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Terça-feira, 23 de maio de 2000

A regra do predador

Melchiades Filho
     
Diego Medina

Um esporte pode ter duas ou mais faces. O futebol, por exemplo, parece respeitar a latitude: o Hemisfério Sul segue um estilo; o Norte, outro.

No caso das quadras, porém, a distinção é mais gritante, aguda. Dá para afirmar, sem titubear, que o mundo hoje conhece dois basquetes. Não me refiro à
superioridade do nível técnico do torneio norte-americano _ainda indiscutível.

Falo, sim, da característica que o jogo adquiriu na NBA a partir de uma simples regra: a obrigatoriedade da defesa individual.
É difícil explicar sem recorrer a desenhos, mas, grosso modo, pode-se definir que o basquete norte-americano leva à quadra cinco duelos simultâneos.

Os times se movem pela quadra para explorar esses confrontos homem-a-homem, com o objetivo de esconder as suas fragilidades e tirar proveito das do oponente.
O interessante desse espacejamento tático é que os times podem variar os personagens dos emparceiramentos ("matchups") na defesa e no ataque.


Um exemplo recente: no último título diante do Utah, Michael Jordan marcou Jeff Hornacek (lento, o que possibilitava ao superastro economizar energia) e foi marcado por Bryon Russell, embora o Chicago fizesse tudo (corta-luzes e isolamentos) para que ele ficasse no mano-a-mano com John Stockton (mais baixo).
Complicado acompanhar, não? Imagine, então, para um técnico conceber e para um jogador assimilar os diversos planos de jogo.

O basquete nos outros países, com a liberação da defesa por zona, carece dessa sofisticação. Não é difícil para uma equipe mascarar suas deficiências. Um jogador pode ser sofrível na defesa e não comprometer _basta que grude num colega eficiente no desarme.

A falta dessas muletas, de misericórdia, é o que explica por que craques "estrangeiros" sofrem tanto ao chegar à NBA. O iugoslavo Drazen Petrovic, o melhor jogador não-americano dos anos 80, passou duas temporadas no banco até conseguir pegar o passo.
Mesmo o torcedor precisa de tempo. Mas, uma vez capaz de identificar e entender a razão dos "matchups", garanto, perceberá que o basquete é um esporte ainda mais emocionante e inteligente do que imaginava.

O brasileiro, aliás, tem uma boa oportunidade para se acostumar. O campeonato da NBA chegou às semifinais, e a TV vai exibir todas as partidas restantes esta semana.

O New York, por exemplo, confiou sua classificação a uma dupla de armadores coadjuvantes (Charlie Ward e Chris Childs) só porque o jogador do Miami nessa posição (Tim Hardaway) estava voltando de uma grave contusão.

O Indiana, por sua vez, mandou o cestinha Reggie Miller atacar contra o melhor marcador do Philadelphia. O aparente paradoxo se explicava porque Eric Snow vinha atuando com uma luxação no tornozelo. Miller abusou de deslocamentos laterais, freadas e acelerações, até triturar o osso do rival, garantindo a classificação.

Alguns atletas escalam seus "matchups" durante o jogo. É o caso de Scottie Pippen, uma espécie de tapa-buracos, que reconhece os ritmos e flutuações da partida e se encarrega de escolher o "par" de acordo com as necessidades de seu Portland.



NOTAS

Lakers x Portland
Nenhum time tem tantas armas para neutralizar Shaquille O’Neal como o Portland. O time usa três fortões (Sabonis, Wallace e Grant), juntos, contra o superpivô, e atletas exímios na cobertura (Pippen e Anthony) contra o resto. Mas, para dar certo, tudo tem de correr perfeitamente _e a arbitragem colaborar, pois muitas vezes isso resulta numa defesa por zona no garrafão. No primeiro jogo, sábado, tudo deu errado. E vai ser difícil remendar.

Indiana x New York

Ambos apostam na versatilidade, alternando durante a partida a velocidade e o foco do esquema ofensivo. Mas o Indiana não possui a altura, a intimidação física do adversário. Seus pivôs, Smits e Perkins, são molengas.

LA Lakers x New York?
Pode ir lambendo os beiços.




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