PENSATA

Domingo, 12 de novembro de 2000

O bicho é mais feio do que parecia

Rodrigo Bueno
     

Diego Medina

Não foi tão ruim quanto se esperava. As eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2002 chegam ao final de seu turno inicial com um equilíbrio entre a maioria dos times participantes e, por consequência, atraindo.

Se analisarmos a disputa (a grosso modo, o primeiro campeonato sul-americano de seleções de verdade pelo seu formato) com os olhos do torcedor brasileiro apaixonado pela seleção, acharemos um porre, seja porque a certeza da classificação existe, seja porque o time nacional não tem se apresentado bem.

Mas vendo as eliminatórias em nosso continente de uma forma mais abrangente é possível constatar que poucas competições de seleções hoje oferecem tantas possibilidades em condições iguais para os competidores.

As últimas Copas Américas contaram até com equipes de outras regiões do planeta, mas isso só desvalorizou o torneio, que ficou restrito ao time da casa e ao Brasil, que se dispôs a levar sua equipe mais forte.

O inchaço recente das Copas do Mundo deixou a primeira fase da competição com poucos confrontos de fato interessantes.

Como as disputas na África, Ásia, Concacaf e Oceania ainda carecem de certo peso, a Eurocopa fica como o único torneio tão disputado quanto importante durante toda a sua fase aguda.

As eliminatórias sul-americanas aparecem certamente em segundo lugar nesse quesito. Dos 10 participantes, 7 estão entre os 50 mais bem colocados no ranking da Fifa, sendo que o Equador não figura na lista devido ao seu pouco intercâmbio com seleções de outros continentes.

As potências Argentina e Brasil ocupam posições de destaque na tabela, o que é normal, mas, talvez até pelo sistema de disputa, não renderam o máximo e estiveram mais próximas da concorrência, cada vez maior.

Pelo menos até setembro de 2001, quando argentinos e brasileiros voltam a se enfrentar, em Buenos Aires, nenhum dos dois deverá estar matematicamente garantido. Isso mesmo com a classificação de quatro países diretamente no fim da disputa.

Sendo assim, é praticamente certo que o primeiro país classificado no campo para o primeiro Mundial asiático (exceção feita à França, campeã da Copa de 98) não será um sul-americano.

Com resultados lógicos na rodada final do primeiro turno, a diferença entre o primeiro colocado e o sétimo nas eliminatórias sul-americanas ficaria em nove pontos (pouco, após nove rodadas completadas).

O ‘‘campeão do primeiro turno’’ poderia muito bem ficar a só três pontos do terceiro colocado (todos entendiam desde o começo que havia um abismo entre as duas potências e os demais postulantes na América do Sul).

Todas as equipes até agora atravessaram crise na competição, incluindo a líder Argentina, que colheu tropeços e frustrações como anfitriã. Todos os times saborearam uma grande atuação, incluindo a Venezuela, que bateu a Bolívia com sobras em sua casa, e o Brasil, que venceu bem a Argentina no Morumbi.

A longa duração das eliminatórias sul-americanas pode gerar certo tédio, mas possibilita mais alternativas. O time que inicia a disputa pode ser bem diferente do que jogará na rodada final.

Que o diga Wanderley Luxemburgo, que previu a convocação de até 35 atletas nas eliminatórias, mas chamou quase 50 e nem chegou ao oitavo jogo.

NOTAS

Europa
O técnico francês Aimé Jacquetcolocou dez vez seu orgulho de
campeão do mundo para fora.Em entrevista a uma revista deseu país, diz que os ingleses sãofãs do futebol francês e gaba-sepor ter recusado sondagens paratreinar a Inglaterra. Para ele, foi-se o tempo em que os inglesescultuavam o futebol brasileiro.Agora, sedundo ele, é a Françaque deve ser idolatrada na bola.

Ásia
Indonésia e Tailândia se cruza­ram na Tiger Cup dois anos de­pois do rídiculo episódio emque os dois times chutaramcontra o próprio gol, querendoperder para ter vantagens notorneio. A punição pela falta deesportividade das duas seleções foi tão branda que seis jogado­res da Indonésia que atuaramem 98 foram escalados agora.

América
A seleção feminina dos EUA encerra sua maratona de jogos no
dia 17 de dezembro contra o Japão. No total, serão 41 jogos em
2000. Tudo para divulgar mais a modalidade nos EUA, que dá
início em abril à sua liga, e para exibir uma equipe com aura de
imbatível (não contavam com a medalha de prata em Sydney)..


e-mail: rbueno@folhasp.com.br



Leia as colunas anteriores:

05/11/2000 - O mundo torce pela CPIs em Brasília
29/10/2000 - Escorpianos de outubror
22/10/2000 - Player manager
15/10/2000 - Sonda-se treinador estrangeiro
08/10/2000 -
Superseleção ou supertécnicos?
1º/10/2000 - Fora daqui
24/09/2000 - Um detalhe interferiu: a bola
17/09/2000 - Excessivo excesso de otimismo
10/09/2000 - Dando a cara para bater
03/09/2000 -
Veja agora o campeão da Copa-2002
27/08/2000 - Racismo
20/08/2000 - O jogo do milhão
13/08/2000 - Os jogos da Nike
06/08/2000 - Pré-temporada de luxo
30/07/2000 - Século brasileiro
23/07/2000 - Troca de Comando
16/07/2000 - Caça às bruxas
09/07/2000 - Brasil-2018
02/07/2000 - Campeões melhores do mundo
25/06/2000 - Desunião européia
18/06/2000 - A volta dos gols
11/06/2000 - Quanto vale o show?
04/06/2000 - Camisa 10 da seleção
28/05/2000 - Licença para jogar
21/05/2000 - Saem os clubes e entram as seleções
14/05/2000 - "Minhas Desculpas"
07/05/2000 - "Gatos" na Nigéria
30/04/2000 - Presente e Passado
23/04/2000 - Superligas