Livraria da Folha

 
11/05/2010 - 15h18

Livro explica como sair ileso de conflitos no mundo corporativo; leia trecho

da Livraria da Folha

Divulgação
Empresário ensina técnicas para se tornar um funcionário pacificador
Empresário ensina técnicas para se tornar um funcionário pacificador

Se no meio de uma reunião importante seu chefe começa a discutir com um de seus colegas, o que você faz? Se concordar com alguma das opiniões, manifesta seus argumentos ou fica em silêncio? Larry Dressler, autor do livro "No Meio do Fogo Cruzado", defende que o melhor é dominar técnicas e ferramentas para ser um bom mediador.

Empresário norte-americano e especialista em gerenciamento de carreira, Dressler ensina, com base no método "presença do facilitador", a como semear o equilíbrio no ambiente de trabalho e a transmitir uma imagem de funcionário calmo, curioso, compassivo e corajoso-- perfil extremamente valorizado por grandes corporações.

Dividido em três partes, o livro descreve a princípio as causas dos desentendimentos que acontecem em grupos de trabalho e o que é necessário para se tornar um agente pacificador; em seguida, oferece subsídios a partir de técnicas físicas, mentais e emocionais para alcançar essa posição; e por último esmiúça que práticas pessoais ajudam a cultivar qualidades como criatividade e flexibilidade, essenciais para virar o jogo quando algo inesperado (e desagradável) acontece.

A seguir, leia a apresentação do livro:

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O Poder do Fogo Cruzado

Você consegue se lembrar do momento de calor mais intenso que já enfrentou ao trabalhar com um grupo? Um dos meus momentos mais memoráveis ocorreu bem no começo de minha carreira, mas me lembro muito bem. Eu tinha uma sócia na consultoria naquela época, Christine, e trabalhávamos com um grupo de agentes da Polícia Federal. Um conflito entre duas divisões da agência viera crescendo por vários meses, e, alguns dias antes de nossa primeira reunião, alguns agentes foram pegos vandalizando o carro de outros, riscando as portas com chaves. As pessoas mal conseguiam se lembrar da origem do conflito, mas os dois lados julgavam estar com a razão. A divergência assumira vida própria e as coisas eram feitas num moto contínuo de vingança e retaliação. Na primeira reunião, todos chegaram na hora e, à medida que os policiais se sentavam e posicionavam as cadeiras, os assentos tomaram a configuração de dois círculos. A geografia do conflito ficou clara desde o início, e a tensão na sala era palpável. Enquanto esperavam a reunião começar, as pessoas ficavam de pernas e braços cruzados, não eram capazes de olhar para os membros do outro grupo. E quando Catherine e eu estávamos prestes a dar início à reunião, percebemos que todos eles traziam consigo as armas.

Só conseguia pensar, naquele momento, nas vinte e tantas armas portadas por pessoas realmente irritadas umas com as outras. Meu coração batia rápido e senti meu rosto ficar vermelho. Lembro-me de começar a procurar a saída de emergência, só para ter certeza de onde ficava. Eu não sabia o que dizer ou fazer, e a única diferença entre mim e Catherine é que ela parecia mais composta.

Não é preciso estar cercado por armas de fogo para lembrar da própria vulnerabilidade quando se entra numa sala para mediar uma reunião de alto risco. Algumas vezes, basta o levantar cético de sobrancelhas de uma pessoa poderosa presente na sala; outras, a percepção de que o grupo não chegará a nenhum objetivo antes de a reunião terminar. Mas o que pode inflamar uma situação, sob nosso ponto de vista, depende em grande parte de nossos "botões" pessoais de emergência.

Quando esses botões são apertados, dois tipos de energia podem "pegar fogo". Um deles, ligado a um instinto de sobrevivência tão antigo quanto o ser humano, é a reação de autoproteção. É uma reação habitual, geralmente carregada de emoção e concebida para nos levar de volta à nossa zona de conforto. O outro tipo de energia só pode ser acessado se nos perguntarmos: Quem eu quero ser agora? Essa pergunta inflama a energia da escolha deliberada e da ação consciente. Este livro, então, trata de construir nossa capacidade de inflamar a segunda energia, mesmo quando nosso ego e nossos medos tentam nos convencer a fazer de outra maneira.

Quando olhamos para o calor que emana de uma dinâmica de grupo desafiadora, instintivamente queremos fazer algo. Tentamos descobrir a intervenção correta que poderia deixar as coisas mais fáceis para o grupo, ou talvez para nós. E entramos em ação com pouca consciência de nosso diálogo interno e de nosso estado emocional. Por isso, muitas vezes essa ação acaba sendo a escolha errada ou uma escolha razoável, mas mal executada. E vemos com bastante frequência que nem era necessário nenhum tipo de ação. O que era preciso naquele momento era um líder facilitador, que servisse como uma presença firme, resoluta e imparcial naquela sala, mantendo o espaço para as conversas e discussões com bom humor, firmeza e compaixão. Então, quem mostramos ser no momento de intenso calor já é em si uma intervenção poderosa. Não é preciso ser a imagem do carisma ou mostrar um desapego zen. Em vez disso, precisamos ocupar um espaço de integridade tanto para nós quanto para o grupo a que servimos. Nosso poder vem da percepção de que sempre é possível escolher quem se mostrará.

Sem paixão, convicção e desejo, não haveria o fogo cruzado irradiando nos grupos. E, sem fogo cruzado, os grupos produziriam coisas de pouco interesse ou sem nenhum impacto positivo. Precisamos do fogo cruzado para progredir, mas também precisamos auxiliar as pessoas a canalizar esse calor. Esse é o trabalho dos mediadores do fogo cruzado - pessoas que sabem como revelar o potencial criativo do fogo cruzado gerado no grupo. E cultivar o potencial criativo do fogo cruzado é a única abordagem realmente útil, porque não adianta extinguir o incêndio. Muitos líderes e instituições evitam ou reprimem as discussões mais importantes e que precisam acontecer, e os resultados são desastrosos. Muitos estudos de caso foram escritos sobre a Enron e a cultura predominante dela, em que desafiar o status quo ou levantar preocupações simplesmente não era aceitável. A divergência era desestimulada de diversas maneiras, sutis e não tão sutis assim. A política de repressão levou ao fim da empresa.

Para que se crie uma organização ou uma comunidade em que as pessoas se sintam seguras para expressar a própria verdade, precisamos de líderes que sejam hábeis em controlar processos e que possuam a capacidade de se manter conscientes, abertos e fluidos, mesmo enquanto outros lutarem contra as divergências de opinião, a confusão e o medo. Os mediadores do fogo cruzado costumam ser atraídos para as áreas de calor da existência social porque sabem que, quando há calor, há a possibilidade de transformação. Embora procurem e cultivem o calor com grande habilidade, eles sabem que a ferramenta mais importante deles é a mentalidade, o estado emocional e a forma como ocupam os próprios corpos. Eles compreendem que, independentemente daquilo que produza calor "lá fora", eles controlam o próprio termostato.

Ser e estar podem assumir diversos significados. Quando digo "Minha decisão está em vigor", significa que ela vale. Se disser "Não aguento isso", quer dizer que cheguei ao limite do suportável. Quando afirmo "Estou ao lado" de alguém ou algo, isso se refere a uma atitude ou a uma perspectiva. "Estar no meio do fogo cruzado" quer dizer tudo isso ao mesmo tempo, englobando todos os significados e muito mais. Já que somos líderes, nosso papel como facilitadores precisa ser desempenhado com eficiência. Muitas vezes precisamos suportar situações em que nos sentimos muito desconfortáveis. É inevitável nos vermos desequilibrados pela intensa energia dos outros e forçados a nos recompor rapidamente. Quando adotamos a função de mediador, escolhemos um determinado conjunto de atitudes e comportamentos, uma maneira de ver as coisas que acontecem e quem somos naquele momento.

Este livro explora seis maneiras inter-relacionadas de se posicionar no meio do fogo cruzado. Você aprenderá como é estar no meio do fogo cruzado com autoconsciência, presença, receptividade, intenção, fluidez e compaixão. Para cada uma dessas formas, o livro descreve as qualidades que você precisa ter para ser bem-sucedido. Os mediadores do fogo cruzado mais habilidosos e experientes têm um conjunto de práticas pessoais que visam a cultivar a autoconsciência e a eficácia. Tais práticas auxiliam a escolher o melhor caminho a trilhar no meio do calor intenso. Cada momento, dentro ou fora da reunião, é uma oportunidade para praticar. Há práticas contínuas que nos auxiliam no desenvolvimento de uma disponibilidade diária, bem como as que nos preparam para nossa chegada às reuniões. Além disso podemos utilizar alguns processos para nos recuperar durante uma reunião em que o botão das discussões acaloradas foi pressionado. Precisamos de práticas, sistemas e processos que os auxiliem a refletir e a nos renovar depois de passarmos por um incêndio humano. E, ao contrário do que diz o ditado popular, a prática "não leva à perfeição". Em vez disso, a prática é o modo de romper as ilusões do perfeccionismo e do controle ao mesmo tempo que aprendemos a nos tornar mais presentes à nossa sabedoria nos momentos em que os outros julgam difícil ter acesso à sabedoria deles.

Conforme nos engajamos na prática e obtemos novos conhecimentos de nossa experiência com os grupos, passamos a perceber que o fogo cruzado destrutivo, como medo, agressividade e distrações, é algo autoinflingido. Ao desenvolver maior domínio da situação, aprendemos a reconhecer a discordância de opiniões e a confusão como velhos amigos. E damos boas-vindas a surpresas inconvenientes como um combustível útil e passamos a enxergar as rupturas no grupo como precursores naturais dos avanços. Quanto mais trabalhamos com o fogo cruzado, mais o vemos como uma fonte de transformação, não apenas para o grupo, mas também para nós, como agentes de mudança.

A cada vez que convidarmos a discordância, a possibilidade, o sofrimento, a paixão e a confusão a entrarem na sala, também deveremos convidar o que é mais calmo, mais claro e mais corajoso dentro de nós - nosso eu mais sábio e centrado. E sempre que aceitarmos esse convite, honraremos uma proposição tão antiga quanto o relacionamento da humanidade com o fogo - que as conexões e conversas entre os homens mudarão este mundo para melhor.

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"No Meio do Fogo Cruzado"
Autor: Larry Dressler
Editora: Prumo
Páginas: 272
Quanto: R$ 35,90
Onde comprar: 0800-140090 ou na Livraria da Folha

 
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