REFLEXÃO


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pensata
29/10/2007

E se tivessem abortado Lula?

A mãe de Lula era analfabeta, pobre e tinha vários filhos; o pai era omisso e violento. Isso significa que aquela criança corria um risco de se tornar um marginal violento. Aparentemente, a bem-sucedida trajetória do presidente desmontaria a idéia de que existe uma relação entre violência e planejamento familiar, exposta pelo governador Sérgio Cabral que, entre as várias medidas para aumentar a segurança, defendeu o aborto. E se tivessem abortado Lula, sob argumento de que pobre não deveria ter muito filho?

Lula é um magnífico caso a justificar a associação entre planejamento familiar e violência. A julgar por várias de suas entrevistas, a mãe teve em sua vida um papel decisivo para que ele estudasse. Aí está a questão essencial: Lula sentia-se acolhido, desejado e apoiado, recompensado a ausência paterna.

O problema é quando a mãe tem uma gravidez indesejada e vê um filho como estorvo, o que se traduz em omissão e agressões. Some-se a essa violência doméstica o ambiente hostil fora de casa, com uma cadeia de rejeições, para se entender a "fábrica de marginais". Note-se que o período em que Lula era adolescente ainda havia abundância de emprego.

Se tivessem abortado Lula, perderíamos um personagem associado, gostem ou não dele, ao avanço da democracia no país. Mas se ele não contasse com uma mãe acolhedora, a chance de estudar (notem a importância com que ele fala de seu curso no Senai) e ter um emprego, provavelmente aquela inteligência seria usada para a violência.

Resumindo: ajudar as mães a não terem filhos indesejáveis é um ingrediente, entre vários como a chance de estudo e emprego, para a segurança social.

***

Coloquei no site histórias de jovens pobres que, vindo de escolas públicas, estão demonstrando excepcional desempenho. Por trás deles, há sempre apoio da família junto com o de um professor.

Coluna originalmente publicada na Folha Online, editoria Pensata.

   
 
 
 

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