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Argélia concentra extremismos
DA REPORTAGEM LOCAL
O Magreb -região
norte-africana que
compreende a Argélia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia- abriga um dos
pontos negros no mapa mundial
do extremismo islâmico.
Tudo começou em 1990, quando o partido religioso argelino, a
FIS (Frente Islâmica de Salvação),
obteve 54% dos votos em eleições
regionais. Para o ano seguinte, renovação do Parlamento, a legislação eleitoral foi modificada para
favorecer os laicos da FLN (Frente
de Libertação Nacional), herdeira
direta da guerra de independência, obtida dos franceses em 1962.
Mas os religiosos elegeram 188
das 232 cadeiras decididas no primeiro turno. O segundo turno,
marcado para janeiro de 1992, foi
então cancelado pelo governo.
Começava a Guerra Civil, em
que atentados, massacres e ações
da guerrilha islâmica provocaram, segundo cálculos conservadores, algo como 100 mil mortos.
Ou 17 vezes mais que o número de
cadáveres sob os escombros do
Pentágono e do WTC.
Há um certo consenso entre os
estudiosos de que as instituições
laicas na Argélia caíram no descrédito em razão do descompasso
entre, de um lado, a retórica patriótica da justiça social, e, de outro, a ineficiência e a corrupção.
Sem esse pano de fundo o auxílio material de Bin Laden e congêneres não teria feito a guerrilha
decolar. O braço armado da FIS
autodissolveu-se oficialmente no
ano passado, mas a guerrilha sobrevive com apoio externo.
O radicalismo religioso no país
vizinho serviu de lição para que o
Marrocos e a Tunísia tomassem
suas precauções. No caso marroquino -que em 1997 registrou
afrontamentos entre a polícia e
estudantes islâmicos em Casablanca e Marrakech- o rei Hassan 2º, antes de morrer há pouco
mais de dois anos, libertou presos
políticos e democratizou o regime. Seu filho e sucessor, Mohammed 6º, continua a empurrar com
a barriga a solução para o estatuto
do Saara Ocidental, que seu pai
anexou nos anos 70.
Na Tunísia, o Estado centralizado, arquitetado pelo líder da independência, Habib Bourguiba, foi
herdado sem traumas, em 1987,
pelo presidente Ben Ali. Ele que
mantém a laicidade e reprime
com vigor o Al Nahda (Renascimento), partido religioso que permanece na ilegalidade.
O regime mauritano, por sua
vez, adotou em 1991 o pluripartidarismo e enfrenta outra forma
de tensão interna, a étnica, já que
os berberes muçulmanos têm
mais poderes que os negros, embora somem parcelas idênticas
(30%) da população.
Há por fim o caso da Líbia, único país da região com passado colonial italiano e não francês. A ditadura do coronel Muammar
Gaddafi, no poder desde 1969, optou pelo "low profile" internacional após a suspensão, em abril de
1999, das sanções impostas sete
anos antes pela ONU, em razão de
seu apoio a atos de terrorismo.
Gaddafi com certeza interpretou como um atestado de bom
comportamento a não menção de
seu nome entre os supostos mentores dos atentados nos EUA. Algo até há pouco tempo impensável para o governante que em
1988 esteve por detrás da explosão
de um avião da Pan Am sobre
Lockerbie (Escócia), no qual morreram 270 pessoas.
(JBN)
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