É
inegável que pessoas com deficiências, sejam
físicas ou mentais, sofram preconceito, mesmo na nossa
sociedade moderna que se diz tão conscientizada socialmente.
De acordo com o IBGE, existem mais de 35 milhões de
pessoas com algum tipo de deficiência em todo o país.
Apesar de um número consideravelmente grande, essas
são vistas muitas vezes como “coitadinhas”
que ficam à mercê das outras, contanto com sua
ajuda e boa vontade. Porém, sabemos que a realidade
não é bem assim: pessoas com deficiência
são e devem ser tratadas como qualquer outra, sendo
aceitas na sociedade e no mercado de trabalho.
O reconhecimento do esforço e capacidade de mais de
1.300 deficientes foi mostrado nos Jogos Parapan-Americanos,
evento realizado de 12 a 19 de agosto no Rio de Janeiro, após
os Jogos Pan-Americanos. É a primeira vez na história
em que as duas competições foram disputadas
consecutivamente, sediadas no mesmo local. No Parapan, diversas
modalidades esportivas foram praticadas pelos atletas portadores
de vários tipos de necessidades especiais, os quais
deram um espetáculo e um exemplo de perseverança
e dedicação.
O Brasil deu um show à parte, ganhando os jogos com
228 medalhas, seguido pelo Canadá. Além disso,
foram construídas, no Rio de Janeiro, instalações
especiais para os atletas Paraolímpicos, como rampas
de acesso às piscinas, ônibus adaptados e acomodações
na Vila Pan-Americana. Tudo isso seguido de perto pela mídia,
que deu cobertura ao evento e mais ênfase à causa.
Porém, é necessário perguntarmos: será
que a competição foi realmente significativa
para o processo de inclusão social de pessoas deficientes?
De acordo com a jornalista Maria Isabel da Silva, moderadora
do Grupo de Estudos do Estatuto da Pessoa com Deficiência
e diretora geral da Associação para a Educação,
Esporte, Cultura e Profissionalização da Divisão
de Reabilitação do Hospital das Clínicas
(AEDREHC), os jogos Parapan-Americanos só serviram
para reforçar a exclusão social sofrida pelas
pessoas com deficiência, uma vez que os jogos foram
realizados separadamente dos Pan- Americanos, diferenciando-as
das pessoas “normais”. Com o seu fim e com a mídia
divulgando apenas o que a interessa, a maioria das pessoas
não tem conhecimento de ações tomadas
posteriormente ao evento como a remoção das
instalações construídas nas Vila Olímpica,
nos estádios, bem como nas piscinas, pois tinham o
intuito de servir apenas a competição. Soma-se
a isto a exclusão da participação de
deficientes mentais e auditivos, devido fraudes já
ocorridas em jogos anteriores. Além disso, um dos patrocinadores
dos jogos Panamericanos não se disponibilizou a financiar
os Parapan-Americanos, o que reflete o preconceito e discriminação
da sociedade. Na opinião de Maria Isabel, o ideal seria
que os jogos fossem realizados simultaneamente, mostrando
que os atletas deficientes são tão esforçados
e comprometidos como os outros.
Com intenção ou não, é impossível
negarmos o fato de que os jogos Parapan-Americanos ajudaram
em mostrar a capacidade e o talento realizado dos atletas
com necessidades especiais, que com certeza merecem muito
mais espaço na sociedade do que possuem hoje. Com o
recente término da competição, só
poderemos ver mais futuramente se essa atenção
à causa produziu resultados eficientes.
Patrícia Saad,
aluna do 2º ano do ensino
médio, do Colégio Bandeirantes -
saadpaty@hotmail.com
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