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ASNEIRAS E EQUÍVOCOS
Culpem também a OAB

Rodrigo Zavala
Especial para o GD

Talvez por falta de conhecimento técnico, talvez por mera provocação, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Roberto Busato, comentou que o governo Lula é o principal responsável pelo índice recorde de desemprego. Dados divulgados pelo IBGE mostram números nunca antes alcançados (13,1%) da população economicamente ativa sem emprego em abril.

E Busato foi taxativo: "esse fenômeno se dá porque o governo Lula não consegue implementar um plano de ação que fuja da ortodoxia do mundo econômico internacional e não tem conseguido sanar as necessidades de emprego do país", afirmou em Montevidéu, Uruguai, onde participou da reunião do Conselho dos Colégios e Ordens de Advogados do Mercosul (Coadem).

A leviandade das palavras de Busato refletem também a própria ignorância política para mudar o atual panorama de trabalho brasileiro. Não há projetos eficientes para a geração de trabalho que levem em conta políticas reativas e ativas, que buscam atuar diretamente sobre a qualificação profissional e na oferta ou demanda de trabalho, respectivamente.

Mas o que mais chama a atenção é o desconhecimento de Busato sobre os próprios dados que comenta. Desde os anos 90, a postura oficial do governo era desvincular as questões relativas à geração de emprego da política econômica. Isto é, o emprego foi visto como um produto secundário do crescimento econômico, e não como um objetivo que deveria orientar as políticas da área.

O resultado dessa omissão foi acompanhado durante toda a década: o elevado e persistente desemprego de origem estrutural em segmentos ocupacionais que permanecem na informalidade; o aumento da precariedade das relações de trabalho assalariadas e a enorme desigualdade de rendimentos e salários – além dos baixos níveis de educação da força de trabalho.

Da mesma forma, tampouco podem ser desconsiderados os impactos sobre o nível de emprego provocados pela abertura comercial, pelas novas formas de organização da produção e do trabalho, pelo desenvolvimento tecnológico e pela adoção de uma política econômica que tornou o país extremamente dependente ao financiamento externo.

É a busca pela estabilidade que afetou todo o planeta. De acordo com Comissão das Nações Unidas para a América Latina e do Caribe (Cepal), de 1997 a 2003, só na América Latina, mais de 20 milhões de pessoas passaram para a linha de pobreza. A mesma organização divulgou que o insignificante crescimento econômico desses países, no início dos anos 90, fez com que os cinco anos finais da década fossem considerados "perdidos".

Há muito a se criticar neste governo e Roberto Busato pode e deve fazê-lo. Como representante de um dos mais importantes instrumentos de pressão da sociedade civil organizada, ele também deveria se sentir responsável pelas decisões governamentais. Em vez de jogar ovos, a OAB deveria fazer campanhas em prol do desenvolvimento de políticas públicas eficientes. Se a sociedade não sabe o que fazer, os políticos fazem o que querem. Culpem também a OAB.

 
 
 

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