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REFLEXÃO


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urbanidade
24/12/2003

Vila Maria entra na vanguarda

O personagem da coluna de hoje não é um indivíduo, como de costume, mas um prédio desconhecido, sem nenhum atrativo arquitetônico capaz de fazê-lo figurar na história da cidade.

Trata-se do edifício que abriga a unidade da Febem da Vila Maria. O fato de estar bem em frente a um quartel da tropa de choque da Polícia Militar não foi suficiente para intimidar os 38 internos que recentemente conseguiram escapar de suas dependências -situação que nos leva a supor que a fuga tenha ocorrido com a conivência dos monitores. Aliás, com base na confissão de dois jovens, foi registrado um boletim de ocorrência, em que se relata que um monitor lhes teria cedido uma arma. Assim se vê a que ponto chegou a Febem.

Rebeliões e fugas fazem parte da rotina dos jovens privados de liberdade, muitas vezes vítimas de maus-tratos. Mas, naquele ponto da zona norte paulistana, prepara-se uma experiência que, ainda que não traga grandes resultados, certamente mudará um pouco o aspecto daquilo que tem sido até hoje a Febem.

Escolheu-se aquela unidade da Vila Maria como um laboratório de engenharia comunitária para que os jovens não só deixem de fazer rebeliões, encenando as costumeiras fugas, mas consigam fazer o trajeto da prisão para o mercado de trabalho. Num reconhecimento de suas limitações, o governo estadual iniciará, na Vila Maria, a experiência de terceirização da Febem, entregando-a a uma entidade especializada em educação.

Será firmado contrato de gestão, segundo o qual a entidade deverá cumprir metas em tempo determinado. Na Vila Maria, haverá apenas 120 adolescentes, divididos em três grupos de 40.

A idéia é fazer as mais diversas parcerias com a comunidade, reforçando não só o atendimento psicológico mas também programas de arte e tecnologia, além de projetos profissionalizantes. A idéia é que, ao sair, o jovem já esteja habilitado a entrar no mercado de trabalho. Para tanto, algumas empresas se disporiam a receber menores em regime de liberdade assistida.

Tudo isso está, por enquanto, só no papel. Levará muito tempo até que se possa avaliar a experiência, com início previsto para o próximo semestre. Os riscos de fracasso são imensos, especialmente se novos funcionários não forem treinados. Mas, com a iniciativa, a Vila Maria, conhecida como antigo reduto de admiradores de Jânio Quadros, que a elegeu como bairro do coração, entra na vanguarda da experimentação social brasileira.

Coluna originalmente publicada na Folha de S. Paulo, na editoria Cotidiano.

   
 
 
 

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