São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001


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MAGREB
Países da África do Norte estão sendo abalados pelo radicalismo político; na vizinha Europa, adeptos chegam a 11 milhões

Comunidade na França prefere o silêncio


"O islã não faz mal a ninguém, Muhammad disse que não se deve fazer mal a uma mosca"


ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

Os muçulmanos são assim..." O homem junta as pontas dos cinco dedos: "Todos unidos", diz. Ele não quer se identificar. Tem mais de 60 anos. Está na entrada da Grande Mosquée (grande mesquita) de Paris, erguida na década de 20. Seu amigo o chama para longe do repórter. "Os Estados Unidos não vão mudar nunca."
A sexta-feira é o dia da grande prece. A mesquita vai enchendo de gente. Não há vigilância na entrada. Pessoas entram e saem em silêncio. Poucos estão dispostos a falar dos atentados nos EUA e de seus efeitos sobre a comunidade.
Só na França, são mais de 5 milhões de muçulmanos -500 mil deles praticantes. Na Europa, chegam a 11 milhões. Os dados no entanto são incertos, pois alguns países não perguntam a religião das pessoas durante o censo.
A Grande Mosquée, com seu minarete de 33 metros atravessando os telhados do Quartier Latin, não é o único lugar de culto muçulmano na cidade, mas é a única mesquita. Em outros locais, as preces são feitas em grandes salões ou galpões improvisados, como na rua Tanger, no norte de Paris, o segundo maior local de orações.
Recentemente, um conselho muçulmano foi criado na França, reunindo as várias correntes religiosas, a fim de centralizar os problemas da comunidade e debatê-los com o governo.
"Escreva aí que os Estados Unidos se acham os donos do mundo e que o islã não faz mal a ninguém", diz Ahmed, um nome que ele escolheu na hora, rindo. "Muhammad disse que não se deve fazer mal nem sequer a uma mosca. Por isso sou contra os atentados."
As perguntas não resultam em respostas, mas numa espécie de auto-defesa. "O islã é a segunda religião do mundo", diz Ster Kili. "As relações com muçulmanos deveriam ser normais, mas elas dificilmente se normalizarão agora, diante desse problema mundial." Ele conta que as discussões sobre os atentados se espalharam também entre os muçulmanos.
"Não sinto nenhuma pressão aqui, em Paris, nem antes nem depois dos atentados", afirma Abderahmane Mamoumf, 17. "Mas o mundo islãmico em geral está sob pressão. Temos medo de uma guerra e é sobre isso que mais falamos atualmente. Não sabemos quais as consequências de um grande conflito para os países e os povos muçulmanos."


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