A Internet é muitas vezes
criticada por isolar as pessoas, fazer com que elas tenham
acesso a tudo sem precisar do contato humano e nem sequer
sair de casa. Os Internautas Sem Fronteiras vieram para provar
o contrário: as relações humanas deixam
de ter os limites das barreiras geográficas por meio
deste veículo de comunicação.
O argentino, radicado na França, onde mora desde 1997,
Georges Godoy, está à frente deste trabalho
que tem como objetivo incentivar a relação de
solidariedade por meio da Internet. Os Internautas Sem Fronteiras
se comunicam por meio da Internet para auxiliarem pessoas
a conseguirem remédios ou órgãos para
transplante, por exemplo.
Quem tiver alguma necessidade ou disposição
para ajudar, tendo mais do que 18 anos, pode entrar no site
www.internautessansfrontieres.org
e se cadastrar para ser ajudado ou ajudar. Não há
cobrança nem remuneração pelas ações.
De família de imigrantes, Georges, hoje com 44 anos,
foi acostumado desde criança a não se intimidar
pelas fronteiras. Com dupla nacionalidade, o franco-argentino
freqüenta diversos países e idiomas sem se deixar
intimidar: já deu quatro voltas ao mundo e fala sete
idiomas.
Cidadania-e: Qual sua profissão?
Georges Godoy: Tenho várias profissões.
Comecei como técnico em comunicações
e recebi a licença internacional de Operador de Radiocomunicações,
da União Internacional de Telecomunicações
(UIT). Fui Radiooperador da marinha mercante durante 20 anos.
Mas sempre gostei muito de medicina e, quando podia, fazia
cursos para me manter em contato com esta minha paixão
natural. No entanto, nunca tive a oportunidade de ser médico.
E, apesar de ser argentino, tenho muito orgulho de ser Socorrista
da Cruz Vermelha Brasileira. Também fiz cursos de Paramédico
que me permitiram obter o título de chefe de paramédicos
em UNIKOM (Missão de Observação das Nações
Unidas em Iraque-Kuait, na sigla em inglês). Tenho especialidade
em emergências médicas, resgates em helicópteros,
pronto-socorro e zonas de conflito.
Cidadania-e: Quando foram criados os Internautas
Sem Fronteiras e o que os motivou?
Georges Godoy: Foi criado em 15
de abril de 2004, a partir da necessidade global de unir a
todos os seres humanos de boa vontade do mundo, o que é
possibilitado pela Internet.
Cidadania-e: Qual é o objetivo?
Georges Godoy: O objetivo deste, que não é
um grupo, mas toda a humanidade, é conectar todos que
têm o mesmo pensamento e criar uma “bolsa de problemas
e soluções”. Sempre encontramos pessoas
que dizem “Isso é uma injustiça”
para diversos fatos da vida. E o pior é que normalmente
é mesmo Não podemos suportar mais que, havendo
tecnologia e dinheiro para se mandar foguetes ao espaço
e, havendo tecnologia para curar doenças, ainda haja
gente morrendo porque é pobre. Queremos que todo mundo
tenha direito aos mesmos tratamentos, ao mesmo respeito. E
isso é possível.
Cidadania-e: Como vai funcionar esta “bolsa
de problemas e soluções”?
Georges Godoy: É uma rede mundial de emergências,
onde todos seremos responsáveis. Não os países,
mas os civis, cada cidadão. Vamos fazer com que cada
ser humano seja responsável pela morte ou vida daqueles
do outro lado do mundo. Um cidadão do Brasil vai poder
ficar feliz porque um cidadão das Filipinas viveu graças
a um medicamento que ele enviou.
Cidadania-e: O que falta para se conseguir que todos
tenham direito aos mesmos tratamentos?
Georges Godoy: Só falta um pouco de boa vontade
e união. Ainda que pareça utópico O que
falta para a humanidade é confiança em si mesma.
Falta união. E isso é o que pretende o Internautas
Sem Fronteiras.
Cidadania-e: Os Internautas Sem Fronteiras são
financiados por algum grupo?
Georges Godoy: Não temos ainda nenhum apoio
econômico. Eu, como presidente, e nossa tesoureira estamos
pagando os servidores da Internet. Não sabemos por
quanto tempo mais poderemos suportar isso, uma vez que as
contas estão se acumulando, temos gastos com telefone,
luz e outros. Seguiremos fazendo enquanto pudermos.
Cidadania-e: Como tem sido a participação
de brasileiros?
Georges Godoy: Os Internautas Sem Fronteiras não
têm ainda muito eco no Brasil, talvez ainda pela pouca
força de nossos meios de divulgação.
Deve-se considerar que a publicidade exige dinheiro e nós
não o temos. Mas temos confiança que ainda vamos
conseguir ter eco no Brasil e inserir uma consciência
humana na Internet brasileira, a fim de concretizar nossos
objetivos, que são os objetivos de todos.
Cidadania-e: O site dos Internautas Sem Fronteiras
pode ser lido em espanhol, francês e inglês. Já
há planos para tê-lo em outros idiomas, como
o português?
Georges Godoy: Precisamos de alguém
que nos ofereça a tradução e então
teremos o site em português imediatamente. Ao mesmo
tempo, solicitamos àqueles que queiram traduzir o site
em qualquer idioma que entrem em contato e nos enviem sua
colaboração.
Cidadania-e: Os Internautas Sem Fronteiras ajudam
somente ao próprio grupo ou a outros também?
Georges Godoy: Prestamos auxílio a todos que
necessitem. O único requisito é inscrever-se
no site e ter mais de 18 anos. Após inscrever-se, a
pessoa passa uma mensagem, que é retransmitida a todos.
A inscrição e todos os serviços que prestamos
são gratuitos e as informações são
controladas apenas a fim de se evitar problemas legais. Mas
nada do que se passa em nossa rede é divulgado. Tudo
é mantido em sigilo, para proteger a identidade dos
membros e seus familiares.
Cidadania-e: Quais os programas e ferramentas de
comunicação utilizados pelo grupo?
Georges Godoy: Basicamente, usamos o IRC –
Internet Relay Chat (Conversa Retransmitida Pela Internet)
– e trocas de e-mails [o IRC é uma ferramenta
para comunicação escrita em tempo real, que
permite a reunião virtual de várias pessoas].
E apesar do MIRC [um software proprietário que permite
a entrada na rede IRC] ser o mais comum, há vários
outros softwares livres para isso, que podem ser utilizados
sem pagamento. A rede [Internet] nasceu livre e deseja que
todos sejam livres.
SANDRA FLOSI
da Fundação Banco do Brasil
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