Grande Prêmio Folha de Jornalismo 1999
Badan também errou a altura de dublê


04/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-9


Mário Magalhães
Da Sucursal do Rio;

O médico legista Fortunato Antônio Badan Palhares errou ao informar a altura da mulher que "dublou" Suzana Marcolino em 1996, na reconstituição oficial da morte de PC Farias.
No último dia 24 de março, Badan disse em entrevista para rebater reportagem da Folha que a "Suzana" da simulação media 1,67 m, a mesma altura da namorada de PC, conforme relato do legista já desmentido por fotografias _Suzana tinha menos de 1,60 m.
Na sexta, o advogado de Badan, Nivaldo Dóro, reafirmou o dado: "A menina que fez a simulação tem a mesma estatura de Suzana".
Questionado sobre a identidade da pessoa que, na reconstituição conduzida por Badan, "matou" PC e se "suicidou" em seguida, Dóro disse: "Não sei o nome, não era perita, mas participou dessa parte".
A "Suzana" da simulação se chama Noelandi Castro Jimenez Chaves, tem 30 anos e foi medida num aparelho da Unicamp. "Tenho 1,63 m", disse Noelandi à Folha. "Eu achava que tinha 1,62 m, sempre que me perguntavam eu respondia que tinha 1,62 m.
" Na semana passada, ela se mediu sozinha em casa, com fita métrica. Deu 1,63 m. Mais tarde, na Unicamp, confirmou o dado numa balança médica.
Funcionária da Funcamp (Fundação de Desenvolvimento da Unicamp), Noelandi está lotada desde abril de 1996 como fotógrafa no Departamento de Medicina Legal da Unicamp.
Ela foi a Alagoas no fim de junho de 1996 como integrante da equipe chefiada por Badan, o coordenador do laudo oficial que serviu de base para a polícia sustentar que Suzana assassinou PC e se matou.
Em Maceió, Noelandi fotografou as necropsias de Suzana e PC, a reconstituição das mortes e outras atividades do grupo de Badan. Os 4 cm de diferença entre sua altura e a que Badan definiu para Suzana poderia não ter importância, não fosse por três motivos:
1) Badan usou como "prova" o suposto 1,67 m de Noelandi para mostrar que está mesmo convicto de que essa era a altura de Suzana;
2) O legista citou a altura igual como comprovação do rigor com que definiu a altura de Suzana;
3) Foi com Noelandi descalça, sem a bota de salto que usava então, que ele simulou as mortes.
No suicídio, com a fotógrafa sentada na cama, Badan e seus assistentes usaram uma espécie de caneta com raio laser e um fio de náilon para detalhar a trajetória da bala entrando no peito de Suzana, atravessando uma parede de madeira compensada e batendo no braço de uma cadeira.
Com a diferença de tamanho, considerando que o ponto em que a bala passa pela parede e acerta a cadeira são comprováveis, o projétil teria penetrado em Suzana por outro lugar.
Contralaudo realizado em 1997 projetou a altura real de Suzana em 1,57 m, tornando fisicamente impossível o suicídio descrito por Badan _a bala a teria atingido no rosto ou passado sobre os ombros.
Para tornar cientificamente viável o suicídio, a altura de Suzana foi determinada em 1,67 m na simulação computadorizada orientada por Badan.
Amanhã, ele vai depor em Campinas aos delegados que conduzem as novas investigações e ao promotor Luiz Vasconcelos.
Os delegados já disseram que descartam a hipótese de suicídio de Suzana, baseados em fotos publicadas pela Folha. Elas mostram que, com saltos, Suzana era menor do que PC, cuja altura era 1,63 m.

Colaborou Maurício Simionato, da Folha Campinas


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