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Para feminista, véu representa ícone da exploração
Osama bin Laden é um produto dos EUA que se revoltou contra o país, diz escritora
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DA REDAÇÃO
O véu "faz da mulher um ser
marginal e resignado" e demonstra a suposta submissão imposta a
muçulmanas, na opinião da escritora egípcia Aafaf Assaid, 38, autora de livros como "Assdqan Arrafiaah lilkzb" (As pernas finas da
mentira), "Saradib" (labirintos) e
"Provat" (ensaios), entre outros.
A seguir, trechos da entrevista
que Aafaf concedeu do Cairo.
(PAULO DANIEL FARAH)
Folha - Como os intelectuais egípcios reagiram aos atentados na
Costa Leste dos EUA?
Aafaf Assaid - O sentimento aqui
não difere do que se verificou no
mundo inteiro. Como qualquer
ser humano de bom senso, condenamos a morte de civis. Os intelectuais egípcios exortaram a uma
reflexão e à condenação do terrorismo contra civis, apesar das divergências muito fortes com os
Estados Unidos e com sua interpretação de terrorismo.
Escritores e ONGs condenaram
qualquer tipo de terrorismo, incluindo o norte-americano, que
muitas pessoas consideram responsável pelo que aconteceu em
Nova York e nos arredores de
Washington. A principal fábrica
de terrorismo do mundo, segundo alguns analistas, são os EUA.
Osama bin Laden é um produto
norte-americano que se revoltou
contra o país. Os EUA também fabricaram a principal máquina terrorista do mundo: Israel.
Folha - Que tipo de medida a sra.
acha que os EUA vão tomar?
Assaid - O que posso dizer é que,
evidentemente, tenho medo do
que vai acontecer ao Afeganistão
e de uma eventual vitória do terrorismo organizado, que se esconde debaixo das asas do direito
internacional. O que os EUA promovem não é uma guerra, como
dizem, pois a maior parte dos afegãos não têm armas.
Folha - Qual a situação das mulheres no Egito e em países do
Oriente Médio?
Assaid - Ainda há muito o que
melhorar, mas houve alguns
avanços nos últimos anos.
Incomoda-me a utilização do
discurso religioso para tentar justificar algumas práticas. O sistema
do casamento vigente e a necessidade de obediência cega são lamentáveis, contrários ao humanismo. Já há leis que responderam à voz das ruas, como a que
permite à mulher, quando se divorcia, exigir do marido o dote e
os presentes, a fim de obter sua liberdade sem restrições.
Folha - Qual sua opinião sobre o
uso do véu?
Assaid - A questão é complexa
do ponto de vista teológico. Diversos religiosos consideram o
véu uma forma de proteger a mulher dos males da sociedade. Muitas jovens o usam simplesmente
para preservar as aparências. Outras o fazem porque a família considera a menina uma bomba-relógio que deve ser controlada para não explodir sua sexualidade.
O véu, nesse caso, serve para esconder a obviedade de que se trata de uma mulher.
Folha - A sra. costumava usar véu
alguns anos atrás, não?
Assaid - De fato. Eu já passei por
essa experiência. Costumava usar
o "niqab", que cobria todo o meu
corpo e todo o rosto. Mas o "niqab" não cobriu meus pensamentos nem minha consciência. Nenhum tipo de cobertura foi capaz
de obscurecer ou anular o vulcão
da vida em minha mente e em minha alma. Se observarmos a filosofia do véu, vamos compreender
que ele é uma arma arriscada para
o corpo. Talvez seja, como dizem,
um símbolo da submissão intelectual e corporal que apenas a
mulher tem de assumir. O véu é
uma idéia machista que favorece
a sociedade beduína e faz da mulher um ser marginal e resignado.
Em minha opinião, o véu não
simboliza uma resistência cultural, como muitos dizem, mas é
um ícone da exploração e da posse impostas ao corpo feminino,
considerado pelos beduínos sua
honra e seu território.
O véu invadiu a sociedade do
Egito, berço da civilização onde a
mulher tinha liberdade completa
e participava socialmente em pé
de igualdade com o homem. A
mulher egípcia era sagrada.
Folha - Como a sra. vê as críticas e
a possível punição à feminista
egípcia Nawal al Saadaui, que disse
que a peregrinação a Meca foi herdada do paganismo?
Assaid - Com muita preocupação. Estamos promovendo uma
campanha para ajudá-la.
Folha - Qual sua análise da participação de grupos religiosos na política do Egito?
Assaid - Movimentos islâmicos
possuem pouco menos de 5% das
cadeiras do Parlamento, mas são
organizados e influentes. Oferecem serviços sociais e médicos.
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