São Paulo, domingo, 23 de setembro de 2001


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SUDESTE ASIÁTICO
Indonésia é o país com a maior população muçulmana do mundo; na Malásia, 53% são adeptos do islamismo, religião oficial

Estado mantém controle sobre organizações extremistas

MARCELO STAROBINAS
FREE-LANCE PARA A FOLHA, EM LONDRES

Vamos nos unir! Em nome de Allah, os muçulmanos, da Nigéria a Kuala Lumpur, se juntarão para enfrentar aqueles que nos atacam." O brado de guerra foi lançado há cerca de dois meses, por um militante de uma associação islâmica durante debate na Universidade de Londres. A menção a Kuala Lumpur, capital da Malásia, não foi sem propósito.
Associações semelhantes na Europa e no Oriente Médio fazem questão de frisar quão poderoso é o islamismo. Países muçulmanos do Sudeste Asiático -principalmente Malásia e Indonésia- mostram até onde chegaram os ensinamentos do profeta.
A Indonésia é o Estado de maior população islâmica do mundo. Cerca de 88% de seus mais de 220 milhões de habitantes voltam-se a Meca para orar. Na Malásia, 53% professam o islamismo, religião oficial. Nenhum, porém, tentou implementar nacionalmente a sharia (código de leis islâmico).
Os principais grupos islâmicos da Indonésia -alguns com mais de 20 milhões de integrantes- não buscam a implementação de um Estado islâmico.
"O número de pessoas que quer um Estado islâmico na Indonésia é bem pequeno. Há a oposição dos militares e de grandes setores da população", disse à Folha John Sidel, professor de política do Sudeste Asiático da Escola de Estudos Orientais e Africanos da Universidade de Londres. "O país tem um tipo de islã bastante sincrético. Outras práticas religiosas são misturadas ao islamismo."
Sidel observa que o extremismo islâmico é um fenômeno bastante isolado no país. Nas últimas eleições, esses grupos receberam poucos votos. "Há pouco apoio na Indonésia e na Malásia à mobilização violenta a favor de extremistas islâmicos, porque, nos dois países, o aparato estatal tem tido sucesso em manter o controle sobre essas organizações".
O regime do ditador Suharto (1966-1998) manteve rigorosa repressão contra os extremistas.
O mesmo vem sendo feito pelo primeiro-ministro da Malásia, Mahatir Mohamad, que governa o país desde 1981. Porém a Malásia tem visto um fortalecimento de partidos que tomam o islã como plataforma política.
Nos Estados controlados por esses partidos, como Kelantan, alguns elementos das leis islâmicas já foram implementados.
Um dos grandes debates políticos na Malásia é até que ponto os partidos islâmicos são capazes de crescer e chegar ao poder. Eles ganham espaço a cada eleição.
"Há potencial de aumento da popularidade desses partidos entre os descontentes com Mahatir", disse Sidel. "Mas há limites. Há uma grande parcela da população de etnia chinesa que se opõe a um Estado islâmico."
O extremismo pelo menos aproveitou vantagens da região para estabelecer a sua rede internacional. Por serem arquipélagos, países como Indonésia e Filipinas facilitam a entrada e saída de pessoas. Guerrilheiros do Afeganistão, do Líbano e do Egito estabeleceram intercâmbio com extremistas da região -o Abu Sayyaf (organização separatista islâmica filipina), o Larkar Jihad (da Indonésia) e os Mujahadeen (da Malásia) são hoje os seus parceiros.
Serviços de inteligência ocidentais afirmam ter provas da ligação de integrantes do Abu Sayyaf com a Al Qaeda, grupo de Osama bin Laden. Um dos fundadores da organização das Filipinas foi combatente ao lado de Bin Laden contra os soviéticos no Afeganistão.
Por enquanto, os extremistas ainda não desestabilizaram a região nem fizeram da religião uma cartilha para as atividades políticas e sociais. E, para Sidel, não há motivo para alarmismo.
"Muitos muçulmanos na região só querem uma boa casa, celulares e, até a crise econômica de 1997, era isso que haviam começado a receber e estavam felizes. Criar um Estado islâmico não é algo forte entre a população."


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