Após três meses seguidos de baixas, o mercado
de trabalho formal delineou o perfil do trabalhador brasileiro
demitido pela crise econômica que varre o planeta. Dados
do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) obtidos
pela Folha mostram que o maior número de empregos eliminados
ocorreu entre pessoas com renda de 1 a 3 salários mínimos.
Pelos dados detalhados do Caged, o
número de trabalhadores demitidos é maior entre
aqueles com idade entre 25 e 39 anos. Eles representam mais
da metade (57%) das vagas fechadas nos três meses analisados.
Cerca de 70% dos postos de trabalho eliminados atingiram pessoas
entre a quinta série incompleta e o ensino fundamental
completo.
Leia a matéria na íntegra:
Salário de até R$
1.245 predomina entre as 798 mil vagas fechadas em três
meses
Empresas com mais de 500 funcionários
respondem por 34% do saldo total de demissões entre
novembro e janeiro
Após três meses seguidos
de baixas, o mercado de trabalho formal delineou o perfil
do trabalhador brasileiro demitido pela crise econômica
que varre o planeta. Dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados
e Desempregados) obtidos pela Folha mostram que o maior número
de empregos eliminados ocorreu entre pessoas com renda de
1 a 3 salários mínimos.
Entre novembro de 2008 e janeiro deste ano, o mercado perdeu
797.515 postos de trabalho. Desse total, 79% são trabalhadores
com ganhos entre R$ 415 e R$ 1.245 à época.
Os homens foram os principais afetados pelo encolhimento do
emprego formal e respondem por 8 a cada 10 vagas fechadas
no período -especialistas atribuem a tendência
ao fato de que os setores que mais demitiram no período
foram a construção civil e a indústria,
atividades dominadas pelo sexo masculino.
Além disso, os números do cadastro revelam que
as grandes empresas foram as que mais cortaram empregos com
carteira assinada por conta da crise. Os estabelecimentos
com mais de 500 funcionários responderam por 34% do
saldo total de demissões. No período, essas
empresas fecharam 271.015 postos de trabalho.
Especialistas consultados pela Folha avaliam que os sinais
apontados por esse conjunto de informações são
preocupantes e levam a crer que a crise no mercado de trabalho
pode estar só no começo e, diferentemente de
outras ocasiões, desta vez chegou mais rápido
do que se esperava.
"Todos os dias estamos vendo nos jornais que são
as grandes empresas que demitem mais, como é o caso
da Embraer. Isso tem um efeito "bola-de-neve". Agora,
são as grandes. Depois, os provedores delas começarão
a demitir. Pode ser só o começo da crise no
mercado de trabalho", afirma Janine Berg, especialista
de emprego da OIT (Organização Internacional
do Trabalho) no Brasil.
Apesar de considerar o efeito "bola-de-neve" uma
tendência, o professor da Unicamp José Dari Krein
ressalta que muitos elos da cadeia produtiva já fizeram
seus ajustes. "No setor automotivo, o segmento de autopeças
já demitiu. O que é preocupante em relação
a grandes empresas demitindo é que isso vai resultar
em uma desestruturação do mercado de trabalho,
como a que ocorreu nos anos 90."
Baixa qualificação
Na avaliação de Krein, já era de esperar
que o contingente de renda mais baixa fosse mais afetado pela
crise. Historicamente essa é a parcela que mais entra
e sai do mercado. "Há uma elevada rotatividade
de mão-de-obra devido à baixa qualificação.
Todos os anos, 40% dos trabalhadores são demitidos
e recontratados."
Fábio Romão, economista da LCA Consultores,
pondera que, proporcionalmente, a crise teve efeitos mais
devastadores entre os trabalhadores com renda acima de 20
salários mínimos. "Para os que ganham menos,
há um impacto maior por conta do volume. Mas, se olharmos
a proporção de admitidos e desligados no período,
para a faixa acima de 20 salários, as demissões
ficaram 118% acima das contratações."
Segundo ele, isso é reflexo das fusões ocorridas
na economia recentemente e, agora, da necessidade de enxugamento.
Pelos dados detalhados do Caged, o número de trabalhadores
demitidos é maior entre aqueles com idade entre 25
e 39 anos. Eles representam mais da metade (57%) das vagas
fechadas nos três meses analisados.
Cerca de 70% dos postos de trabalho eliminados atingiram pessoas
entre a quinta série incompleta e o ensino fundamental
completo.