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Diego
Medina
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Um
esporte pode ter duas ou mais faces. O futebol, por exemplo, parece
respeitar a latitude: o Hemisfério Sul segue um estilo; o
Norte, outro.
No caso das quadras, porém, a distinção é
mais gritante, aguda. Dá para afirmar, sem titubear, que
o mundo hoje conhece dois basquetes. Não me refiro à
superioridade do nível técnico do torneio norte-americano
_ainda indiscutível.
Falo, sim, da característica que o jogo adquiriu na NBA a
partir de uma simples regra: a obrigatoriedade da defesa individual.
É difícil explicar sem recorrer a desenhos, mas, grosso
modo, pode-se definir que o basquete norte-americano leva à
quadra cinco duelos simultâneos.
Os times se movem pela quadra para explorar esses confrontos homem-a-homem,
com o objetivo de esconder as suas fragilidades e tirar proveito
das do oponente.
O interessante desse espacejamento tático é que os
times podem variar os personagens dos emparceiramentos ("matchups")
na defesa e no ataque.
Um exemplo recente: no último título diante do Utah,
Michael Jordan marcou Jeff Hornacek (lento, o que possibilitava
ao superastro economizar energia) e foi marcado por Bryon Russell,
embora o Chicago fizesse tudo (corta-luzes e isolamentos) para que
ele ficasse no mano-a-mano com John Stockton (mais baixo).
Complicado acompanhar, não? Imagine, então, para um
técnico conceber e para um jogador assimilar os diversos
planos de jogo.
O basquete nos outros países, com a liberação
da defesa por zona, carece dessa sofisticação. Não
é difícil para uma equipe mascarar suas deficiências.
Um jogador pode ser sofrível na defesa e não comprometer
_basta que grude num colega eficiente no desarme.
A falta dessas muletas, de misericórdia, é o que explica
por que craques "estrangeiros" sofrem tanto ao chegar
à NBA. O iugoslavo Drazen Petrovic, o melhor jogador não-americano
dos anos 80, passou duas temporadas no banco até conseguir
pegar o passo.
Mesmo o torcedor precisa de tempo. Mas, uma vez capaz de identificar
e entender a razão dos "matchups", garanto, perceberá
que o basquete é um esporte ainda mais emocionante e inteligente
do que imaginava.
O brasileiro, aliás, tem uma boa oportunidade para se acostumar.
O campeonato da NBA chegou às semifinais, e a TV vai exibir
todas as partidas restantes esta semana.
O New York, por exemplo, confiou sua classificação
a uma dupla de armadores coadjuvantes (Charlie Ward e Chris Childs)
só porque o jogador do Miami nessa posição
(Tim Hardaway) estava voltando de uma grave contusão.
O Indiana, por sua vez, mandou o cestinha Reggie Miller atacar contra
o melhor marcador do Philadelphia. O aparente paradoxo se explicava
porque Eric Snow vinha atuando com uma luxação no
tornozelo. Miller abusou de deslocamentos laterais, freadas e acelerações,
até triturar o osso do rival, garantindo a classificação.
Alguns atletas escalam seus "matchups" durante o jogo.
É o caso de Scottie Pippen, uma espécie de tapa-buracos,
que reconhece os ritmos e flutuações da partida e
se encarrega de escolher o "par" de acordo com as necessidades
de seu Portland.
NOTAS
Lakers x Portland
Nenhum time tem tantas armas para neutralizar Shaquille ONeal
como o Portland. O time usa três fortões (Sabonis,
Wallace e Grant), juntos, contra o superpivô, e atletas exímios
na cobertura (Pippen e Anthony) contra o resto. Mas, para dar certo,
tudo tem de correr perfeitamente _e a arbitragem colaborar, pois
muitas vezes isso resulta numa defesa por zona no garrafão.
No primeiro jogo, sábado, tudo deu errado. E vai ser difícil
remendar.
Indiana x New York
Ambos apostam na versatilidade, alternando durante a partida a velocidade
e o foco do esquema ofensivo. Mas o Indiana não possui a
altura, a intimidação física do adversário.
Seus pivôs, Smits e Perkins, são molengas.
LA Lakers x New York?
Pode ir lambendo os beiços.
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melk@uol.com.br
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