São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Colômbia se inspira no Milan para ganhar Copa

SÍLVIO LANCELLOTTI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

No dia 23/06/90, à saída do estádio de San Paolo, em Nápoles, Francisco Maturana, o treinador da Colômbia, viu-se cercado por furiosos jornalistas e de torcedores. A Colômbia perdera para Camarões, 1 x 2, nas oitavas-de-final da Copa da Itália. Culpa do arqueiro René Higuita que, na prorrogação, amalucadamente, entregara uma pelota dominada a Roger Milla, de Camarões. Maturana não culpou seu goleiro: "Tivesse driblado Milla, vocês o considerariam genial."
Quatro anos depois, a seleção da Colômbia se aproxima de uma nova Copa, mais experiente, amadurecida –e unida– do que em 1990. A atitude de Maturana impediu que o elenco se esfacelasse. A Colômbia não passou da quarta colocação na Copa América de 91, do 3.º lugar em 93. Dominou, porém, sua chave nas eliminatórias dos EUA-94: quebrou uma série de 33 pelejas invictas da Argentina, 2 x 1 em Bogotá, e dilapidou a mesma Argentina em Buenos Aires, 5 x 0.
Qual o segredo do sucesso? Primeiro, Maturana, paciente na psicologia, rigoroso nos treinos físicos e táticos. Liberal na aparência, capaz de se desmoralizar para não depreciar um jogador, na intimidade das concentrações, age como um ditador. Por indisciplina, já congelou promessas como Albéiro Uzuriaga e Tino Asprilla e até seu indispensável mastim de meio-campo, Leonel Alvarez.
A maioria dos atletas de Maturana provém do Nacional de Medellín, clube que o mister conduziu ao título da Libertadores da América em 89. O seu estilo é inspirado no Milan de Arrigo Sacchi, de quem só perdeu a Toyota Cup daquele ano no fim da prorrogação. Maturana adora a pressão na retaguarda, graças ao fôlego dos seus laterais, Luís Herrera e Wílson Perez, e dos volantes Alvarez e Alexis Garcia. A italiana, no meio da retaguarda a Colômbia usa um stopper, o fogoso Alexis Mendoza, e um líbero, o principesco Luís Carlos Perea.
Na armação de lances, Carlos "El Pibe" Valderrama representa o paradoxo das escalações de Maturana. De pernas curtas em relação ao tronco, Valderrama sugere preguiça e lentidão. Nos passes, exagera na precisão e sugere uma categoria ainda não cristalizada.
Cercam Valderrama, à frente, avantes imprevisíveis no temperamento e na disposição em campo. O técnico pode escolher entre Asprilla, Johnny Lozano, Jairo Tréllez, Tony Avila, Ivan Valenciano, Víctor Hugo Aristizábal, Freddy Rincón e Adolfo "El Tren" Valencia. O mister, aliás, reveza os seus fustigadores, de maneira a não deixar ninguém insatisfeito. Resta a questão inevitável: dentro desse cenário, quais as chances da Colômbia na Copa?
Na chave A, dos rudes anfitriões, da vistosa Romênia e da sólida Suíça, a Colômbia batalhará pelo primeiro posto. Romênia e Suíça disputarão as vagas de números dois e três. Nas oitavas-de-final, caberá a seleção de Maturana enfrentar um inimigo mais fraco –entre Bolívia, Nigéria e Marrocos. Só nas quartas-de-final o nível dos combates se exacerbará, Bélgica ou Holanda. Enfim, o trajeto este ano parece mais confortável do que na Itália-90. Desde que Higuita não se suicide...

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