
Colin Harrison, Jonathan Harris e Russell Boaden, da Austrália, competem na baía da Guanabara

A cada edição, há uma deliberação em relação aos esportes que entram ou saem dos jogos e a decisão pode mudar para 2024. Quatro cidades disputam a sede: Paris, Roma Budapeste e Los Angeles.

O medalhista de ouro na categoria Sonar (barco de três pessoas), o australiano Colin Harrison, 55, se disse decepcionado com a decisão.

Ele, que participou de sua quarta Paraolimpíada e ganhou o bronze em Pequim, afirmou que o hiato de ao menos oitos anos pode desestimular novas gerações. Como veterano, porém, disse estar menos preocupado do que os competidores mais novos.

"Foi uma decisão muito decepcionante do comitê. Temos esperança de que as autoridades conseguirão trabalhar para reverter isso e que a vela volte nos jogos de 2024. É muito importante que o esporte não deixe de estar nos jogos, devido a necessidade de apoio e visibilidade. Oito anos é muito tempo", disse.

O irlandês John Twomey, 61, também classificou como decepcionante a decisão de deixar a vela de fora. Ele, que é uma lenda paraolímpica, decidiu competir na vela em Sydney-00, quando a modalidade passou a integrar o quadro de esportes dos jogos.

A carreira como para-atleta de alta performance de Twomey, contudo, começou muito antes, nos anos 1970. Ele participou de 11 paraolimpíadas, em três esportes diferentes.

Em 1976, em Toronto, ganhou medalha de prata no tênis de mesa, feito repetido na edição seguinte, em Arnhem-80, Holanda, na categoria por equipes.

Twoney só subiu no lugar mais alto do pódio doze anos depois de sua primeira medalha, em Seul-88, no arremesso de disco.

Ele nunca ganhou medalha Paraolímpica na vela —no Rio ficou em último da categoria Sonar—, mas lamentou o fim da modalidade. Ele anunciou que irá se aposentar depois dos jogos do Rio, mas mesmo assim está surpreso com o fim.

"É extremamente decepcionante. Eu fiquei chocando quando soube disse. Eu infelizmente já iria encerrar minha carreira depois do Rio, mas quero continuar ajudando novos atletas", disse.

A federação americana de vela também reagiu à época da definição. "Nosso esporte atrai um grupo diverso de atletas com deficiência em todo o mundo. Estamos trabalhando com as federações internacionais, de vela e de vela adaptada, para recolocar a vela nos jogos de Tóquio", disse.

Ainda havia alguma esperança de que o comitê pudesse ouvir o clamor da comunidade internacional da vela adaptada e recuar da decisão, pelo menos para o esporte constar com competições de exibição, o que até o momento não ocorreu.

"Para chegar a esta decisão, o IPC comprometeu-se com a mais extensa e rigorosa revisão de todos os esportes, a partir de novembro de 2013. A decisão final do conselho não foi fácil e depois de muito debate não incluir vela e futebol de sete em Tóquio-20. Ambas as modalidades não preenchem os critérios mínimos de alcance mundial", disse o comitê à época.

BRASIL

O brasileiro Bruno Landgraf, 30, que ficou em oitavo no ranking geral da paraolimpíada, na classe Skud, ao lado de Marinalva de Almeida, disse que o fim da vela é muito ruim para o esporte no Brasil.

Diferentemente da vela olímpica, a paraolímpica ainda precisa se firmar. Landgraf foi o único brasileiro que esteve em Londres e competiu no Rio. A modalidade nunca ganhou medalhas.

Segundo ele, se por um lado ter oito anos de preparação pode ser algo bom. Por outro, a perda de apoios e visibilidade são muito ruins para o esporte. Ele afirma que para pegar ritmo de competição, é preciso disputar de dois a três mundiais por ano e isso demanda investimento.

"A principal evolução que tive desde Londres foi que participei de mais regatas internacionais, tive materiais melhores para treinar, além de um barco novo e um centro de treinamento, em Niterói. Agora sem a Paraolimpíada é provável que o apoio, que já sabíamos que iria diminuir, reduza ainda mais."

Landgraf ficou tetraplégico após um acidente, em 2006, causar-lhe uma lesão na espinha. À época, ele era uma jovem promessa do futebol. Integrava a equipe juniores do São Paulo e chegou a ser cotado para ser o sucessor de Rogério Ceni.

O acidente ocorreu de madrugada na rodovia Régios Bittencourt. Landgraf perdeu a direção do carro, que capotou e caiu em um desnível na estrada. O quarto goleiro do São Paulo à época, Weverson, e a jogadora de vôlei Natalia Lane morreram na hora. Landgraf quebrou diversas vértebras e chegou a ficar em coma no hospital.

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