São Paulo, terça-feira, 4 de janeiro de 1994
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Ensaio mescla achados e trapalhadas

LUÍS ANTÔNIO GIRON
DA REPORTAGEM LOCAL

A maior virtude do livro "Caetano. Por que não?" é tentar forjar uma explicação abrangente da poética de Caetano Veloso. Os autores chegam a achados curiosos que superam o nível de "achismo" da crítica musical militante. Produzem conceitos.
O calo do ensaio está na confusão da análise, presa a um referencial teórico pós-estruturalista. Todas as observações tendem a chegar a constatações idênticas. A falta de clareza torna difícil a leitura.
Pessoa
Vale a pena se deter na interpretação do disco "Tropicália 2" (1993), de Caetano e Gil. Ivo e Gilda chegam a resultados surpreendentes. Constatam que o disco tem sua estrutura extraída do poema "Mensagem", do Fernando Pessoa. As três divisões do poema –"O Brasão", "Os Castelos" e "Mar Português"– servem como bússola do CD.
Outra tirada divertida, por mais pseudo-psicanalista que pareça, é a idéia alimentada pelo casal de que Caetano, feito um Mabuse da canção, cria uma imagem pública para esconder a própria personalidade fissurada.
Mostruário
Mas embasar a poética do músico em Friedrich Nietzsche soa a reducionismo. O filósofo se converteu ultimamente num broche pós-moderninho que serve em qualquer contemporâneo. E Caetano Veloso calha à caricatura de transgressivo.
Sua obra vira um mostruário de termos da psicanálise, teoria da comunicação e análise literária. Os autores entronizam indistintamente canções como a definitiva "Qualquer Coisa" e a frívola "Neide Candolina". Sai-se do livro com a impressão de que o filósofo Nietzsche foi o real autor de "Eu Sou Neguinha?". O demônio da analogia se une à síndrome do tiete e Caetano Veloso vira o ponto ômega da filosofia alemã. (Luís Antônio Giron)

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