|
"Meu filho, Marcelo Eduardo
Bigal, tem 34 anos, é medico, neurologista, fez graduação,
mestrado e doutorado pela USP. Ao se formar, começou
a maratona
de plantões, consultórios, hospitais e, após
algum tempo, se viu cansado, desestimulado e sugado pelos
convênios médicos. Ganhou um prêmio da
Associação Mundial de Neurologia e foi fazer
um estágio de seis meses nos Estados Unidos. Findo
o prazo, recebeu uma proposta para trabalhar como professor
e pesquisador do Albert Einsten College, de Nova York. Está
lá há três anos, e não
pretende voltar. Ao ler seu artigo, liguei para ele e pedi
que o lesse. Passados alguns minutos, ele me retornou e disse
que foi incrível a maneira como os sentimentos, a frustração
da distância, a sensação de exílio,
a amargura que por vezes o acometia foram expostos. Ao desligar
o telefone chorei muito e pensei que a única coisa
que não foi dita no artigo foi sobre os que ficaram
para trás. Pais, irmãos, amigos, que sofrem
muito com a ausência. Que triste país é
o nosso, que seus mais brilhantes filhos têm de ir embora
para poderem fazer jus ao que foram preparados a fazer",
Jamile Bigal
"Nada é mais terrível
e mais funesto do que o desprezo com a educação.
A falta dela é como enterrar vivo um país",
Marise - MariseAgui@aol.com
“Estava desestimulado
diante das perspectivas sombrias de minha carreira quando
decidi emigrar para o Canadá. Aqui as condições
de trabalho e vida são, infinitamente, melhores do
que as existentes no Brasil. Não me vejo como um dos
"zumbis" descritos em seu artigo. Tenho uma profunda
admiração pelo Canadá, que hoje é
minha pátria adotiva. Aqui, tenho a dignidade que jamais
teria no Brasil. É muito fácil dizer que o Brasil
é lindo quando a visão é limitada pela
janela fechada de um carro blindado. Quem diz que o povo brasileiro
é feliz nunca utilizou transporte público na
vida”,
Jailson Lima, Montreal-Canadá
"É triste ver como
a falta de recursos e motivação acabam 'expulsando'
do Brasil pessoas brilhantes”,
Claudia Ruiz Dulinskas Simionato
“A indústria do
ensino universitário já diploma ignorantes por
atacado”,
Mauro Meneguelli
“A elite brasileira não
está preocupada com o desenvolvimento científico
nacional. O pensamento é simples:"se não
tem aqui, compra-se ali”",
Domingos de Azevedo Oliveira
"Sinto-me inseguro de fazer
parte de um território tão complexo quanto o
brasileiro, onde o Estado não incentiva os intelectuais
nacionais para trabalhar no país”,
Venceslau Alves
“Moro em Ribeirão
Preto, sou uma jovem pesquisadora, ganho uma "fortuna"
por mês e ainda continuo trancada no laboratório,
estudando nos finais
de semana para poder concluir o meu doutorado. Resolvi escrever
para contar sobre um programa de TV que deixou eu e meu marido,
também aluno de doutorado, chocados, perplexos. Nesse
programa havia duas prostitutas, um ator pornô, uma
deputada que luta contra a prostituição infantil,
um proprietário de casas noturnas, uma senhora chata,
um tal de Paulo, entre outros. Estava armado o barraco! No
meio da confusão, depois de muito humilharem as garotas
de programa, o sr. Paulo sugeriu que elas deveriam trabalhar
como empregadas domésticas para poderem andar de cabeça
erguida pelas ruas. A senhora chata, depois de perguntar se
elas acreditavam em Deus, falou que elas tinham que estudar
e ter uma profissão. As garotas responderam que, além
do fato de ganharem R$ 5 mil a R$ 8 mil por mês, elas
tinham uma profissão como outra qualquer e se mantinham
fazendo sexo com quem estivesse disposto a pagar, andavam
de cabeça erguida e se orgulhavam de poder sustentar
suas famílias com esse dinheiro. O que me deixou triste
não foi o fato dessas moças ganharem
bastante dinheiro, mas o fato de os convidados as mandarem
de volta aos estudos para poderem ter uma profissão
"não vergonhosa". Ora, o que eu faço
todos os dias é prostituir o meu corpo, o meu cérebro!
A diferença é que ganho pouco dinheiro e tenho
a impressão de que estou contribuindo com o desenvolvimento
da humanidade! Mas, depois de mais de 20 anos de escola, começo
a me questionar se não é hora de procurar outra
profissão. Já pensei em ser cabeleireira ou
em abrir uma pequena empresa. Todos os dias eu me pego pensando
como seria bom poder ter uma carreira de pesquisadora aqui,
no Brasil”,
Patrícia - pabrao@usp.br
“As universidades particulares
contrataram alguns professores aposentados das universidades
públicas. Doutores que querem ir para universidades
particulares porque passaram 30 anos em universidade pública
e somente produziram artigos em revistas científicas.
Não resolveram problemas de natureza tecnológica
para empresas. Ao contrário, utilizaram as instituições
públicas para ministrar cursos e seus laboratórios.
Montaram um corporação nas instituições
públicas e , agora,
querem transferi-la para as universidades públicas
com os mesmos vícios , quais
sejam, ministrar um mínimo de aulas na graduação
e orientar não
mais que dois alunos na pós-graduação.
Ocupar cargos administrativos e solicitar aos órgãos
financiadores de pesquisa como CAPES /CNPQ que universidades
particulares devem possuir somente professores doutores em
seus quadros nível A (CNPQ). Doutores não terão
oportunidades em se desenvolver neste país”,
José- joserub@terra.com.br
"Em novembro passado, prestei
o concurso para PEB-II, organizado pela Secretaria de Educação
do Estado de São Paulo, e fui aprovada na disciplina
História, na qual sou bacharelada e licenciada. Em
2002 concluí, na Universidade de São Paulo (USP),
o doutorado na mesma área. Pelo fato do Departamento
de História fazer parte da Faculdade de Filosofia,
Letras e Ciências Humanas da Universidade de São
Paulo, meu diploma de doutorado foi emitido da seguinte maneira:
"Doutor em Ciências, área de concentração
História Social".
Seguindo as normas do Edital do concurso,
entreguei toda a documentação comprobatória
do meu título para fins de classificação.
Entretanto, meu título de doutor não foi aceito.
Sem entender o motivo da resolução, telefonei
ao Departamento de Recursos Humanos da Secretaria (DRHU) para
obter uma justificativa. Conversei com uma funcionária
que seria a chefe do setor de ingresso do DRHU. Na ordem,
o relato do que ela me disse:
1) primeiramente fui informada que
o diploma constando "História Social" só
poderia ser aceito para a disciplina de Sociologia. Quando
disse que no Departamento de História também
há a área de História Econômica
e perguntei como seriam classificados os portadores do diploma
dessa área, a justificativa mudou;
2) a recusa teria sido motivada pelo
fato de constar "Doutor em Ciências" e não
em História. Retruquei dizendo que, se seria aceito
para a área de Sociologia, por que não foi aceito
em História? Expliquei-lhe também que não
tenho formação nem tese na área de Sociologia,
portanto, a primeira versão era absurda;
3) insistindo no fato de o item 4
do Inciso VIII do Edital deliberar que "serão
considerados títulos [...] na disciplina objeto de
inscrição ou na área de Educação"
e no meu diploma constar "Doutor em Ciências",
a funcionária afirmou que eu deveria ter prestado o
concurso para a disciplina de Ciências e não
de História. Dessa forma, meu título poderia
ter sido aceito;
4) questionei o absurdo do raciocínio
e também da situação. Afinal, argumentei,
não havia nenhuma irregularidade no meu diploma que
foi emitido por uma instituição de ensino superior
do Estado de São Paulo. E que estava sendo recusado
pela Secretaria da Educação do mesmo Estado;
5) ao final da conversa, a funcionária
alegou que todo o equívoco foi provocado pela USP que
emite os diplomas de maneira incorreta.
Em síntese, embora eu
seja graduada em História, na avaliação
da Secretaria de Educação meu diploma de doutor
seria aceito se eu tivesse prestado concurso para as disciplinas
de Sociologia ou de Ciências. E por esse motivo meu
título não foi considerado. A conseqüência
disso é que, se eu ingressar no quadro do Magistério
do governo do Estado de São Paulo, vou receber o mesmo
que um professor que não tem pós-graduação.
Eu me pergunto qual o motivo da Secretaria investir no aprimoramento
e qualificação do professor- com ajuda de custo
- se ao mesmo tempo toma decisões absurdas como esta?
Considero esse episódio extremamente preocupante e
desanimador para os professores da rede que pretendam fazer
uma pós-graduação",
Marli Guimarães
Hayashi
Leia mais
|