Livraria da Folha

 
22/11/2009 - 16h35

BALADA LITERÁRIA: Quatro poetas versam sobre as anti-condições da poesia

PAULA DUME
Colaboração para a Livraria da Folha

O que é e por que "ser poeta" no mundo de hoje? Este foi o tema da mesa realizada no último sábado (21), às 14h30, na Biblioteca Alceu Amoroso Lima, zona oeste de São Paulo. O debate que integrou a Balada Literária 2009 teve a presença de quatro poetas da nova geração: Binho, criador do Sarau do Binho, Analu Andriguetti, autora do livro "A Matadora de Orquídeas", Hugo Guimarães, autor de "Poesia Gay Underground", Jesús Ernesto Parra, autor venezuelano de "Sombras que Cruzan las Paredes" e Maria Rezende, escritora carioca, autora de "Bendita Palavra".

Os palestrantes leram seus versos antes de iniciar a conversa. Analu leu o poema "Meu Ex-Namorado", composto na padaria, um pouco antes do bate-papo. "Queria trazer coisa fresca para o público", justificou. Parra também leu versos inéditos, as chamadas "Vivendas" que tratam de como a poesia se perdeu. Maria e Hugo leram poemas de seus livros "Bendita Palavra" e "Poesia Gay Underground", respectivamente. Binho fez uma performance utilizando-se de suas linhas "Favelas Navais" e "Cafuné".

O mediador Binho iniciou o debate questionando a mesa sobre o que é escrever poesia no mundo de hoje. Guimarães explicou que independente de ser hoje ou amanhã, a poesia continua pouco lida, pouco explicada e pouco divulgada. Para Maria, o hoje não faz diferença. Há sim o escrever que move, espanta e comove. Essa combinação faz a poesia existir. "Compartilhar o que você está escrevendo é um termômetro", completou Analu.

Quanto ao exercício do escritor/poeta, Maria acredita que o poema é uma conversa, só que em verso e escrito. Parra exemplificou suas linhas ao citar temas que gosta de abordar como morte, caos, palavra, viagem e sexo. Segundo ele, esses elementos funcionam em um texto poético. "A força caótica resulta nisso que vimos aqui", ressaltou o poeta venezuelano. Analu acredita que a poesia está mais diluída e disseminada por meio de saraus literários e na combinação teatro e música. "As pessoas aceitam formas diversas e assuntos diversos", explicou.

Questionado pelo mediador se Hugo Chávez contribui para a poesia, Parra afirmou em tom de sátira que o presidente é poeta e ele não. O escritor comentou sobre os 40 anos sem tradição novelística pelos quais seu país passou. Segundo ele, houve uma espécie de sequestro da literatura pelo cotidiano político. Parra disse que a poesia está bem, mas não sua saúde mental diante dos fatos.

"Sou poeta, não sei se sou fora do padrão ou se ele foi inventado", disse Maria referindo-se à geração dos malditos escritores que vagam pela noite para acumular e vivenciar experiências, transcritas depois em linhas. A carioca assumiu-se como uma pessoa não destemida e revelou que nunca foi a um baile funk. Guimarães cometou sobre a relação leitor e poesia. O poeta underground despertou polêmica na plateia ao dizer que não lê a poesia de outros poetas e não gosta de Carlos Drummond de Andrade. "Não sou contra ler os clássicos, é apenas um modo diferente de ver as coisas", explicou. Para ele, poesia é pessoal, para tanto, evita ter influências.

Analu revelou o constante dilema com o qual se depara: ler os clássicos ou os contemporâneos? A autora de "A Matadora de Orquídeas" e dona do blog homônimo disse que sua referências são Ana Cristina César, Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade e Fernando Pessoa. A autora leu um poema em homenagem ao seu avô, "Vô Netuno", e um outro chamado "Lição de Casa", no qual reconhece que sua professora de literatura foi a catapora. "Você escreve quando não escreve", disse a poeta paulistana. Parra acentuou uma de suas principais preocupações. "Não me preocupa se os poetas leem mais ou menos, mas se vocês [público] leem", afirmou.

À plateia, o escritor Santiago Nazarian perguntou qual era a profissão de cada membro da mesa além de ser poeta. Parra brincou ao dizer que era assaltante de banco e milionário. Maria é montadora de filmes e trailers. Guimarães trabalha em uma importadora de peças de informática. Analu é jornalista e Binho é dono de um boteco no Campo Limpo.

 
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