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06/03/2007
A violência da desinformação

 

Boa parte dos políticos discute violência como se estivesse discutindo futebol, de olho nos aplausos fáceis

Para se aproximar dos jovens da periferia paulistana, distantes e desconfiados da polícia, o cabo Adolfo Lora imaginou que latas de spray serviriam como eficientes armas. Propôs um festival de grafite, usando como tema o aquecimento global. " A adesão foi imediata", conta.

Prevista para ocorrer neste final de semana, a intervenção de arte é uma ínfima pincelada neste imenso painel de experiências contra a barbárie em que se transformou o Jardim Ângela, considerado, no passado, a região mais violenta do mundo. O cabo Adolfo faz parte do policiamento comunitário da região.

Se estivermos mesmo preocupados em enfrentar a barbárie, deveríamos levar muito mais a sério o significado dessas pinceladas promovidas por um policial, quase clandestinas, do que os debates, repletos de holofotes, de boa parte da classe política.

Dá para mostrar, em números, como a opinião pública vem sendo iludida e desinformada no debate sobre a violência.

A morte de João Hélio trouxe a sensação, para muitos, provavelmente a maioria, de que reduzindo a maioridade penal ou aumentando as penas a população estaria mais segura. Será?

De acordo com as estatísticas oficiais, oscila entre 1% e 3%, no Estado de São Paulo, o número de assassinatos cometidos por menores de 18 anos, parte deles motivados por guerra de quadrilhas e tráfico de drogas; essas porcentagens não diferem substancialmente no país.

Vamos a mais números, valiosos para alertar a opinião pública contra a lei do menor esforço, sempre usada em momentos de comoção - são as saídas fáceis, lançadas por políticos e comunicadores, para assuntos complexos.

Desde 1999 até o ano passado, verificamos as seguintes quedas nos índices de criminalidade em São Paulo: 57,6% nos homicídios, 57,4% nos latrocínios (roubo seguido de morte), 43,3% em tentativas de homicídio. Na capital, esses crimes, especialmente os homicídios, caíram com intensidade ainda maior. Os níveis continuam, claro, altos para uma nação civilizada.

A queda ocorreu - e continua ocorrendo- sem que se diminuísse a maioridade penal, que consiste na ilusão de que ao jogar um adolescente numa jaula com adultos iremos proteger a sociedade. E também ocorreu sem que se diminuíssem substancialmente a pobreza e o desemprego.

Ao observarmos algumas das medidas gerenciais do policiamento de São Paulo, percebemos um avanço no uso de novas tecnologias de informação. Desenvolveu-se um sistema de mapeamento dos crimes, bairro a bairro, dando maior eficiência à ação repressiva. Por causa, em parte, desses recursos, aumentou consideravelmente a elucidação dos assassinatos.

Melhoraram-se a análise e a transmissão de informações que chegam pelo Disque-Denúncia, indo mais rapidamente ao patrulhamento na rua. Instalaram-se mais bases móveis, motocicletas e bases de policiamento comunitário.

No lado da prevenção, houve a campanha de desarmamento, redução do horário de funcionamento dos bares, ampliação de programas sociais e de renda mínima, mobilização de entidades não-governamentais, abertura de escolas aos finais de semana, entre outras iniciativas. Em alguns bairros mais violentos, como o Jardim Ângela, focou-se com mais intensidade na juventude.

O que cada um desses itens pesou é uma enorme dúvida, mas existe o consenso de que o crime tem múltiplas causas - e, portanto, seu enfrentamento depende de múltiplas ações.

É uma intervenção de alta complexidade. Não basta apenas aumentar a repressão, nem imaginar que estaremos salvos quando diminuir a miséria.

Na semana passada, um estudo preparado por uma organização internacional revelou que cidade ricas para os padrões brasileiros são, em vários casos, mais violentas do que cidades muito pobres.

Boa parte dos políticos discute violência como se estivesse discutindo futebol, com base no senso comum e, como sempre, de olho nos aplausos fáceis. Baixe-se a maioria penal e aumentem-se as penas, logo baixará a violência.

Tais saídas são mais fáceis de expor do que falar em sistemas gerenciais da polícia, de mecanismos de recuperação de infratores como o bem-sucedido exemplo de São Carlos e Porto Alegre, da montagem de redes no Jardim Ângela, da construção de bairros educativos em Nova Iguaçu e Belo Horizonte que envolve a articulação de todas as políticas sociais, as escolas de ensino médio em tempo integral em Pernambuco, das articulações, pela arte, nas áreas de conflito do Rio pelo AfroReggae, das experiências de capacitação profissional de jovens ou do programa do Instituto de Psiquiatria da USP para unificar as ações púbicas para as crianças de rua em São Paulo.

E assim ficamos nas mãos de adultos que são ignorantes - ou, ainda pior, tiram proveito da ignorância.


PS-Lula foi um dos que ajudaram a dar equilíbrio ao debate, decidindo assumir o desgaste ao enfrentar a compreensível comoção popular.

Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   

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