São Paulo, sábado, 1 de janeiro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Só a CPI pode reerguer o futebol do Rio

JOÃO MÁXIMO
DA SUCURSAL DO RIO

Por um momento, um breve momento, tive pena de Eduardo Viana, o "Caixa d'Agua", em sua patética tentativa de convencer os deputados fluminenses de que era vítima, e não algoz, do agonizante futebol carioca. Foi na última quarta-feira: suando muito, lábios trêmulos, olhos aflitos, Viana percorria os corredores da Assembléia Legislativa suplicando que alguém lhe estendesse a mão. Enquanto isso, lá dentro, no plenário, pairava sobre a mesa do presidente o pedido de uma CPI que poderia destruí-lo. Ninguém merece sofrer tanto, pensei. Nem o presidente da Federação de Futebol do Rio de Janeiro.
Mas foi mesmo um breve momento. Logo me lembrei que Eduardo Viana estava menos só do que parecia. Deputados do interior, que lhe deviam sabe-se lá que tipo de favor, não tardariam em correr em seu socorro, o que de fato aconteceu. E mais: como o velho Santiago de Hemingway (com mil perdões por citar personagem tão nobre a propósito de personagem tão pobre), "Caixa d'Agua" poderia ser destruído, nunca derrotado.
Não há exagero em afirmar que uma CPI poderia destruí-lo. Só ela pode tirá-lo de um cargo para o qual se reelege, ad eternum, com votos de clubes e federações fantasmas. Só ela poderá romper com o suposto esquema de manipulação de resultados através das arbitragens, preservado por ele e seus assessores. Só ela porá em xeque o enriquecimento de alguns assessores, num futebol que, além de empobrecido, se permite essa coisa absurda a que chamam de "evasão de rendas". Só ela devolverá ao futebol carioca a grandeza que começou a perder no dia em que Viana entrou em cena com sua política interiorana. Só ela, enfim, destruirá não o homem (que Deus lhe dê longa e boa vida), mas o cartola cujo desespero diante da possibilidade de uma CPI só confirma o quanto ele tem a temer.
Aliás, o temor é geral. Paulo Mello, um dos deputados que votaria pela CPI, contou que um emissário de Viana o procurou com um pedido de apoio, com o seguinte argumento: "Todos nós sabemos que as arbitragens são manipuladas no futebol do Rio, mas convenhamos que foi sempre a nosso favor (do futebol do interior)". Mello é de Saquarema e o emissário de uma cidadezinha próxima. Lembrou-se na ocasião um jogo recente entre Saquarema e Mesquita, que o primeiro vencia por 2 a 1. Aos 27min do segundo tempo, alegando falta de segurança no estádio do primeiro, o árbitro suspendeu o jogo. Tudo para que o TJD da Federação considerasse o Mesquita vencedor por 1 a 0. É ou não é caso de inquérito?
Bem, na medida em que essas linhas começam a soar editorialescas, mudo de rumo. De mau humor a crônica esportiva anda prenhe. Retiro apenas a pena que senti do Viana e digo que fechamos o ano com a esperança de que, afinal, a caixa fure.
*
Falando em humor, um registro: ao incluir, aqui na Folha, Sérgio Porto, o Stanislaw Ponte Preta, entre os 18 torcedores do Botafogo, meu amigo Ruy Castro fez o nosso Lalau espernear em sua tumba. Sérgio não só era Fluminense roxo, ou melhor, tricolor, como tinha um sádico prazer em gozar botafoguenses seus amigos como o tio Lúcio Rangel, Vinicius de Moraes, Paulo Mendes Campos e João Saldanha. Uma definição sua: "Botafoguense é todo aquele que não tem coragem de ser Flamengo nem classe para ser Fluminense".
Excepcionalmente não publicamos hoje artigo de Matinas Suzuki Jr.

Texto Anterior: Evair pode ir para o Japão; Campeão quer adiar primeiros jogos; Fito Neves reintegra Vladimir e Sinval; Time contrata goleiro argentino; Luisinho volta para o Vasco da Gama
Próximo Texto: Tenistas têm ódio do "juiz eletrônico"
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.