Livraria da Folha

 
19/09/2010 - 11h02

Há 89 anos nascia Paulo Freire, importante educador brasileiro

da Livraria da Folha

Bel Pedrosa/Folha Imagem
Pedagogo Paulo Freire defendia que a leitura e a escrita são práticas de liberdade
Pedagogo Paulo Freire defendia que a leitura e a escrita são práticas de liberdade

Paulo Freire (1921-1997) é considerado um dos maiores educadores brasileiros de todos os tempos. Conhecido mundialmente pela "Pedagogia do Oprimido", Freire obteve reconhecimento com o sucesso da eficiente e rápida educação popular de adultos.

Formado em direito, não exerceu a profissão, tendo escolhido direcionar a carreira para o magistério. Contudo, as experiências nas salas de aula incomodaram Freire, porque ele entendia que com forma tradicional de ensino o conhecimento não avançava.

De acordo com seu pensamento, o aluno no papel passivo - de ouvinte -- não consegue desenvolver o senso crítico, ao mesmo tempo em que o professor, no vício de ensino sem questionamentos, também fica refém do próprio saber.

Conhecido como "Método Paulo Freire", a teoria visa o ensino mais rápido e objetivo dos alunos. E mais do que isso, o educador defende que as aulas devem instigar o conhecimento e provocar o questionamento por parte dos alunos.

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Proposta pedagógica pensada a partir da realidade do Terceiro Mundo
Proposta pensada a partir da realidade do Terceiro Mundo

Para Fernando José de Almeida, autor de "Paulo Freire", da coleção Folha Explica, "seu trabalho foi marcante principalmente nas áreas de alfabetização, da conscientização popular e da organização curricular, em países ou regiões marcados pela opressão e pelas desigualdades educacionais e econômicas."

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O trabalho de Paulo Freire sempre esteve ligado à política, com fortes influências do marxismo e citações a líderes como Che Guevara e o chinês Mao, e uma de suas afirmações mais famosas passeia por esta linha de pensamento. Freire dizia que somente os oprimidos podiam libertar os opressores.

Costumava dizer também que "ninguém ensina ninguém, mas ninguém aprende sozinho". Palavras duras e que mexeram com a cabeça de muitas pessoas, para gosto ou desgosto dos profissionais da área.

"Ler, segundo Freire, não é caminhar sobre as letras, mas interpretar o mundo e poder lançar sua palavras sobre ele, interferir no mundo pela ação. Ler é tomar consciência. A leitura é antes de tudo uma interpretação do mundo em que se vive. Mas não é só ler. É também representá-lo pela linguagem escrita. Falar sobre ele, interpretá-lo, escrevê-lo. Ler e escrever, dentro de uma perspectiva, é também libertar-se. Leitura e escrita como prática de liberdade."

Alguns outros livros curiosos para a introdução e estudo do pensamento do educador Paulo Freire são "Dicionário Paulo Freire", "Paulo Freire, uma Bibliografia", "Pedagogia da Esperança" e Ensinar e Aprender com Paulo Freire 40 Horas 40 Anos Depois"

Leia trecho de "Paulo Freire", e conheça mais sobre seu método de ensino.

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Elementos do seu método

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Livro analisa a vida e a obra de um dos maiores educadores do Brasil
Livro analisa a vida e a obra de um dos maiores educadores do Brasil

O método construído por Paulo Freire a partir de sua prática pedagógica, em articulação com os carentes sociais e culturais de seu estado de Pernambuco, gerou um programa de alfabetização que marcou as quatro últimas décadas do século 20. Pode-se dizer que esse método interferiu no mundo da educação em todos os continentes.

Partindo de "temas geradores", o método propiciava uma reflexão do alfabetizando sobre os seus próprios problemas - o que gerava necessidade de posicionar-se sobre tais questões e de expressá-las em formas próprias de comunicação. Com o método de Freire, os adultos não se sentiam alheios aos temas de sua escrita e a leitura virava um aprofundamento do que já vinham vivendo, em suas experiências como trabalhadores e cidadãos.

Se os temas geradores fossem, digamos, terra, latifúndio, favela, enxada, foice, casa, eram essas as palavras a serem lidas e escritas, com seus significados debatidos. Toda a gama de desmembramento de outras palavras era oriunda dessas sílabas componentes das palavras-temas. FA-VE-LA pode gerar: vê-la, fa-la, La-ve, lu-va, fa-va, etc., assim como outras inúmeras composições com seus diversos grupos silábicos, num imenso repertório de possibilidades. Com isso, os jovens ou adultos constroem palavras nascidas de seu repertório "gerador"; e sendo elas debatidas, escritas e faladas, podem transformar as suas realidades pela práxis.

Os problemas de alfabetização não pararam aí: da perspectiva do método, o desafio contemporâneo é continuar a construir, com os leitores-aprendizes,a problematização sobre os temas geradores em cada nova realidade - como no mundo digital, especialmente.

Tornado realidade pela reorganização do capitalismo volátil, o mundo digital deve ser também objeto de um novo processo de alfabetização. O mundo digital em nada é menos opressor ou menos desumanizador que o mundo do latifúndio ou da favela. São desafios mais sutis e mais encobertos em aparências de globalização democrática. Como Paulo Freire pode ser chamado para ajudar a desenhar um método de alfabetização crítico-digital?

Para estar nesse mundo e poder participar de suas potencialidades é preciso dominá-lo. Este domínio não se dará pelo controle simples de seus manuais de instrução ou pela manipulação de seus teclados e softwares - "caminhar sobre as letras", como dizia Freire.

Tal participação demanda um aguçamento do senso crítico, acompanhando a discussão de seus problemas e de suas perspectivas. Este domínio se desenvolve também com a compreensão de seus instrumentais: navegar na internet, trabalhar com um processador para escrever um texto, poder enviar uma mensagem para o outro lado da cidade ou do mundo, criar uma agência de notícias ou editar jornais comunitários, divulgar seu currículo na rede: tudo isso pode ser um caminho freiriano de uso crítico e político.

 
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