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SUDESTE ASIÁTICO
Indonésia é o país com a maior população muçulmana do mundo;
na Malásia, 53% são adeptos do islamismo, religião oficial
Estado mantém controle sobre organizações extremistas
MARCELO STAROBINAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES
Vamos nos unir! Em nome de Allah, os muçulmanos, da Nigéria a
Kuala Lumpur, se juntarão para enfrentar aqueles que
nos atacam." O brado de guerra
foi lançado há cerca de dois meses, por um militante de uma associação islâmica durante debate
na Universidade de Londres. A
menção a Kuala Lumpur, capital
da Malásia, não foi sem propósito.
Associações semelhantes na Europa e no Oriente Médio fazem
questão de frisar quão poderoso é
o islamismo. Países muçulmanos
do Sudeste Asiático -principalmente Malásia e Indonésia-
mostram até onde chegaram os
ensinamentos do profeta.
A Indonésia é o Estado de maior
população islâmica do mundo.
Cerca de 88% de seus mais de 220
milhões de habitantes voltam-se a
Meca para orar. Na Malásia, 53%
professam o islamismo, religião
oficial. Nenhum, porém, tentou
implementar nacionalmente a
sharia (código de leis islâmico).
Os principais grupos islâmicos
da Indonésia -alguns com mais
de 20 milhões de integrantes-
não buscam a implementação de
um Estado islâmico.
"O número de pessoas que quer
um Estado islâmico na Indonésia
é bem pequeno. Há a oposição
dos militares e de grandes setores
da população", disse à Folha John
Sidel, professor de política do Sudeste Asiático da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. "O país
tem um tipo de islã bastante sincrético. Outras práticas religiosas
são misturadas ao islamismo."
Sidel observa que o extremismo
islâmico é um fenômeno bastante
isolado no país. Nas últimas eleições, esses grupos receberam
poucos votos. "Há pouco apoio
na Indonésia e na Malásia à mobilização violenta a favor de extremistas islâmicos, porque, nos dois
países, o aparato estatal tem tido
sucesso em manter o controle sobre essas organizações".
O regime do ditador Suharto
(1966-1998) manteve rigorosa repressão contra os extremistas.
O mesmo vem sendo feito pelo
primeiro-ministro da Malásia,
Mahatir Mohamad, que governa
o país desde 1981. Porém a Malásia tem visto um fortalecimento
de partidos que tomam o islã como plataforma política.
Nos Estados controlados por esses partidos, como Kelantan, alguns elementos das leis islâmicas
já foram implementados.
Um dos grandes debates políticos na Malásia é até que ponto os
partidos islâmicos são capazes de
crescer e chegar ao poder. Eles ganham espaço a cada eleição.
"Há potencial de aumento da
popularidade desses partidos entre os descontentes com Mahatir", disse Sidel. "Mas há limites.
Há uma grande parcela da população de etnia chinesa que se opõe
a um Estado islâmico."
O extremismo pelo menos
aproveitou vantagens da região
para estabelecer a sua rede internacional. Por serem arquipélagos,
países como Indonésia e Filipinas
facilitam a entrada e saída de pessoas. Guerrilheiros do Afeganistão, do Líbano e do Egito estabeleceram intercâmbio com extremistas da região -o Abu Sayyaf
(organização separatista islâmica
filipina), o Larkar Jihad (da Indonésia) e os Mujahadeen (da Malásia) são hoje os seus parceiros.
Serviços de inteligência ocidentais afirmam ter provas da ligação
de integrantes do Abu Sayyaf com
a Al Qaeda, grupo de Osama bin
Laden. Um dos fundadores da organização das Filipinas foi combatente ao lado de Bin Laden contra os soviéticos no Afeganistão.
Por enquanto, os extremistas
ainda não desestabilizaram a região nem fizeram da religião uma
cartilha para as atividades políticas e sociais. E, para Sidel, não há
motivo para alarmismo.
"Muitos muçulmanos na região
só querem uma boa casa, celulares e, até a crise econômica de
1997, era isso que haviam começado a receber e estavam felizes.
Criar um Estado islâmico não é algo forte entre a população."
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