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rio de janeiro
04/03/2005
ONG capacita mulheres a criarem programas de rádio com olhar feminino
Algumas entidades apostam num diferencial para propagar a igualdade de gênero. São muitos os instrumentos utilizados. Oficinas, Fóruns, cursos de capacitação e inclusive uma rádio bem diferente. Ou melhor, uma rádio com um olhar 'lilás' sobre as questões cotidianas. Essa foi a proposta de um grupo de mulheres ativistas que buscavam um canal de comunicação para divulgar seus desejos e seus direitos frente a uma sociedade ainda preconceituosa.

A ONG Comunicação, Educação e Informação em Gênero (CEMINA), criada nos anos 80, surgiu para dar voz e vez às mulheres, questionando valores e estruturas da sociedade. A primeira iniciativa da entidade foi o programa Fala Mulher, que surgiu em 1988 a partir de um grupo de voluntárias, que se profissionalizou. O programa fez escola e foi transmitido durante 12 anos na rádio Guanabara e Rede Bandeirantes do Rio de Janeiro.

"O programa Fala Mulher foi pioneiro em produzir algo diferente para as mulheres. Não tratava de dicas de beleza, receitas de bolo e coisas domésticas, mas impulsionava um pensamento próprio para a mulher", comenta Denise Viola, coordenadora do Núcleo de Produções Radiofônicas do CEMINA.

Com o sucesso do programa Fala Mulher, um público formado por líderes comunitárias e entidades queria aprender a utilizar a rádio como instrumento de luta para as relações de gênero. Assim, a CEMINA passou a oferecer cursos de capacitação. A entidade agrupava os interessados de acordo com o tema para começar as turmas, que ficavam de quatro a cinco dias reunidas para aprender a elaborar uma matéria e editar o produto final. Há aulas teóricas e práticas para as pessoas poderem manusear tanto a mesa de operação do áudio, quanto elaborar uma pauta.

Maria das Graças Rocha, secretária executiva da Federação das Rádios Comunitárias do Rio de Janeiro e responsável pela rádio comunitária Novo Ar, fez o curso de capacitação de rádio com a CEMINA e contou que aprendeu muitas coisas. "Até me informei mais sobre questão da mulher. Quando aparecia um caso de violência, já sabia para onde encaminhá-la e sabia também orientá-las sobre a necessidade das políticas públicas", disse Graça.

O CEMINA fez mais de 300 capacitações, principalmente para três tipos de públicos: comunicadoras populares, que queriam potencializar suas atividades radiofônicas; lideranças dos grupos de mulheres, que estavam interessadas em ter o rádio como instrumento de mobilização; e rede de jovens, estimulando a troca de informação entre líderes comunitárias e pessoas ligadas à rádio e à causa feminista.

No começo do curso, os alunos iam para a sede da CEMINA, mas depois a entidade achou mais interessante estar conhecendo o local, onde seria implantada a rádio comunitária para presenciar os problemas da região e daquelas mulheres. De acordo com Denise, a entidade busca trabalhar e atender pessoas que estejam inseridas neste universo do olhar diferenciado. Além disso, procuram patrocinadores para ajudar no custo da viagem e até na infra-estrutura da futura rádio.

Segundo Silvana Lemos, coordenadora do projeto de rádio e TICs (tecnologias da comunicação e informação) do CEMINA, quem não sabe manusear o computador já está excluído em boa parte do mercado de trabalho. Por isso, a importância dos cursos de inclusão digital do CEMINA. "As novas tecnologias constróem pontes e possibilitam melhor qualificação profissional para a mulher", afirma Silvana.

Como cinco dias eram pouco tempo, as líderes comunitárias que participavam do curso de formação em rádio decidiram criar a Rede de Mulheres no Rádio. Uma articulação nacional, que surgiu da vontade das participantes fortalecerem e estimularem a troca de experiências. A rede começou em 1995 com 30 mulheres e hoje já conta com cerca de 400.

Criada a partir dos cursos de capacitação, as integrantes da rede fazem parte da Rede Cyberelas, que é uma das estratégias do Projeto de Inclusão Digital de Mulheres Comunicadoras. Na medida em que a entidade obtém recursos para promover a inclusão digital dessas comunicadoras populares e suas respectivas rádios, elas recebem computadores, softwares especializados em edição e montagem de programas de rádio e são incentivadas a trocar conteúdo via internet. As rádios também oferecem a proposta de telecentros para as comunidades onde se localizam.

Deusilina Teles, diretora da rádio Vitória 104,9 FM, tinha o sonho de trabalhar com rádio. Como ela diz: "Fui no peito e na raça aprender a manusear a rádio". Ex-aluna do curso de capacitação de rádio da CEMINA e de Inclusão Digital, a senhora de 50 anos tem o programa Sabor de Mulher, que aborda direitos humanos, aborto, trabalho doméstico e outros assuntos referentes ao universo 'lilás'. "Adquire valor pela vida. Nem me lembro mais que tenho 50 anos, me sinto com 15", afirma Deusilina.

"Passo todas as informações para as minhas amigas. Com isso, a gente vence paradigmas, ocupa um espaço maior na sociedade e tem uma mente aberta. Eu faço de tudo no meu programa. Faço até link [entradas ao vivo]", conta Deusilina.

Já Micheline Américo, do Centro das Mulheres do Cabo e ex-aluna do curso de rádio, participa do eixo projeto Rádio Mulher, do programa Direito Sexuais e Reprodutivos da Mulher. O projeto da rádio é realizado pelas mulheres da região da Mata Sul de Pernambuco, que estão procurando promover a fala pública da mulher, abordando questões como planejamento familiar, DST-AIDS, mulher no mercado de trabalho, direitos humanos, saúde da mulher e outros. A linha editorial da rádio é a perspectiva feminista. "Vamos procurar passar os conhecimentos obtidos pelo curso dado pelo CEMINA para as mulheres desta região, que vão se tornar multiplicadoras. Assim, vamos nos pautar pelas bandeiras do feminismo", aponta Micheline.

Em agosto de 2002, o CEMINA expandiu seu projeto social para o site Rádio Fala Mulher, que promove a eqüidade de gênero através da internet e sua principal pauta é a mulher nos diferentes aspectos (comportamento, etnia, saúde, direitos, juventude, poder local e assuntos de seu cotidiano).

Há programa de debates sobre assuntos polêmicos, entrevistas com pessoas relacionadas a saúde da mulher, um quadro sobre juventude feminina chamado "Incomodadas - Incomodadas ficava sua avó!", um programa comportamental intitulado "Com a Mão na Massa", esquetes (programas curtos que dramatizam cenas do cotidiano feminino) e campanhas de diversos spots (pequenas peças de divulgação) sobre parto humanizado, mulher e meio ambiente, sexualidade, violência contra a mulher e outros.

"A gente trabalha a rádio com um olhar diferenciado. Costumo dizer que usamos uma lente lilás em todos os assuntos, um olhar de gênero. Procuramos mostrar o papel da mulher no meio ambiente, direitos da mulher, violência contra a mulher, prevenção às DST/AIDS, amamentação e outros assuntos do universo feminino", conclui Denise.

Serviço:
CEMINA - Comunicação, Educação e Informação em Gênero
Rua Álvaro Alvim, 21 - 16º andar
Centro - Rio de Janeiro
Tel. (21)2262-1704
e-mail: cemina@cemina.org.br
www.cemina.org.br

SUSANA SARMIENTO
do site setor3

 
 
 

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