Grande Prêmio Folha de Jornalismo 1995
Folha revela como empreiteiras e bancos financiam o jogo eleitoral



08/10/95
Editoria: CADERNO ESPECIAL
Página: Especial-1


Da Sucursal de Brasília

A contabilidade da campanha eleitoral de 1994, em 13 dos 27 Estados, comprova que o poder econômico, no mínimo, condiciona as disputas no país. O levantamento obtido pela Folha é inédito. Foi extraído dos computadores do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
É a primeira vez na história política do Brasil em que se expõe o mapa das doações eleitorais. Os dados, obtidos com exclusividade pela Folha, mostram os subterrâneos do relacionamento financeiro entre empresários e políticos.
Antes das eleições de 94, a descrição das contas das campanhas era clandestina. As doações de empresários só foram legalizadas após o escândalo do Collorgate (1992), que resultou no impeachment de Fernando Collor e na prisão de seu tesoureiro, o PC.
Os números expostos neste caderno referem-se a São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Bahia, Espírito Santo, Maranhão, Paraíba, Pará, Acre, Rondônia e Piauí. Nesses Estados, só a campanha de deputados, senadores e governadores eleitos custou R$ 91,4 milhões. Um ano após a eleição, os números referentes aos outros 14 Estados ainda não foram encaminhados a Brasília pelos tribunais.
A única campanha que teve a contabilidade fechada em todo o país é a de presidente da República. A eleição de Fernando Henrique Cardoso consumiu R$ 33 milhões. Somados aos gastos parciais do Congresso e governos estaduais, o custo da campanha de todos os eleitos chega a R$ 125 milhões.
A Folha conversou com especialistas em eleições, entre os quais um tesoureiro de campanha. Descobriu que os números computados pelo TSE, embora representem um avanço, não refletem a realidade. Constituem apenas uma amostragem das despesas. Grande parte dos candidatos utiliza um "caixa dois''. A parcela clandestina das finanças eleitorais eleva o gasto dos eleitos para R$ 375 milhões, excluídos os Estados que ainda estão em débito com o TSE.
Os maiores doadores são as grandes empreiteiras e os bancos. Segundo os dados oficiais, despejaram sobre a eleição, respectivamente, R$ 26,3 milhões e R$ 16,2 milhões. No total, contribuíram com R$ 42,5 milhões.
Empresas ligadas à área de telecomunicações, um setor emergente, também se destacam entre os doadores. Apostaram forte em FHC. Computados os gastos oficiais, deram R$ 1,1 milhão para a eleição do presidente, que propôs e obteve do Congresso a quebra do monopólio da Telebrás. Doaram outros R$ 500 mil a candidatos aos governos estaduais e ao Congresso.
A Folha rastreou emendas de congressistas na Comissão de Orçamento. Encontrou casos de deputados que propuseram a liberação de recursos para obras tocadas por seus patrocinadores eleitorais.
Basílio Villani (PPB_PR), por exemplo, propôs a restauração de um trecho de estrada no Paraná, entregue à empresa Redram, uma de suas colaboradoras. Há também o caso do deputado Aldo Rebelo (PC do B-SP). Crítico da proposta de Lei de Patentes desde 91, o candidato recebeu em 1994 doações de laboratórios nacionais.
No Congresso, a campanha mais cara foi a de José Serra (PSB-SP): R$ 1,894 milhão. Indicado ministro do Planejamento, Serra deu vaga ao suplente Pedro Piva, sócio da Klabin, 12ª no ranking dos maiores doadores.
(Olímpio Cruz Neto, Lucio Vaz, Marta Salomon, Gabriela Wolthers, Vivaldo de Souza e Gustavo Patú)


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