São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001


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Argélia concentra extremismos

DA REPORTAGEM LOCAL

O Magreb -região norte-africana que compreende a Argélia, Marrocos, Mauritânia e Tunísia- abriga um dos pontos negros no mapa mundial do extremismo islâmico.
Tudo começou em 1990, quando o partido religioso argelino, a FIS (Frente Islâmica de Salvação), obteve 54% dos votos em eleições regionais. Para o ano seguinte, renovação do Parlamento, a legislação eleitoral foi modificada para favorecer os laicos da FLN (Frente de Libertação Nacional), herdeira direta da guerra de independência, obtida dos franceses em 1962.
Mas os religiosos elegeram 188 das 232 cadeiras decididas no primeiro turno. O segundo turno, marcado para janeiro de 1992, foi então cancelado pelo governo.
Começava a Guerra Civil, em que atentados, massacres e ações da guerrilha islâmica provocaram, segundo cálculos conservadores, algo como 100 mil mortos. Ou 17 vezes mais que o número de cadáveres sob os escombros do Pentágono e do WTC.
Há um certo consenso entre os estudiosos de que as instituições laicas na Argélia caíram no descrédito em razão do descompasso entre, de um lado, a retórica patriótica da justiça social, e, de outro, a ineficiência e a corrupção.
Sem esse pano de fundo o auxílio material de Bin Laden e congêneres não teria feito a guerrilha decolar. O braço armado da FIS autodissolveu-se oficialmente no ano passado, mas a guerrilha sobrevive com apoio externo.
O radicalismo religioso no país vizinho serviu de lição para que o Marrocos e a Tunísia tomassem suas precauções. No caso marroquino -que em 1997 registrou afrontamentos entre a polícia e estudantes islâmicos em Casablanca e Marrakech- o rei Hassan 2º, antes de morrer há pouco mais de dois anos, libertou presos políticos e democratizou o regime. Seu filho e sucessor, Mohammed 6º, continua a empurrar com a barriga a solução para o estatuto do Saara Ocidental, que seu pai anexou nos anos 70.
Na Tunísia, o Estado centralizado, arquitetado pelo líder da independência, Habib Bourguiba, foi herdado sem traumas, em 1987, pelo presidente Ben Ali. Ele que mantém a laicidade e reprime com vigor o Al Nahda (Renascimento), partido religioso que permanece na ilegalidade.
O regime mauritano, por sua vez, adotou em 1991 o pluripartidarismo e enfrenta outra forma de tensão interna, a étnica, já que os berberes muçulmanos têm mais poderes que os negros, embora somem parcelas idênticas (30%) da população.
Há por fim o caso da Líbia, único país da região com passado colonial italiano e não francês. A ditadura do coronel Muammar Gaddafi, no poder desde 1969, optou pelo "low profile" internacional após a suspensão, em abril de 1999, das sanções impostas sete anos antes pela ONU, em razão de seu apoio a atos de terrorismo.
Gaddafi com certeza interpretou como um atestado de bom comportamento a não menção de seu nome entre os supostos mentores dos atentados nos EUA. Algo até há pouco tempo impensável para o governante que em 1988 esteve por detrás da explosão de um avião da Pan Am sobre Lockerbie (Escócia), no qual morreram 270 pessoas.
(JBN)


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