Livraria da Folha

 
18/10/2010 - 16h11

Faceta obsessiva do pai da psicanálise revela-se em "Deuses de Freud"

MARCELO JUCÁ
colaboração para a Livraria da Folha

Divulgação
OFaceta de colecionador de Freud repete sintoma atual da sociedade
Faceta de colecionador de Freud repete sintoma atual da sociedade

"Deuses de Freud", da autora Janine Burke, é um ensaio inteligente e diferente sobre o pai da psicanálise. Ao contrário das biografias e perfis que o leitor está acostumado, a obra dedica-se a analisar a relação de afeto de Freud com as suas coleções de arte. E isto é o suficiente para muitas interpretações.

Obsessivo colecionador, o psicanalista mantinha esculturas, quadros, esfinges, arcanos e totens de figuras míticas originárias da Grécia, Egito e Roma, principalmente, na sala onde clinicava e escrevia seus trabalhos.

Ao redor de todo o gabinete, em prateleiras e em cima de sua escrivaninha, os diversos itens contribuíram muito nas teorias por ele elaboradas, além de demonstrarem sinais de sua personalidade. Até o famoso divã, onde os pacientes se deitavam para a sessão, tinha um elemento de arte: ele era coberto por um tapete qashqai, que fazia par com outro exemplar preso à parede.

Durante todo o livro, referências à teoria psicanalítica e a aplicação eventual delas nesta obsessão de Freud acontece, mas sem cair no "texto explicativo" e que quebra o ritmo e o resgate histórico proposto pela autora para esta faceta curiosa e nem sempre analisada.

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Dos próprios escritos de Freud, Burke recorta frases e citações interessantes como "o psicanalista, como o arqueólogo, deve escavar camada após camada da psique do paciente, antes de ter acesso aos mais profundos e valiosos tesouros", escreveu.

Assim, a autora aproveita momentos para desfiar um fino humor (interpretativo) a respeito de algumas naturais contradições que o psicanalista cometeu.

"As estátuas de Eros, deus do amor e do desejo, estão bem representadas na coleção de Freud. Embora Freud tenha desenvolvido teorias revolucionárias sobre os poderosos e instintivos ímpetos sexuais que determinam tanto o destino da civilização quanto do indivíduo, ele era um tradicionalista no que tange ao papel das mulheres e um cínico em relação à mudança da sociedade", pontua.

Em outro momento, a autora aponta como o afeto e a compulsão do psicanalista pela coleção havia ultrapassado o comportamento comum, pois quando viajava, Freud sentia a necessidade de levar os objetos com ele, e não podia ser de outra maneira. "Eu preciso ter sempre um objeto para amar", confessou certa vez.

Repleto de fotos, boa parte delas dos itens expostos no "Freud Museum", localizado na cidade inglesa de Londres, as imagens revelam algumas das esculturas (como Eros e Esfinge), jarros, falos, gravuras e espelhos, além da urna onde foram depositadas as cinzas de Freud e sua esposa Martha.

 
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