Segredos
do Poder
Estrátegia para bular o edital
25/05/1999
Editoria: BRASIL
Página: 1-13
Sexta-feira, dia 31 de julho. Luiz Carlos Mendonça de Barros, de
São Paulo, telefona para André Lara Resende. O ministro e André
combinam que vão fingir que dariam um financiamento para as seguradoras
do Banco do Brasil, que deveria recusar a oferta. A manobra é apenas
para que o TCU considere a seguradora uma empresa privada, e não
pública.
Se o BNDES se recusasse a dar o financiamento, esse caráter público
das seguradoras ficaria evidente para o TCU. Isso causaria problemas
para o Banco do Brasil, que havia entrado no mercado de seguros
como acionista minoritário. Em troca dessa manobra do financiamento
fajuto, as seguradoras do Banco do Brasil concordariam em reduzir
a participação acionária na Telemar, de 20% para 10%. O BNDES queria
uma redução maior, de 20% para pelo menos 7,3%.
Secretária do BNDES - Presidência do BNDES, boa tarde.
Luiz Carlos Mendonça de Barros - Silvinha.
Sílvia - Oi, chefe.
Mendonça - Sílvia, você faz um favor pra mim?
Sílvia - Claro.
Mendonça - Primeiro, me passa o presidente aí.
Sílvia - Tá.
Mendonça - Depois, vê se o Atiliano (Oms Sobrinho, presidente
da Inepar, que estava no consórcio com Carlos Jereissati)...
Sílvia - (interrompendo) Tá tudo aqui.
Mendonça - Tá? Então manda ele me ligar aqui em São Paulo,
tá?
Sílvia - O Atilano?
Mendonça - É.
Sílvia - Tá bom, peraí. Vou dar o telefone da sua casa?
Mendonça - Hã?
Sílvia - Não. É melhor eu ligar, não?
Mendonça - É. Liga e passa pra ele.
Sílvia - Melhor, né?
Mendonça - É melhor.
Sílvia - Então, tá. Peraí.
Mendonça - Você é uma secretária esperta, hein?
Sílvia - Hum?
Mendonça - Eu gosto de você porque você é esperta.
Sílvia - Ah, não é? Um beijo, tchau.
Mendonça - Tchau.
(silêncio. Mendonça de Barros começa a conversar com alguém que
estava junto com ele em São Paulo, enquanto espera por André Lara
Resende)
Mendonça - (dirigindo-se a essa terceira pessoa) Eu era pra
estar em Verona, ontem. Até saiu... Eu falei, vou pedir autorização,
saiu no "Diário Oficial" com... Eu não pude ir porque, com esse
treco aqui... Mas, agora, vai ficar tranquilo, não tem mais o que
fazer. Nós estamos conversando muito sobre a reorganização do governo
pro segundo mandato.
Tem umas coisas interessantes.
(a autorização para o ministro se ausentar do país saiu na edição
do "Diário Oficial da União" do dia 31 de julho de 98)
(silêncio) Mendonça - Alô...? Alô...?
André Lara Resende - Alô?
Sílvia - Caiu, né? Alô...? Al...? Ai, chefe...
(Mendonça de Barros liga novamente)
Secretária do BNDES - Presidência do BNDES, boa tarde.
Mendonça - Daniela, é o Luiz Carlos Mendonça. O André tá
aí?
Daniela - Está. Um minuto, por favor.
André - Alô?
Mendonça - Oi.
André - Oi, Luiz Carlos.
Mendonça - Me ligou o Ricardo Sérgio, agora.
André - Ahm?
Mendonça - Olha, se você vir a violência que ele olha, André?
André - Hum?
Mendonça - A coisa é mais complicada do que a gente pensa.
André - O que que ele diz?
Mendonça - Ah, diz que se não financiar a seguradora eles
não assinam o documento, porque isso vai... Diz que o TCU tá na...
tá... tá processando eles porque diz que é empresa estatal, aquele
negócio todo, de que aí vai ser uma prova de que é estatal mesmo,
entende?
André - Hum... Puta merda.
Mendonça - Olha... Olha, acho que nós mexemos num treco complicado,
viu?
André - Ééé... Não tem dúvida, não. Olha aqui. Eu tô lendo
aqui no jornal aqui... tá aqui no "Globo", tem dizendo aqui: "Segundo
uma fonte do Banco do Brasil _aí, que participa etc._, o grupo estaria
disposto a vender a participação de 15% (inaudível) ... de 15% a
um preço superior ao que pagou. A Tele Norte Leste tinha potencial
para ser vendida por R$ 1 bilhão a mais, com um ágio de aproximadamente
de 30% sobre o preço mínimo. "Compramos barato, mas quem chega depois
tem que pagar um sobrepreço". Isso, nos jornais... Alô?
Mendonça - Oi.
André - Quer dizer, não tem... É um negócio...
Mendonça - Agora, como é que nós resolvemos isso?
André - (suspira)
Mendonça - Sabe qual é a minha sugestão?
André - Hã?
Mendonça - Em Minas a gente aprende, tá?
André - Hum?
Mendonça - Vocês propõem o financiamento pra eles, e eles
recusam.
André - Mas, não... (engasga) Mas eu... eu... ah, pô... Ô,
Luiz Carlos?
Mendonça - Hã?
André - Acabou de me ligar uma jornalista do "Globo". Eu
só atendi porque ela me ligou ontem em casa e eu fui muito agressivo
e eu liguei hoje de volta. Ela me perguntou, qual é a pergunta que
ela me fez? Se nós íamos financiar as seguradoras. Só essa. Eu disse,
não, mas isso não está em questão porque eles não estão... eles
não estão pedindo, eles não querem financiamento.
Mendonça - Então, acho que a forma de dizer, de resolver
isso aí, é sugerir o financiamento, oferecer o financiamento para
eles, e eles dizerem que não estão precisando.
André - Tá bom. Então, vamos fazer isso.
Mendonça - Tá bom?
André - Perfeito.
Mendonça - Acerta com eles e me avisa aqui.
André - Então, tá...
Mendonça - Agora...
André - Falo... Falo com quem isso?
Mendonça - Ué, tem falar com... quem tá representando o Banco
do Brasil aí?
André - Não tem. Não tem.
Mendonça - Manda ô pra...
André - É o Carlinhos, né?
Mendonça - Fala com o Carlinhos.
André - Tá bom. Vou falar com ele.
Mendonça - Olha, agora, depois nós temos de conversar de
novo com o chefe lá... óóóó... ele vai ouvir a voz do cara. Porque
o Lívio me ligou, o Tourinho, porque o negócio tá um rolo danado
ali também.
André - É, não tem a menor dúvida.
Mendonça- Eu acho que é dali que sai a...
André - É isso, é grande ali.
Mendonça - Então, a proposta é o seguinte. Se é uma questão
formal só como ele me apresentou, diz que se a gente negar o financiamento
vai caracterizar perante o Tribunal de Contas que eles são públicos,
certo? O seguinte, oferece, certo, e eles dizem que não precisam.
Acabou.
André - Tá bom. É porque, aliás, é verdade que o financiamento
é boba... Aliás, não precisam mesmo, porque não têm...
Mendonça - Isso aí é besteira, pô.
André - Tá bom.
Mendonça - Tá, me avisa?
André - Então, tá bom. Tá falado.
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