Livraria da Folha

 
03/09/2010 - 13h16

Fernanda Torres, Lázaro Ramos e Wagner Moura traduzem sonetos de Shakespeare

da Livraria da Folha

Divulgação
Personalidades traduziram seus sonetos favoritos de Shakespeare
Personalidades traduziram seus sonetos favoritos de Shakespeare

"Empacotei", "fudeu" e "beleléu" nunca seriam associados aos delicados sonetos de William Shakespeare (1564-1616). Agora são, mas sem estragos. Atores, roteiristas e escritores escolheram seus versos favoritos do poeta e dramaturgo inglês e os traduziram para "Sonetos de Shakespeare: Faça Você Mesmo" (Objetiva, 2010).

Os direitos autorais do livro foram doados ao Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância). Eles serão aplicados em programas que incentivam a leitura. No sumário, os organizadores Jorge Furtado e Liziane Kugland estendem o convite à tradução shakesperiana com um "Por enquanto, por...".

O leitor também tem espaço reservado no volume. A cada soneto, temos a oportunidade de traduzir Shakespeare como quisermos. Há uma página dedicada a isso, com linhas para serem preenchidas.

O livro revela que nem Shakespeare foi tão rigoroso assim em seus 154 sonetos, escritos nos anos 1590 e publicados em 1609. O 126 tem apenas 12 versos, rimando de par em par.

A Livraria da Folha selecionou quatro sonetos traduzidos pelos atores Fernanda Torres, Lázaro Ramos e Wagner Moura, e pelo cineasta Fernando Meirelles. Guel Arraes, Gero Camilo, entre outras personalidades, também participaram da obra.

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Folha Imagem
Fernanda Torres
Fernanda Torres

Soneto nº 15

When I consider every thing that grows
Holds in perfection but a little moment,
That this huge stage presenteth nought but shows
Whereon the stars in secret influence comment;

When I perceive that men as plants increase,
Cheered and checked even by the self-same sky,
Vaunt in their youthful sap, at height decrease,
And wear their brave state out of memory;

Then the conceit of this inconstant stay
Sets you most rich in youth before my sight,
Where wasteful Time debateth with decay
To change your day of youth to sullied night,

And all in war with Time for love of you,
As he takes from you, I engraft you new.

nº 15 por Fernanda Torres

Quando penso que toda perfeição
Só existe por um momento
E o que se passa nesse palco
É secreto escravo do firmamento

E vejo que os homens, como as plantas,
Vingam ou mínguam graças ao céu
Desabrochados, no apogeu declinam
Despindo para sempre da memória o véu

Tal ideia de inconstante estado
De juventude te enche ao meu olhar
Onde o tempo de tudo faz passado
Transformado em noite suja o despertar

Por amor a ti uma guerra contra o tempo eu travo
Deixe que ele te roube a vida enquanto eu aqui te gravo.

-

Rafael Andrade/Folhapress
Lázaro Ramos
Lázaro Ramos

Soneto nº 14

Not from the stars do I my judgment pluck;
And yet methinks I have astronomy,
But not to tell of good or evil luck,
Of plagues, of dearths, or seasons' quality;

Nor can I fortune to brief minutes tell,
Pointing to each his thunder, rain, and wind,
Or say with princes if it shall go well,
By oft predict that I in heaven find:

But from thine eyes my knowledge I derive,
And, constant stars, in them I read such art
As truth and beauty shall together thrive,
If from thyself to store thou wouldst convert;

Or else of thee this I prognosticate:
Thy end is truth's and beauty's doom and date.

n° 14 por Lázaro Ramos e Jorge Furtado

Não colho julgamentos das estrelas
Embora saiba um pouco de astronomia
Notícias boas, más? Não sei prevê-las
Nem sei da fome que trarão os dias

Não sei o que virá em um momento
Não peçam, príncipes, palpites a granel
Não sei se virá chuva, raios, sol ou vento
Não tenho visões ao explorar o céu

Teus olhos dizem o que é ou não é
Fontes do que sei, olhos faróis, meus astros
É deles que virão beleza e fé
Se tu concederes dar-lhes lastro

Ou isto, ou teu futuro se deslinda:
Tua morte, o belo e o justo finda.

-

Divulgação
Wagner Moura
Wagner Moura

Soneto nº 71

No longer mourn for me when I am dead
Than you shall hear the surly sullen bell
Give warning to the world that I am fled
From this vile world, with vilest worms to dwell:

Nay, if you read this line, remember not
The hand that writ it, for I love you so
That I in your sweet thoughts would be forgot,
If thinking on me then should make you woe.

O! if, I say, you look, upon this verse,
When I, perhaps, compounded am with clay,
Do not so much as my poor name rehearse,
But left your love even with my life decay;

Lest the wise world should look into your moan,
And mock you with me after I am gone.

n° 71 por Wagner Moura

Não chore mais por mim; empacotei
Vai ouvir que o sino escroto grita
Dando aviso a todos que eu vazei
Desse mundo vil que o verme habita

Nem ao ler este verso vá lembrar
Da mão que o escreveu, te amo tanto
Quem nem em teus doces sonhos quero estar,
Pensar em mim só te trará o pranto

E se (eu digo) você vir essa fala
Quando eu, quem sabe já lama for
Não vá gritar meu nome, cala
Que com minha vida tombe o teu amor

E que o mundo não vigie o choro teu
Te sacaneará. E eu já morri. Fudeu.

-

Mastrangelo Reino/Folhapress
Fernando Meirelles
Fernando Meirelles

Soneto nº 23

As an unperfect actor on the stage,
Who with his fear is put beside his part,
Or some fierce thing replete with too much rage,
Whose strength's abundance weakens his own heart;

So I, for fear of trust, forget to say
The perfect ceremony of love's rite,
And in mine own love's strength seem to decay,
O'ercharg'd with burthen of mine own love's might.

O! let my books be then the eloquence
And dumb presagers of my speaking breast,
Who plead for love, and look for recompense,
More than that tongue that more hath more express'd.

O! learn to read what silence love hath writ:
To hear with eyes belongs to love's fine wit.

nº 23 por Fernando Meirelles

Como um ator imperfeito em cena
Que por medo não entra em seu papel
Ou alguém que sente raiva de dar pena
e despacha o coração pro beleléu.

É por pura calhordice que me passa
O perfeito rito cerimonioso do amor
E o poder deste amor perde sua graça
Curvado pelo peso do vigor.

Oh! Que meus livros sejam a eloquência
Mensageiros mudos de um peito tagarela
Que implora amor e busca recompensa
Mais que a língua, incansável sentinela.

Aprenda a ler este amor silencioso
Ouvir com os olhos é um dom precioso.

 
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