São Paulo, domingo, 2 de janeiro de 1994
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Antes do Carnaval, a URV

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O cenário mais provável neste início de 1994 é o seguinte: o Congresso vai aprovar algum ajuste fiscal (corte de gastos e aumento de impostos), dando ao ministro Fernando Henrique Cardoso a possibilidade de pelo menos continuar lutando pelo déficit zero.
Isto e mais a alta da inflação em dezembro e janeiro tornam praticamente obrigatória a passagem para a segunda fase do Plano FHC, a introdução da URV como indexador dolarizado. E, com isto, já estamos em fevereiro, mas antes do Carnaval.
Daí em diante o cenário torna-se cada vez mais confuso. Primeiro, porque as etapas seguintes do plano não estão claras. Há pontos essenciais em aberto, como a conversão do salário mínimo e do salário do funcionalismo para a URV.
Dizem membros da equipe econômica que será pela média. Mas, o Congresso toparia? E mesmo sendo pela média, qual salário será considerado? O declarado no início do mês ou o efetivamente recebido no final do mês? Trata-se aí de uma diferença de 40%.
Ou por tática ou porque ainda não resolveram mesmo, os membros da equipe econômica estão deixando muitos pontos em aberto. É assim muito difícil avaliar as chances políticas de andamento do programa. Até aqui, a equipe econômica está pedindo o ajuste fiscal para sustentar um plano que ainda não se sabe bem como andará.
E, finalmente, tem a variável Fernando Henrique. A maioria das pessoas acha que ele deixará o governo em 2 de abril para ser candidato ou a presidente ou a senador. Mas ele pode ser obrigado a permanecer no ministério e desistir de qualquer candidatura. Isto acontecerá se, na data da desincompatibilização, sua eventual saída parecesse um impatriótico abandono de função.
Candidato, ele seria atacado por ter abandonado o posto, em nome de interesses pessoais, num momento difícil para o país. Formada esta situação, FHC estaria prisioneiro de seu próprio plano, sendo constrangido a permanecer no governo. Restaria para ele ser um bom eleitor, o plano prosperando.
Mas também é possível que FHC consiga ser um bom candidato a presidente. Para isto, precisa encaminhar bem o plano e fazer seu sucessor na Fazenda, duas coisas difíceis.
Em resumo, vamos até a URV como indexador. Daí para a frente, o jogo está aberto.

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