Heitor
Augusto
O ano era 1922. Todos usavam terno e gravata, estavam empolgados
com a modernidade – ou descrentes dela. O mundo acabava
de sair de uma guerra que vitimou cerca de 20 milhões
de pessoas. As vanguardas européias agitavam as artes
plásticas.
Hoje, oitenta e cinco anos depois, nem todos usam terno e
gravata. A modernidade virou pós-modernidade. O mundo
assiste à ocupação americana no Iraque.
A arte ultrapassou a fronteira do belo.
O que liga os anos de 1922 e 2007? A antropofagia, que é
o mote da Semana de Arte Moderna da Periferia, que começa
neste domingo, 4. Se em 22 a essência do modernismo
brasileiro era digerir o que vinha de fora e devolver com
um toque brasileiro, agora a idéia é fazer a
“antropofagia periférica”.
“A nossa Semana é uma mostra cultural com arte
feita por quem é da periferia. Nos apropriamos de um
nome usado pela elite para provocar”, explica Sérgio
Vaz, da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia). Mais
de 40 grupos e cerca de 300 pessoas estão envolvidas
com a realização do evento.
Assim como em 22, cada dia é temático (veja
programação abaixo). A abertura é no
domingo com uma caminhada cultural. Uma carreata de berimbau,
bumbo, triângulo e cantoria vai sair do Largo do Socorro
até o Largo da Piraporinha, onde fica a Casa de Cultura
do M’Boi Mirim, zona sul, para convocar a população.
“Às vezes o próprio povo não sabe
que existem artistas da periferia”, avalia Vaz.
“A favor do batuque da cozinha”
A dança, que é defendida no Manifesto
da Antropofagia Periférica como aquela que “desafoga
no lago dos cisnes”, vai ganhar espaço na terça-feira,
com capoeira, dança indígena e afro contemporâneo.
Na quarta, a “literatura das ruas despertando nas calçadas”
será reverberada com o debate “A produção
literária na periferia”, que terá a participação
de Alessandro
Buzo, autor de “O Trem” e “Suburbano
Convicto”.
O cinema ganha espaço na quinta-feira, com exibição
de curtas-metragens no CEU Casa Blanca e no Terminal Capelinha
de ônibus. O teatro ganha os palcos com encenações
de peças desde as 11h da sexta-feira. O encerramento
é no sábado, dia da música, com shows
que vão do samba (com Chapinha do Samba da Vela) ao
rap do Periafricania.
Para todos os públicos
Sérgio Vaz explica que a Semana é para mostrar
a todos os públicos a produção artística
de quem vem da periferia. “Não é movimento
de vítima, é movimento de quem faz. É
mostrar que, mesmo com dificuldades e sem leis de incentivo,
têm de ser feito”.
Clique
aqui e confira a programação completa da
Semana de Arte Moderna da Periferia
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