E N T R E V I S T A

Nicéa não abre mão de pensão e afirma que vai vender comida

Para completar orçamento, ela pretende cozinhar para fora


Evelson de Freitas

Nicéa em seu apartamento na alameda Franca, nos Jardins
 
VAGUINALDO MARINHEIRO
Editor-executivo da Folha Online
CRISPIM ALVES
Coordenador de Cidades da Folha Online

Nicéa Pitta vive enclausurada em casa desde o início de março. Só sai de seu apartamento, nos Jardins (zona sudoeste de São Paulo), para depor. Mesmo assim, é acompanhada o tempo todo por seguranças do serviço reservado da Polícia Militar.

O apartamento é grande, mas não garante uma vida confortável. A sala, cozinha e o escritório estão em reformas, com móveis empoeirados e quase tudo encaixotado.

Ela afirma que parte das obras foi paga por ela (diz que obteve o dinheiro vendendo algumas jóias). A reforma da cozinha, segundo ela, está sendo custeada pelo condomínio do prédio onde mora (teria havido um problema hidráulico que estragou os armários e o encanamento do apartamento).

A ex-primeira-dama afirma estar sem dinheiro. Segundo ela, hoje em dia, o prefeito não paga mais nada.

Nicéa afirma que este é um dos motivos que a levaram a pedir pensão após a definição de separação judicial entre ambos. "Você acha que é prêmio de consolação. Eu sou uma mulher independente, mas não posso me dar a esse luxo (de dispensar a pensão) na vida."

Rodeada de imagens de santos, velas (para se proteger e para iluminar os inimigos, como ela mesma diz) e muitas caixas_ algumas, segundo ela, com provas de corrupção_ a ex-primeira-dama passa os dias em torno do escândalo que criou.

Na cama, exemplares do dia dos jornais mais importantes, revistas e vários controles remotos. Ela afirma que lê tudo, sempre que possível, logo quando acorda.

Nicéa declara não sentir mais nada pelo ex-marido. “Ele teve uma morte dentro de mim, que me fez chorar dois meses.”

Folha Online - Quando a senhora acha que sua vida vai voltar ao normal?

Nicéa - Eu acho que depois das eleições. Porque eu acho que aí é que vai ficar mais calmo. Quero estudar, fazer faculdade de direito, continuar a fazer meu trabalho social e trabalhar. Até lá, eu já estou começando a pensar, por exemplo, em fazer coisas em casa, porque tem formas de trabalhar em casa.

Folha Online - A senhora disse que está sobrevivendo com o dinheiro da venda de umas jóias. Mas esse dinheiro não vai dar para a senhora se sustentar até novembro. Como a senhora pretende se manter até lá?

Nicéa - Não, não, porque jóia nem custa muito.

Folha Online - E como é que a senhora vai se manter?

Nicéa - Agora na Páscoa, eu já estava pensando em fazer ovo de Páscoa. Tem muita coisa que eu posso fazer. Eu sei, modéstia parte, fazer muita coisa. Eu faço um brigadeiro que vocês nunca comeram. Eu sei cozinhar muito bem. Tenho umas receitas diet ótimas. Além disso, posso fazer bijuterias.

Folha Online - Já foi definida alguma pensão no seu processo de separação conjugal com Celso Pitta?

Nicéa - Não, ainda não.

Folha Online - O prefeito está dando algum dinheiro para a senhora?

Nicéa - Até há pouco tempo, as despesas que vinham _conta em débito automático, cartões de crédito, despesas em geral e a despesa da casa, com as notinhas de supermercado e tudo_ a gente enviava para ele e ele pagava. Assim que comecei as denúncias, ele não quis pagar mais nada.

Folha Online - Quanto a senhora pretende pedir de pensão? Tem algum valor estabelecido?

Nicéa - Não, não tenho. Não tenho mesmo.

Folha Online - A senhora faz questão de receber a pensão?

Nicéa - Ah! Claro! Ué? Como não?

Folha Online - Muitas mulheres abrem mão da pensão.

Nicéa - Se ele não tivesse atrapalhado a minha vida nesse meio político, como ele fez. Se não tivesse atrapalhado meu trabalho. Ele me deu um prejuízo enorme... Você acha que é prêmio de consolação (a pensão)? Eu sou uma mulher independente, mas não posso me dar a esse luxo (de dispensar a pensão) na vida.

Folha Online - Caso a senhora venha a se encontrar com o prefeito, qual seria a sua reação?

Nicéa - Eu vejo ele hoje como vejo o Reynaldão (Reynaldo de Barros), como vejo o Naji Nahas, como vejo os vereadores. Ele teve uma morte dentro de mim, que me fez chorar dois meses.

Folha Online - Mas o que a senhora falaria para ele?

Nicéa - Graças a Deus, ele saiu de dentro de mim. Antes, eu tinha pena dele. Mas até esse sentimento de pena acabou. É um estranho. Eu o vejo na televisão e não o vejo mais como o homem que viveu 28 anos ao meu lado, pai dos meus filhos.

Folha Online - Como estão os seus filhos, a Roberta e o Victor?

Nicéa - Claro que com muito sofrimento, com muita dor, mas também se sentem aliviados.

Folha Online - O pai não os procura?

Nicéa - Nem que ele queira procurar vai ter uma resposta. Ele tentou um contato com a Roberta a última vez que ele foi para o exterior. Ele chegou a ir ao prédio dela (Roberta), e como ela se registrou como Roberta Camargo, ele foi impedido de subir. E olha que nessa época eu e o Victor chegamos a pedir para ela recebê-lo.

Folha Online - A Roberta está no exterior, um pouco longe das repercussões do caso. Mas como é que tem sido a vida do Victor? Está estudando, trabalhando...

Nicéa - Graças a Deus ele conseguiu terminar o curso dele, apesar de que parecia um parto. A maior dificuldade do Victor foi que ele teve um bloqueio muito forte.

Folha Online - É o curso de segundo grau?

Nicéa - Segundo grau, coitadinho, poderia já estar formado.

Folha Online - Ele está com quantos anos?

Nicéa - 25. Ele vai fazer cursinho para fazer o vestibular, para poder fazer a faculdade. Ele também vai começar a trabalhar. Ele está falando com uns amigos cujos pais têm empresas.

Folha Online - Ele vai trabalhar com o quê?

Nicéa - Um amigo tem uma empresa de produtos têxteis. O Victor disse que o Augusto vai dar uma força para ele.

Folha Online - A senhora está preparada para a avalanche de processos que vai ter que enfrentar?

Nicéa - Sim. Porque eu tenho muito mais processos a fazer do que eles. Só do ACM tenho três. Maluf, Toninho Paiva... Eu tenho uma lista enorme. Juro mesmo, enorme.

Folha Online - A senhora já definiu quando vai pedir de indenização nesses processo?

Nicéa - Não.

Folha Online - Como é que tem sido o relacionamento da senhora com os vizinhos? Eles têm reclamado?

Nicéa - Nunca. É muito gostoso morar aqui.



Clique aqui para ler a parte da entrevista em que Nicéa fala sobre corrupção na Prefeitura de São Paulo.

 

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