O oftalmologista Cláudio Lottenberg
nunca parou de fazer cursos. Além da pós-graduação, complementou
os estudos de sua especialidade na Europa e nos Estados Unidos.
Para gerir o hospital Albert Einstein, sinônimo de excelência
médica até mesmo para os parâmetros internacionais, Lottenberg
se matriculou em programas de gestão hospitalar em duas faculdades.
Nada disso se compara, em intensidade de aprendizado, à sua
experiência de cinco meses trabalhando com saúde pública -da
qual quase saiu doente. Com isso, ele aprendeu a ver melhor
como funciona a política. "Foi uma espécie de pós-graduação."
Presidente do Albert Einstein, onde todos os procedimentos
são acompanhados e avaliados, Lottenberg se tornou, no início
deste ano, secretário municipal da Saúde em São Paulo, onde
pouca coisa é medida e avaliada. Ele ainda está sistematizando
tudo o que aprendeu nessa "pós-graduação intensiva", mas uma
dessas lições é a relação entre mídia e saúde, ponto onde
residiu sua incapacidade para se manter no cargo além de cinco
meses. "Não estava preparado para lidar com o problema da
visibilidade."
Lottenberg sabia que no setor público existem escassos indicadores,
programas são interrompidos por causa de oscilações políticas
e há dificuldade de comunicação entre departamentos e servidores.
"Me sentia preparado para apresentar soluções técnicas." Ele
não sabia, porém, de um detalhe da política: num tempo de
pesquisas de opinião periódicas para avaliar o desempenho
do governo, não basta apenas fazer, é preciso mostrar. A sobrevivência
do governante está, segundo ele, na sua capacidade de fazer
bem feito e de dar visibilidade às suas ações. "O problema
é que nem sempre essa visibilidade tem a ver com consistência."
Os processos consistentes, segundo Lottenberg, são demorados,
complexos e custam a "dar notícia", ou seja, demoram para
exibir resultados. Nas entrelinhas, ele diz que os governantes
e seus assessores de imagem e de marketing são obrigados a
alimentar a mídia de eventos. "Existe um processo natural
de demandas numa sociedade democrática e uma justificada angústia
com o quadro da saúde, mas também existe uma pressa da mídia
por resultados, a qual os políticos têm de atender."
Nada disso deixou Lottenberg pessimista. Tanto a população,
em geral, como a mídia, em particular, segundo ele, estão
aprendendo a entender não só os eventos mas também os processos.
Ele, pelo jeito, aprendeu que faltou-lhe um curso: o de práticas
políticas em sociedades midiáticas.
Coluna originalmente publicada na
Folha de S. Paulo, na editoria Pensata.
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