II - Lançamento
"Arte dos Pajés" mistura ficção e realidade indígena
  ANDRÉ TARCHIANI SAVAZONI
repórter da Folha Online

 
 

"Há na cultura indígena uma total dependência da criatura com o mundo sobrenatural. Suas concepções podem parecer estranhas, porém, mais estranhas ainda são as histórias que presenciamos e que aqui vão narradas."

Essa é a nota explicativa que o leitor encontra quando se abre o livro "A Arte dos Pajés" (editora Globo, 126 páginas, R$ 19,50), de Orlando Villas Bôas, 86.

Assim, a curiosidade é incitada e fica impossível não começar a ler a obra que, como diz o autor, "são impressões sobre o universo espiritual do índio xinguano".

Orlando só lamenta a morte de seu irmão Cláudio. "Se ele estivesse vivo, o livro teria o triplo de tamanho. Demos início ao trabalho e ele, que era especialista nesse assunto, faleceu", disse. "Assisti coisas extraordinárias que não tenho explicações. Quem quiser acreditar que acredite. Quem não quiser, paciência. Eu vi."

O livro foi baseado em 50 anos de observações e estudos do sertanista e mostra de que forma a religião e os mitos estão integrados à vida das nações que vivem no Xingu onde, segundo o autor, a verdade e o misticismo se misturam.

Lançado durante a 16ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no Expo Center Norte, "A Arte dos Pajés", já é um dos mais vendidos no estande da Editora Globo (Pavilhão Vermelho).

Civilizados

Segundo Villas Bôas, o relato traz uma lição de comportamentos e valores dentro de uma sociedade que nós, considerados civilizados, não temos. "Nunca vi uma discussão, um marido brigar com a mulher ou uma mãe puxar a orelha do filhinho", vai descrevendo.

Em uma tribo indígena, o nenê não engatinha. Ele praticamente sai do colo da mãe para começar a andar. Daí, estará sempre caminhando segurando no braço do pai.

"Na hierarquia, cada aldeia tem o seu pajé principal, que é sempre o mais velho. Ele é o responsável pela pajelança", afirma Orlando Villas Bôas, se referindo ao rituais de magia que tanto o impressionaram.

As tribos próximas ou vizinhas, como fica claro no livro, têm uma relação de amizade. "Um pajé pode ajudar caso um espírito seja capturado", disse o sertanista, lembrando que o misticismo é algo presente no dia-a-dia do índio.

Nos diversos capítulos, até o mais incrédulo leitor começa a entender como um pajé tem o poder de resgatar uma alma raptada por um mamaé (espíritos temidos pelos poderes que possuem).

No total, segundo o escritor, existem 19 aldeias no Xingu, com quatro grupos linguísticos predominantes. Todas praticam as pajelanças.

Villas Bôas, que em uma única expedição pelo alto Xingu foi atacado 18 vezes pelos índios xavantes, disse que o ambiente de uma aldeia é tranquilo e alegre, e ninguém manda em ninguém. "Um velho é respeitado e o chefe da aldeia é um conselheiro, não alguém para ser temido."

Críticas

O escritor só perde o bom humor para falar da atual situação da cultura indígena no Brasil e não poupa nem as ONGs.

"Quando elas (ONGs) se preocupam com saúde e educação, tudo bem, mas quando começam a comprar fazendas no Brasil Central e transportar os índios para lá, estão contribuindo para a extinção", afirma o sertanista, com a experiência de 50 anos de convívio com as tribos.

Segundo Orlando Villas Bôas, esses recursos vêm de fora e as ONGs não podem interferir na soberania do Estado. "Por que elas não vão se preocupar com a favelas?", indaga.

Os sem-terra também não escapam do arco e da flecha afiada do sertanista. Para ele, os índios foram usados nos protestos em Porto Seguro _no dia 22 de abril_, que acabaram com a intervenção da polícia. "Mais da maioria deles nunca pegou numa enxada para plantar milho", afirma.

"Nem a sociedade brasileira sabem quem são os sem-terra", disse o sertanista. "Os verdadeiros são aqueles que ficaram sem espaço para trabalhar com a mecanização da lavoura."

Saúde

Atualmente, além de escrever sobre a cultura indígena durante o dia inteiro, Orlando Villas Bôas presta assessoria à Escola Paulista de Medicina. Ele faz parte do "Projeto de Saúde na Área Indígena".

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