REFLEXÃO


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urbanidade
22/04/2009

Bem na foto

A paixão pela fotografia começou a ir para dentro da escola. A Pedroso de Moraes incluiu a fotografia no currículo

A atriz e escritora Bruna Lombardi assina o texto de apresentação da exposição de fotos de Rosa de Luca, mostrando ângulos originais da cidade de São Paulo -os dez painéis serão exibidos, neste mês, na única galeria fotográfica a céu aberto da cidade, localizada na avenida Pedroso de Moraes, quase esquina com a Rebouças.
As exposições ali se incorporaram há muito tempo na paisagem, por onde já passaram alguns dos melhores fotógrafos brasileiros -a Nasa, por exemplo, cedeu imagens da Lua. Mas o ângulo mais interessante é invisível aos olhos -e está atrás dos gigantescos painéis, substituídos a cada dois meses.

A história começa com um menino que estudou, na década de 1960, na escola pública (Pedroso de Moraes) que fica atrás daqueles painéis. "Eu, minhas irmãs e muitos primos estudamos ali. Tinha uma ótima qualidade", conta Carlo Cirenza.
Adulto, Carlo viu sua antiga escola por um outro ângulo. "Uma decepção", resume. E, nessa visão, nasceu aquela galeria.

Por coincidência, Carlo montou seu estúdio de revelação e ampliação de fotos num prédio exatamente em frente à escola Pedroso de Moraes. Curioso, cruzou o portão e foi rever a sua sala de aula.

Mas quase nada batia com suas recordações. Janelas e portas depredadas, paredes e muros sujos, o piso descolado. "Quando estudávamos lá, era comum os pais dos alunos fazerem mutirões para cuidar da escola. Pelo menos uma vez por ano, faziam uma pintura coletiva." Eram os tempos em que a classe média ainda frequentava o ensino público.

Dessa vez, foi ele quem tentou manter aquele espaço. Além das pequenas reformas, propôs que se criasse a galeria e chamou fotógrafos para participarem da experiência -eles cederam seus trabalhos. Até porque é visibilidade garantida. Pelo número de carros que passam pela rua a cada minuto, é, de longe, a galeria de fotos mais visitada do país. O efeito maior é à noite, por causa dos holofotes.

A paixão pela fotografia que se via do lado de fora da escola começou a ir para dentro. A direção da Pedroso de Moraes resolveu incluir a fotografia em seu currículo -ali, só estudam crianças até seis anos. Elas aprenderam a fotografar apenas com uma lata, na qual se faz um furo (pinhole).

Mas o grande projeto de Carlos -ainda no papel- é que os fotógrafos que participam das exposições possam fazer oficinas com as crianças, ensinando-as a desenvolver o olhar. Em tese, não é tão difícil assim -possivelmente a maioria dos fotógrafos da cidade vive ou trabalha num raio de um quilômetro daquela escolinha. "As imagens são a edição da vida do ser humano."

Para Carlo, aquele espaço virou a imagem em que preferiu fazer sua edição.

PS - Para quem não puder ver a nova exposição de Rosa de Luca, montei uma galeria neste link. É um dos ângulos mais originais que já vi sobre a cidade de São Paulo.


Coluna originalmente publicada na Folha de S.Paulo, editoria Cotidiano.

   
   
 
 

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