arte moderna
01/11/2007

Mostra de cultura propõe “antropofagia periférica”

Heitor Augusto


O ano era 1922. Todos usavam terno e gravata, estavam empolgados com a modernidade – ou descrentes dela. O mundo acabava de sair de uma guerra que vitimou cerca de 20 milhões de pessoas. As vanguardas européias agitavam as artes plásticas.

Hoje, oitenta e cinco anos depois, nem todos usam terno e gravata. A modernidade virou pós-modernidade. O mundo assiste à ocupação americana no Iraque. A arte ultrapassou a fronteira do belo.

O que liga os anos de 1922 e 2007? A antropofagia, que é o mote da Semana de Arte Moderna da Periferia, que começa neste domingo, 4. Se em 22 a essência do modernismo brasileiro era digerir o que vinha de fora e devolver com um toque brasileiro, agora a idéia é fazer a “antropofagia periférica”.

“A nossa Semana é uma mostra cultural com arte feita por quem é da periferia. Nos apropriamos de um nome usado pela elite para provocar”, explica Sérgio Vaz, da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia). Mais de 40 grupos e cerca de 300 pessoas estão envolvidas com a realização do evento.

Assim como em 22, cada dia é temático (veja programação abaixo). A abertura é no domingo com uma caminhada cultural. Uma carreata de berimbau, bumbo, triângulo e cantoria vai sair do Largo do Socorro até o Largo da Piraporinha, onde fica a Casa de Cultura do M’Boi Mirim, zona sul, para convocar a população. “Às vezes o próprio povo não sabe que existem artistas da periferia”, avalia Vaz.

“A favor do batuque da cozinha”
A dança, que é defendida no Manifesto da Antropofagia Periférica como aquela que “desafoga no lago dos cisnes”, vai ganhar espaço na terça-feira, com capoeira, dança indígena e afro contemporâneo. Na quarta, a “literatura das ruas despertando nas calçadas” será reverberada com o debate “A produção literária na periferia”, que terá a participação de Alessandro Buzo, autor de “O Trem” e “Suburbano Convicto”.

O cinema ganha espaço na quinta-feira, com exibição de curtas-metragens no CEU Casa Blanca e no Terminal Capelinha de ônibus. O teatro ganha os palcos com encenações de peças desde as 11h da sexta-feira. O encerramento é no sábado, dia da música, com shows que vão do samba (com Chapinha do Samba da Vela) ao rap do Periafricania.

Para todos os públicos
Sérgio Vaz explica que a Semana é para mostrar a todos os públicos a produção artística de quem vem da periferia. “Não é movimento de vítima, é movimento de quem faz. É mostrar que, mesmo com dificuldades e sem leis de incentivo, têm de ser feito”.


Clique aqui e confira a programação completa da Semana de Arte Moderna da Periferia

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