Livraria da Folha

 
13/04/2010 - 21h35

Descubra o que há por trás da elegância e do charme das francesas; leia trecho

da Livraria da Folha

Divulgação
Jornalista norte-americana investiga o encanto das mulheres francesas
Jornalista norte-americana investiga o encanto das mulheres francesas

Elas, as francesas, ostentam os melhores cortes de cabelo do mundo. É um fato de que não se pode discordar, sobretudo ao passar os olhos pelos vários blogs de moda urbana dedicados a Paris. Em relação a elas, as francesas, há outros tantos estereótipos: os de que são mulheres sedutoras e ameaçadoras, independentes, livres, fúteis e cheias de segredos.

À exceção do último --elas também escondem coisinhas, como todas as representantes do sexo feminino--, a autora norte-americana Debra Ollivier revê esses velhos conceitos e investiga o que as francesas têm a ensinar às mulheres de outras partes do mundo. Principalmente sobre amor, sexo e atração.

Para escrever "O que as Mulheres Francesas Sabem", Ollivier, jornalista e escritora, observou a cultura da França nos dez anos em que viveu no país --ela se casou com um francês, inclusive-- e analisa o que há de tão fascinante nas mulheres de lá.

A autora esmiúça, sobretudo, como elas lidam com convenções sociais, relacionamentos amorosos e passagem do tempo. E garante: esses três quesitos são os pilares de todo o charme feminino francês.

A seguir, leia um trecho da apresentação do livro:

*

A mulher francesa, evidentemente, há séculos vem desfrutando de uma reputação notavelmente sedutora e ligeiramente vulgar. Ela é uma coquette, uma femme fatale, uma sedutora, uma gata sensual, uma vamp, uma prostituta e uma rainha do gelo. Ela é sofisticada, uma especialista em etiqueta, uma apaixonada pela moda, uma iconoclasta e uma rebelde. Desde que os franceses nos deram nossa Estátua da Liberdade, apimentaram nossa cultura com seus costumes peculiares e picantes, permanecendo como paradigmas da diversidade e de estereótipos questionáveis. O mau sujeito é com frequência francês. A amante é sempre francesa. A prostituta e o bastardo são em geral franceses (e, já que estamos falando nisso, o cozinheiro, o ladrão, sua mulher e sua amante). A mulher ameaçadora com as pernas de fora é invariavelmente francesa. E, é claro, o diabo sempre tem um sotaque francês. Não espanta que percebamos a mulher francesa como ligeiramente perigosa. Suas paixões são nossas provocações. Nós a adoramos e a odiamos porque ela parece ser tudo o que não somos, e porque sua maneira de ser contradiz nossos julgamentos culturais e preconceitos morais sobre amor e sexo. Além disso, temos certeza de que ela guarda segredos. Parece que cresceu mergulhada na sensualidade, enquanto nós fomos criadas com paixão enlatada. Ela certamente parece saber mais sobre dar e receber prazer, o que significa que provavelmente experimenta um sexo mais isento de culpa do que nós, e também come muito mais doces.

Como muitos americanos, minha primeira viagem para a França foi como estudante mochileira. Alguns anos depois, retornei à França, me matriculei na Sorbonne e me mudei para o que era essencialmente um quarto de despejos reformado, no elegante, mas sombrio, 16º arrondissement, com uma companheira de quarto chamada Solange. Solange era da Alsácia. Era pálida, tinha o cabelo cor de palha e me lembrava vagamente um gnomo de jardim. Apesar de sua qualidade angelical, tinha um ar grave que evocava as rústicas planícies de seu ancestral norte-europeu - pelo menos essa era a maneira como eu encarava a sua inclinação para a frugalidade. Ela comia o queijo até a casca e depois ralava a casca para colocar em sua sopa. Rituais similares eram realizados com as baguettes secas meio comidas. Ela era reservada, raramente gesticulava e tinha cerca de três peças de roupa que vestia repetidamente, com apenas minúsculos ajustes na sua aparência. Em suma, embora Solange não fosse uma garota francesa bonita, realmente tinha, apesar de suas idiossincrasias, um certo charme e um sex appeal inegável, e eu me lembro de pensar que, se ela fosse uma típica garota francesa, teria de ajustar um pouco minhas suposições culturais. Eu já sabia que o proverbial je ne sais quoi que nós, anglo-saxonicos, podíamos associar às mulheres francesas não tinha tanto a ver com os detalhes superficiais como se poderia supor.

Durante o período que estudei na Sorbonne, li muitos nouveaux romans, usei muitas echarpes e, devido aos meus encontros diários com os nativos, alimentei meu vigoroso relacionamento de amor e ódio com o francês. Um ano movimentado e delicioso se passou e, quando retornei à Califórnia, achei que meus dias franceses estavam terminados.

Não estavam.

Anos depois conheci um homem que estava trabalhando em um filme em Los Angeles. Soube imediatamente que ele era francês, porque estava comendo um hambúrguer com garfo. Nós namoramos e eu voltei para a França, onde me casei, tive dois filhos e continuei a estudar de perto a flora e a fauna locais. Desta vez morei em um subúrbio nordeste da margem direita do Sena, no 19o arrondissement - uma classe trabalhadora pobre, mas que prosperava rapidamente, que eu chamava de "Povos de Paris" devido à alta densidade de pessoas de todos os cantos do mundo que afluíam para lá. (Uma parisiense amiga minha uma vez torceu o nariz: "Preciso de um passaporte para entrar no seu bairro". Na época, seu esnobismo incurável me impressionou profundamente.) De todo modo, é com certeza um lembrete de que se a França é a Torre Eiffel, ela é também a Torre de Babel, e isso vale para tudo o que está além do esplendor do centro da cidade.

Seja como for, quando me mudei para o 19º arrondissement, não era possível encontra‑lo nos mapas da maioria dos guias. Parecia que estes escritores de guias haviam colocado um cortador de biscoitos sobre o centro de Paris, desprezado as sobras e as descartado. Apenas alguns poucos locais espalhados nesses subúrbios do norte eram mencionados - o cemitério Père Lachaise, Montmartre - pois, do contrário, a única Paris "real" que parecia existir para os fornecedores de todas as coisas francesas era o seu centro, ou seja, a margem esquerda do Sena.

Eu trouxe tudo isso à baila por um motivo: a maioria dos duradouros estereótipos que nutrimos sobre as mulheres francesas são exportados deste centro, no qual tantos escribas culturais e turistas baseiam suas declarações. É através do prisma deste velho centro dourado, nos arrondissements que cercam o Sena, que encontramos nosso mais duradouro clichê francês. Você a conhece: ela é la parisienne, essa francesa ligeiramente arrogante, com pernas maravilhosas e nenhuma gordura no corpo, que caminha por Saint Germain-des-Pres parecendo très chic e que incorpora a palavra sexy como nenhuma outra. Entretanto, a parisienne da margem esquerda não é mais representativa de todas as mulheres francesas do que Paris representa toda a França, e você não precisa visitar os noventa e cinco departamentos do país para perceber isso. Simplesmente saia do caminho entusiasticamente trilhado do centro da cidade - mais um testemunho do passado glorioso da cidade do que do seu presente policromático - e vai encontrar uma enorme quantidade de mulheres francesas que desafiam o estereótipo. E aqui está o desafio em um livro desta natureza: para cada mulher francesa que se aproxima do estereótipo que conhecemos tão bem, há uma que se desvia dramaticamente na outra direção; para cada parisiense que parece ter saído de uma revista Elle, marcando o seu caminho pela rue de Grenelle em uma minissaia do tamanho de um guardanapo com o último romance de Houellebecq enfiado na bolsa, há outra mulher francesa que mora em Saint-Bonnet-le-Chateau, compra vestidos em estampado floral do catálogo La Redoute, joga boliche nos fins de semana depois de cantar no coral da sua igreja - e "engorda".

Não. A mulher francesa típica não existe, assim como não existe a mulher americana típica, ou a japonesa, ou a italiana. Mas apesar disso...
Apesar disso, aqui está ela. Outro dia, ouvi um homem americano falando com um colega sobre a nova namorada do seu chefe: "Ela é francesa", foi tudo o que ele disse, porque isso dizia tudo. Seu colega ergueu uma sobrancelha com um sorriso astuto e cúmplice e replicou: "U-la-la". Uma conversa similar entre duas mulheres americanas sobre a nova namorada de alguém pode soar algo desse tipo:
"Ela é francesa."
"Oh!"
E isso acontece porque, não importa a aparência que tenham, muitas mulheres francesas ainda parecem exalar uma luminosa sensualidade. Elas ainda parecem ser uma... ameaça. Nesta mistura cremosa de francesismo - entre o burguês e o boêmio, o urbano e o suburbano -, alguns arquétipos franceses ainda realmente prevalecem, porque a própria cultura francesa prevalece como uma rede infinitamente complexa de rituais e tendências sociais duradouras que molda seus cidadãos. Por isso, todos os dias, mais ou menos à mesma hora, pode-se ainda ouvir o arrastar coletivo de milhões de cadeiras quando a França paralisa o mundo e se senta em massa para jantar mais ou menos no mesmo horário. Os franceses também lutam em massa por suas causas comuns, tiram longas férias com o mesmo abandono de verão, leem Proust no metrô, cozinham com sobras, têm um senso estético apurado, buscam prazer onde for possível, rejeitam grande parte dos dogmas morais que nos deixam tolhidos e basicamente preferem viver a vida do que ganhar a vida. Em suma, a cultura francesa ainda produz suas massas folhadas como produzia há centenas de anos, assim como, se pudermos ser gastronomicamente audaciosos em nossas metáforas, ainda produz as mulheres francesas. Por isso há uma grande verdade no que disse certa vez a atriz Charlotte Rampling: "As mulheres francesas foram tornadas belas pelo povo francês. Elas são muito conscientes de seus corpos, da maneira como se movimentam e como falam; elas confiam muito na sua sexualidade. A cultura francesa as fez assim".

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O que as Mulheres Francesas Sabem
Autor: Debra Ollivier
Editora: Planeta
Páginas: 192
Quanto: R$ 19,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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