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Leia
repercussão da coluna: A
menina que dá aula para o Brasil
A
propósito de seu artigo na Folha de São
Paulo "A menina que dá aula para o Brasil",
permita-me discordar.
A prática da brincadeira no fundo do quintal
deveria estimular justamente o caminho inverso, isto
é, levar os alunos para a escola, despertar o
interesse pelo aprendizado, onde existe (ou deveria
existir) a infra-estrutura para o ensino. Da mesma forma
que a aula na praça, ambos são paliativos
bizarros que demonstram o abandono da educação
no Brasil.
Tais
"soluções" acontecem porque
a escola não cumpre o seu papel, e nós
sabemos o porquê. É trágico que
aprenda-se num fundo de quintal, numa praça,
numa oficina, mais do que numa escola. É surreal
que se aprenda mais à mercê de balas perdidas
em vez de se aprender no local destinado ao aprendizado
(se bem que nem mesmo dentro das salas de aulas exista
segurança...).
Existe
uma absurda inversão de valores. É vergonhoso
que sirva de exemplo uma menina de 13 anos brincando
de dar aulas no fundo do quintal, como modelo de participação
da comunidade em algo que ela, a comunidade, é
extremamente carente.
Que
tal se abolíssemos as escolas e, em seu lugar,
abríssemos os espaços para os artesãos,
mecânicos, marceneiros, açougueiros, livreiros
etc., permitindo que eles dessem aulas no lugar dos
professores?
Que
tal se chamássemos para ocupar o lugar dos mestres,
os pais dos alunos, muitos tão carentes de educação
como seus próprios filhos? Que tal se colocássemos
no espaço onde antes estava o professor, membros
da comunidade entorno da escola, muitos com todos os
problemas advindos da falta de educação,
emprego, salários dignos, e permitíssemos
que eles também arremessassem nossos filhos contra
os carros em movimento ou contra as árvores da
escola?
Luiz Eduardo Braga
Professor - Rio Branco - Acre
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