São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001


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Professor não acredita em guerra civil

NELSON FRANCO JOBIM
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

Existe um risco de guerra civil no Paquistão, em caso de uma violenta intervenção militar americana no vizinho Afeganistão, mas é pequeno. A não ser que haja uma catástrofe, as armas nucleares paquistanesas estão seguras, afirma o professor Athar Hussain, subdiretor do Centro de Pesquisas sobre Ásia da London School of Economics.
"Há um risco de guerra civil no Paquistão, mas não acredito que seja grande. Os partidos fundamentalistas têm apoio de 2% a 3% do eleitorado. Essas manifestações de rua podem degenerar em violência, mas foram autorizadas pelo governo como válvula de escape", observou Hussain.
Athar Hussain admite que existe uma corrente fundamentalista no Exército paquistanês, mas não vê como um golpe militar possa ser bem-sucedido.
O Exército é a pedra fundamental do Estado paquistanês. Governou o país durante 27 dos seus 54 anos de história. Todos os golpes de sucesso foram dados pelo comandante do Exército e todos os que fracassaram partiram de oficiais inferiores.
Para o professor da LSE, os fundamentalistas afegãos não têm tanto apoio popular no Paquistão, embora sejam uma peça do jogo geopolítico paquistanês na região, servindo, por exemplo, de base de treinamento para os rebeldes da região indiana da Caxemira, reivindicada pelo Paquistão:
"O Taleban é fruto das circunstâncias, é tão filho do Paquistão quanto da CIA. O Paquistão está envolvido na guerra civil paquistanesa desde a invasão soviética; a CIA também. Mas, no momento, é do interesse do Paquistão se distanciar do Taleban. Os EUA vão suspender as sanções impostas depois dos testes nucleares de maio de 1998 e reforçar a aliança entre os dois países, enfraquecida com o fim da Guerra Fria."
O próprio Osama bin Laden, acrescenta Hussain, "é popular no Paquistão e no mundo muçulmano não só porque resistiu à URSS e enfrentou os EUA, mas também porque deixou a riqueza da família para se tornar guerrilheiro. Mas não acredito que muita gente esteja disposta a morrer por ele".


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