Livraria da Folha

 
09/07/2010 - 22h02

Jorge Amado pediu Zélia Gattai em namoro nas páginas da Folha

da Livraria da Folha

Divulgação
"Um Chapéu Para Viagem", escrito por Zélia Gattai, é relançado pela Companhia das Letras neste mês
Capa de nova edição de "Um Chapéu Para Viagem" traz xilogravura de Calasans Neto

Em 1945, o escritor baiano Jorge Amado (1912-2001) foi o deputado federal mais votado do Estado de São Paulo. Ele morava na capital, em um apartamento na avenida São João. Foi nesse ano que ele casou com Zélia Gattai (1916-2008), que foi pedida em namoro nas páginas da Folha da Manhã, como lembra a mulher no livro "Um Chapéu para Viagem", relançado em janeiro pela Companhia das Letras.

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Esse foi o segundo livro de Zélia, que estreou em 1979 com "Anarquistas, Graças a Deus". O nome "Um Chapéu para Viagem" é uma referência ao presente dado por Maria Della Costa para que ela usasse no embarque num navio de luxo para a Europa. Assim é o livro: cheio de detalhes sentimentais, despretensiosos, sobre o Brasil a partir dos anos 30.

Leia o trecho em que Zélia conta como Jorge a pediu em namoro. O livro foi lançado originalmente em 1982 pela editora Record.

*

Jorge escrevia diariamente uma crônica para a Folha da Manhã: "Conversa Matutina". Um dia perguntou-me se eu costumava ler suas crônicas na Folha; respondi-lhe que sim.

- Pois não deixe de ler a de amanhã.

Reprodução
Zélia Gattai e o escritor Jorge Amado, em foto feita com disparador automático
Zélia Gattai e Jorge Amado, em foto feita com disparador automático

A crônica - crônica ou declaração de amor? -, que meus olhos devoraram logo cedo, na manhã seguinte, era romântica e apaixonada. Não citava nome, nem era preciso; num certo trecho dizia assim: "Eu te darei um pente pra te pentear, colar para teus ombros enfeitar, rede pra te embalar, o céu e o mar eu vou te dar...".

À noite, antes de partirmos para o comício, perguntou-me se eu havia lido o que escrevera pensando em mim. Perturbada, disse-lhe que não lera ainda, que o faria antes de dormir.

Mas ao solicitar-me novamente uma palavra com a qual terminar seu discurso, disse-lhe: "Amor!". E o povo da Freguesia do Ó aplaudiu quando, ao encerrar o comício, Jorge falou "num mundo de paz, de justiça e de amor!".

Caymmi em São Paulo

Velho amigo de Jorge, seu afilhado de casamento, Dorival Caymmi chegara a São Paulo e hospedara-se na casa do padrinho, no apartamento da avenida São João. Ao aparecer aquela noite no comitê, foi uma sensação! Todo o mundo a rodear o compositor, e pedir-lhe que cantasse. Caymmi não levara o violão, limitou-se a distribuir autógrafos e charme.

Na companhia de Isabel e Rivadávia Mendonça, dias depois, fui a uma recepção num elegante palacete, festa oferecida a intelectuais e artistas empenhados na organização do comício do Pacaembu pelo proprietário da casa, Maurício Goular. Ficamos no jardim iluminado, onde, entre mesinhas e canteiros de flores, grupos se espalhavam. Logo depois Clóvis e Sul, Paulo e Aparecida, juntaram-se ao nosso grupo. Fazíamos comentários, rindo alegres, quando apareceu Jorge. Vinha me buscar.

- Caymmi está cantando lá dentro, venha ouvir.

*

"Um Chapéu para Viagem"
Autora: Zélia Gattai
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 360
Quanto: R$ 41,00
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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